Um bom esconderijo

- Pai, tenho uma noticia muito boa pra te falar.

- Uhmm... – o pai deixou a televisão no mudo e olhou atentamente para a filha – Pois então diga!

- Agora que eu terminei a faculdade, eu arrumei um emprego!

- Nossa Sandra, que ótimo! Onde é?

- Ai tem um probleminha, agora que eu terminei a faculdade, consegui um emprego numa fábrica... em Manaus.

- O que? Você vai trabalha no amazonas?

- É, é uma cidade linda, cercada pela Amazônia, estão pagando muito bem lá!

- Olha, se você quer deixar o conforto de sua casa aqui em São Paulo, e deixar seu pai aqui sozinho, pode ir.

- Ah pai, não fala assim, ia ser ótimo pra mim, é uma fábrica nova que abriu lá, como é nova tenho chances de crescer muito junto com ela!

- Estava brincando filha, se é o que você quer, pode ir, mas, você não vai sozinha, vai?

- Não, a Lucia vai comigo, a mãe dela já deixou, nós vamos semana que vem então! E te amo muito pai – ela disse enquanto dava um abraço muito apertado em seu pai.

Marcos, o pai de Sandra ficou pensando no novo emprego da filha, uma enorme sensação ruim tomou conta dele, mas ele preferiu não falar nada.

Aquela semana foi muito movimentada: uma correria danada pra arrumar as malas, arrumar os documentos, comprar passagem, Sandra foi pegar sua carteira de trabalho que já estava pronta e todos os pra preparativos para um viagem longa.

O tão esperado dia chegou, ela estava esperando para embarcar no avião, seu pai estava sentado a seu lado meio apreensivo.

A chamada foi feita.

- Tem certeza que você quer ir?

- Claro pai, por que não?

- Não, nada filha, vai com Deus!

Eles se despediram, ela embarcou e ele voltou para o seu apartamento.

Duas semanas se passaram, mas ele não teve nenhuma noticia da filha, nenhuma ligação, carta, mensagem no celular, nada. Marcos já estava desesperado por alguma noticia da filha, será que tinha morrido? Seqüestro?

Na terceira semana ele não aquentou mais, comprou uma passagem para Manaus e levou apenas coisas básicas na mala.

- Então policial, minha filha veio trabalhar aqui na AllBlue, acessórios para computadores, veio há 3 semanas e desde então não consegui falar mais com ela!

- Só um momento senhor – o policial digitou alguma coisa no computador – Essa empresa não existe!

- Como não?

- Não há nenhum registro dela aqui.

- Uhmm... Muito obrigado policial, se eu precisar eu volto aqui.

Marcos já sabia o fazer, foi direto para o aeroporto da cidade, contou para o diretor do aeroporto o ocorrido, o homem, não muito velho, mas bastante careca, se sensibilizou com a situação e o desespero eminente nos olhos do coitado.

- Venha aqui, acho que posso lhe ajudar.

O diretor do aeroporto o levou a uma sala ampla com muitos monitores sobrepostos e justapostos, neles eram exibidas imagens em tempo real de tudo o que estava acontecendo em todos os lugares do aeroporto. A sala estava com uma das quatro paredes com monitores de segurança do teto até a altura da cintura onde se encontrava uma bancada larga entulhada de equipamentos eletrônicos e papeis. A parede logo atrás era de vidro com a porta bem no centro, e do outro lado da porta tinha um corredor muito bem iluminado e movimentado.

- Olha cara, você não deveria estar aqui, aqui é a central de monitoramento do aeroporto, mas como vejo, você está desesperado para encontrar sua filha. Agora, me diz que dia ela chegou aqui?

- 27 de maio, lá pelas 18:00 horas, o mesmo dia que ela siu de são Paulo.

- Muito bem, espere aqui um momento.

O homem entrou na sala e falou com um dos três homens que faziam o monitoramento, disse algumas frases e voltou.

- Olha, espere ali trinta minutos que ele vai pegar as imagens do momento e vai gravar em um Pendrive para você. Mas, eu estava pensando, você já avisou a policia sobre isso?

- Já, claro, mas eles disseram que iam investigar mas até agora nada. – eles conversavam indo em direção a um banco logo adiante da central de monitoramento – Sabe, em são Paulo há tantos crimes que você precisa entra na fila para ser “atendido”, então eu resolvi vir para cá, investigar por conta própria.

- Eu tinha uma filha também, ela foi seqüestrada e morta, mas como eu era um pé rapado, ninguém deu bola.

- Nossa, deve ser duro perder uma filha.

- Realmente, depois do acontecido minha mulher entrou em depressão, morreu há oito anos.

- Sinto muito – disse Marcos pensando na dor daquele homem, ele também tinha perdia a esposa, há viste e cinco anos, no parto de sua filha, desde então eram apenas ele e a filha, a coisa que mais amava no mundo.

- Então marcos, estou decidido a ajudar você nessa investigação, não quero que você perca sua filha, não quero que mais ninguém sinta essa dor, é horrível!

- Meu Deus, eu não sei como lhe agradecer, mas muito obrigado eu posso lhe dizer.

O Pendrive tinha chego com os vídeos de todas as câmeras do aeroporto na data e horário informados, Marcos acompanhou Fernando, o diretor do aeroporto, até seu escritório. Ao chegarem, Fernando plugou o objeto ao seu laptop e iniciou o vídeo obtido pelo operador.

- Ai, pára! É ela, minha filha e a amiga dela, eu prometi para a mãe da amiga dela que ia achá-las, ela disse que ia ficar lá pra tentar adiantar as investigações.

- Muito bem, vou deixar em câmera lenta para vermos tudo.

No vídeo Sandra e a amiga saíram do aeroporto com mais três pessoas que aparentemente iam trabalhar junto com ela, os cinco se encontraram com um homem alto e robusto vestido de preto. Fernando abriu o vídeo de outra câmera que estava do lado de fora do aeroporto, eles entraram numa Van branca e saíram, Fernando aproximou a câmera ao máximo e anotou a placa do veiculo.

- Eu tenho uns contados aqui que podem me informar de onde o carro veio, para nós descobrirmos para onde ir.

- OK.

Uma hora depois os dois estavam indo para Manacapuru, município vizinho a Manaus. Eles estavam a uns cem metros da ponte da Rodovia AM 070 sobre o Rio Manacapuru quando Marcos pediu para Fernando parar seu Vectra preto, ele encostou o carro e marcos pegou seu Nokia N95 acessou o GPS e tentou localizar o celular da amiga da filha, que era o mesmo modelo. Após digitar alguns números disse:

- Acho que achei elas!

O Vectra deu meia volta e voltou cerca de um quilômetro, os dois saíram do carro e se embrenharam num matagal a beira da estrada. Guiado pelo seu GPS, Marcos e Fernando andaram uns setecentos metros.

- Shss! – disse Marcos com o dedo na boca fazendo sinal de silencio, e ligeiramente agachado – se abaixa, fica em silencio e vem aqui devagar.

Era difícil andar sem fazer barulho numa mata cheia de galhos e folhar caídos ao chão.

- Ta vendo aquele monte de barraca branca lá no meio daquela pequena clareira? Então, é lá que está o celular da amiga da minha filha, provavelmente elas estão lá também!

- Bem pensado, vamos lá!

- Ei, pára! Você ta maluco? Olha os seguranças lá! Temos que ficar aqui, descobrir o que é esse lugar e ligar para a policia.

- OK... – Fernando olhou para as quatro tendas dispostas lado a lado na pequena clareira da floresta amazônica – Olha lá – disse ele apontando para um homem que acabou de sair de uma das tendas, era alto como o cara que viram no aeroporto, estava com um terno preto e segurava uma caixa de médio tamanho azul com a tampa, fundo e alças brancas, nela tinha um papel colado bem no centro com alguma coisa escrita, e podia-se observar uma pequena fumaçinha saído pelas frestas da tampa da caixa.

- O que é aquilo?

- Não faço idéia!

- Vamos lá?

- Não, veja! O que é aquilo? – eles olhavam um saco preto bem grande que era carregado por dois homens. Eles andavam com dificuldade, parecia que o saco era bem pesado. De repente marcos vê um pé saindo pela ponta do saco todo ensangüentado, os homens pegaram o saco e jogaram num buraco recentemente cavado, e começaram a jogar terra em cima dele.

- Você viu aquilo Fernando? Era um corpo! Vamos ligar para a policia agora! - Enquanto os dois voltavam para o carro extremamente assustados, Marcos pegou seu celular e ligou para a policia de Manacapuru, ela avisou a policia de Manaus que por sua vez Alertou a policia de São Paulo. Eles foram para a casa de Fernando e avisaram isso para a policia de São Paulo. Horas depois a policia de Manaus e São Paulo foram a casa de Fernando, eles mostraram à policia a localização do macabro lugar.

- Venham aqui – chamou o delegado Eduardo na delegacia de Manaus – muito bom trabalho rapazes!

- Obrigado senhor delegado, mas agora diz, o que era aquilo e onde está minha filha?

- Naquele lugar achamos um cemitério com mais de oito corpos, em uma das barracas existia um cativeiro. Ali era um esconderijo perfeito, no meio da mata! Aquilo era uma central de tráfico de órgãos, eles enganavam pessoa com ofertas de emprego falsas e as atraiam para Manaus onde as pegavam e traziam para cá. Achamos dezenas de caixas contendo órgão de pessoas que foram atraídas por eles. Eles exportavam os órgão para uma pequena cidade da Colômbia onde o mercado negro é gigante. É terrível o que aconteceu lá, a imprensa já esta lá no local, vocês vão ficar famosos!

- Ta, ta, mas onde esta a minha filha?!

- Só havia dois reféns, um rapaz e uma moça, eles estão traumatizados, o nome dele é Mateus de Alcântara e ela Vitória Alves da Silva.

- Não tinha nenhuma Sandra? – Disse o pai desesperado.

- Infelizmente não, se você quiser fazer o reconhecimento dos corpos encontrados enterrados é só falar.

Marcos caiu de joelhos no chão soltando um grito desesperado de dor. Ela nunca mais voltaria.

Lucas Schroeder

PS: Acabou de sai do forno, aproveitem e comentem!

Lucas Schroeder
Enviado por Lucas Schroeder em 19/10/2008
Reeditado em 19/10/2008
Código do texto: T1236859
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