Pirata
- Caramba – Exclamou Joel quando seu antigo despertador exerceu sua função as 06h30min.
Mais um dia começou no casebre de madeira, mal organizado. Estava no complexo do Alemão, uma favela bem grande por sinal. Não morava melhor nem pior do que ninguém. Era baixinho, careca, negro, pobre, sem escolaridade, sem pais desde cedo. Tinha tudo pra ser um criminoso, e era. Mas não aqueles que assaltam, matam etc. Mas ele roubava de uma forma comum, ele pirateava.
Logo após acordar, foi direto para seu computador.
- Isso! – disse ele com satisfação. Através da rede P2P de compartilhamento de arquivos pirateados, Joel tinha acabado de completar o download de um famoso software (de edição de imagens), na sua mais recente versão, “Virtual3D Pix 7.32”. Já tinha feito a capa do DVD anteriormente, pois contava muito com isso. Gravou o programa, colocou-o na capa, pegou o restando dos filmes e programas piratas e foi para o seu ponto começar a vender ilegalmente.
“BAAMMM!”. Às 16h47min ouviu-se um estampido seco que veio do cano de uma pistola de modelo ultrapassado. O assassino jogou a arma no chão e saio correndo. Alvoroço é a palavra certa para descrever o que ocorreu a seguir.
A policia logo chegou ao local e deparou-se com um ambulante baixinho caído no chão, e uma marca de tiro bem no meio da testa, de onde escorria um pouco de sangue.
- OK, repassando os dados – disse Marília, uma jovem policial, morena, alta, com porte de modelo. Ela mais um policial estavam na sala de investigação da Policia Militar – Joel Elano Pereira, 32 anos, ambulante, morava sozinho, assassinado dia 23 de abril de 2005, um tiro na cabeça, a arma é uma Five-Seven, sem impressão digital. É só.
- Suspeito – disse Thiago, um policial jovem, alto e robusto.
- Nenhum em potencial. Sem histórico de brigas, não tinha concorrente de vendas por perto e era solteiro.
- Ai complica... Voltemos às provas.
- Tem algumas imagens do circuito de segurança da loja bem enfrente ao acontecimento – Marília pegou uma fita VHF e colocou-a no aparelho de leitura. Em poucos instantes começou a rodar.
- Esse aqui parado em frente a um pano estirado no chão com um monte de DVD pirata, é a vitima. – disse Marília.
Ela adiantou um pouco a fita, logo se viu um homem encapuzado aparecer repentinamente. Joel fica assuntado, o homem pega um dos DVDs olha com atenção, joga de volta na pilha de DVDs e da um tiro na cabeça da vitima e sai correndo na mesma direção que veio. Em seguida era uma confusão total.
- OK – disse Thiago – temos novos indícios, vamos voltar lá e perguntar as testemunhas mais alguma coisa.
Tinham acabado de chegar, mas precisavam voltar à cena do crime. Ao chegarem, recolheram os DVDs com o maior cuidado, e pegaram também algumas testemunhas.
Enquanto Thiago entrevistava as testemunhas, Marília acompanhava a pericia das provas.
- Parece que esse é o DVD que o assassino pegou – disse Marília – examine as impressões digitais. Eu só vou conferir o sangue encontrado no local, nada de mais.
Horas depois Marília já tinha os resultados e Thiago já tinha os depoimentos, voltaram a se encontrar na sala de Marília.
- O que você achou? – indagou Thiago.
- Bom, achei o DVD que o assassino pegou antes de matar o ambulante, havia apenas duas impressões digitais, uma do... – Ela se aproximou da folha em cima de sua mesa, de forma que pudesse ler -... Joel, e outra de um tal de Nelson, um assassino de aluguel bem sucedido, esse cara tem uma ficha gigante na policia. É acusado de mais de 15 assassinatos, mais ninguém nunca conseguiu pegar ele, porque ele não deixa pistas de onde está, nem pra onde fugiu.
- Mas então agora pode ser a hora de pegar ele. Uma das testemunhas disse que viu ele fugir, saiu correndo uns 150 metros e entro numa Van. A testemunha tirou uma foto da placa do veiculo, é aqui de São Paulo – Thiago pegou um conjunto de folhas em cima da mesa se afastou com um passo, estendeu o braço. - E pertence à America’s Desenvelopment of Software Inc. – disse ele lendo uma das paginas - uma companhia de desenvolvimento de software de médio porte, famosa por um programa em especial, a série “Virtual3D Pix”. Um programa de edição e criação de imagens 3D. Teve sua ultima edição lançada oficialmente a dois dias.
- Ei, espera ai! Esse tal de “Virtual qualquer coisa” é o programa que o assassino olhou antes de atirar contra o ambulante.
- OK, precisamos investigar isso, onde fica a sede dessa empresa?
Vinte e seis minutos depois Marília e Thiago estavam na sede da “America’s Desenvelopment of Software Inc.” logo na entrada viram uma van branca com a placa coberta por um pano.
- Alô. Marília falando – Marília acabou de atender o celular.
- Acabei de receber mais informações.
- Diga logo Marcio – ela já o identificara pela voz.
- Houve mais cinco homicídios contra ambulantes em todo o Brasil. Todos ocorreram da mesma forma que o caso de vocês.
- A ta, obrigado Marcio – ela desliga o celular e olha pra Thiago.
- Já escutei. Mais uma pista.
- Meu Deus, olha lá. Não é o Nelson saindo lá?
- É igual a foto – disse Thiago apressado. Ele brecou o carro rapidamente, saiu do carro e correu o mais rápido que pode , deixando Marília para trás. Enquanto isso o suspeito observou e saiu correndo tentando fugir. Poucos metros depois o suspeito tropeça numa pedra. Tentou levantar mais foi paralisado por Thiago.
- Eu falo tudo, se prometerem que isso vai diminuir minha pena, tenho diversos nomes para denunciar, afinal não sou pago para omitir informações – Negociava Nelson sobre a pressão dos dois policiais dentro daquele pequeno e mal iluminado confessionário.
Algumas horas depois já tinham conseguido uma lista com 16 nomes de pessoas que contrataram seus serviços de assassino de aluguel.
- Então, resumindo seu delegado – relatava Marília para o delegado após terminarem o interrogatório e concluírem o caso – a “America’s Desenvelopment of Software Inc.” pagou pelo serviço do Nelson para matar o Ambulante, pois ele tinha pirateado o seu mais recente programa, “Virtual3D Pix 7.32”, e estava vendendo, a empresa contratou um Hacker pra descobrir quem tivesse com o programa no computador. Acreditamos que isso ocorreu também com os outros cinco ambulantes assassinados hoje.
Lucas Schroeder