A Fonte

Era aparentemente mais um dia normal para o policial do COE (Companhia de Operações Especiais) Marcos Cunha. Novamente acordou lá pelas 6hs, só, três anos depois de ter perdido sua esposa num acidente de carro, tomou café e foi de bicicleta até a sede do COE no Rio de Janeiro.

Como sempre, deixou suas coisas no armário, e se dirigiu ao centro de treinamento.

O galpão antigo apresentava teias de aranha em todos os quatro cantos. O foco quebrado no teto dava um ar sombrio ao lugar, apesar de ter várias janelas bem claras.

Seus colegas já iam se alongando e aquecendo quando Marcos chegou, e também o fez. Passaram-se uns 20 minutos e todos começaram a achar estranho que o tenente ainda não tivesse vindo, sempre tão pontual...

- Ele estava aqui, ainda hoje, eu vi ele chegando, disse que ia trocar de roupa e já voltava, até agora não voltou! Disse Roberto, um colega de trabalho de Marcos. Marcos achou estranho e alguns instantes foi procurá-lo.

Entrou no vestuário e viu a mão de José, seu tenente, por baixo da porta do banheiro. Marcos, assustado, saiu correndo em sua direção, escancarou rapidamente a porta e viu José caído no chão de bruços com o rosto virado para cima. Seus olhos ainda estavam vermelhos e arregalados e seu corpo morno indicando que ele tinha morrido a menos de uma hora.

Marcos não conseguia acreditar, José era um de seus melhores amigos, agora estava ali, morto jogado daquele jeito. A vida fugira de seus olhos, porém eles ainda estavam abertos olhando distantemente para o teto.

Marcos ainda estava assustado, preferiu não fechar os olhos de seu amigo, para não mexer na cena do crime, saiu correndo para o centro de treinamento gritando por socorro, Roberto olhou para Marcos sem entender. Marcos falou sobre o ocorrido e todos foram correndo para o vestuário masculino. Quando chegaram todos ficaram horrorizados.

Ricardo ligou para o setor de investigação criminal do Rio de Janeiro, avisando o ocorrido. Meia hora depois três viaturas chegaram na cena do crime para fazer a investigação. Havia poucas pistas, pediram para que ninguém saísse do local do crime. As viaturas voltaram para a central e pediram especialistas em investigação criminal.

Antes que a imprensa suspeitasse de algo e que as outras viaturas chegassem, Marcos adentrou novamente na cena do crime. Com pena de José fechou seus olhos e despediu-se tristemente do amigo. Quando viu um pedaço de papel saindo do seu bolso. Marcos olhou ao redor confirmando para ver se ninguém estava olhando, retirou o bilhete e o leu.

“Isto é que dá não pagar suas dívidas. Assinado: Sem Nome.”

Marcos surpreso guardou o bilhete no bolso e aguardou as investigações. Pediram para que ele prestasse depoimento e aguardou no pátio o resto do dia para ser liberado. Não conseguia pensar em outra coisa a não ser no bilhete que havia encontrado no bolso do amigo.

Quando chegou em casa o silêncio o fez companhia em seus pensamentos. Pegou o bilhete e o celular de José que também tinha pego da cena do crime e refletiu sobre o conteúdo do bilhete até altas horas.

Enquanto isso, varias vezes pegou o celular do amigo e verificou as chamadas. Não era difícil notar, que nas ultimas 72 horas havia varias chamadas de um tal Sandro Naz. Marcos ficou muito curioso. Ele sabia que José se metia em algumas encrencas, e bem que notara que nos últimos dias falava sem parar no celular, mas será que isso tinha alguma relação com sua morte?

No pouco que dormiu naquela noite, não conseguiu descansar nada, se revirou pra cá e pra lá sem parar.

De manhã cedo, quando tomava café, observou novamente o bilhete e sem saber por que olhou novamente o celular. Notou uma semelhança. Não soube na hora se era uma coincidência, ou havia de fato uma ligação. A assinatura sem “Sem Nome” tinha como inicias S.N., assim como “Silvio Naz”.

Com o conhecimento do fato, saiu imediatamente da mesa e pegou um ônibus, para chegar mais rápido, e foi direto para a Sede de Investigação Criminal. Marcos tinha seus contatos naquele lugar, portanto foi direto para a sala de uma antiga amiga, Edilene.

- Oi Edilene, quanto tempo!

- Marcos, o que faz aqui?

- Eu vim para lhe pedir um favor, urgente. Eu quero que localize para mim, um tal de “Silvio Naz”.

-OK! Só um minuto.

Em instantes Edilene já tinha localizado o endereço do sujeito, e a ficha criminal, que por sinal, era um pouco extensa.

Marcos filtrou apenas a informação que lhe importava, o endereço.

Logo chegou a central do COE, onde trabalhava, chamou Ricardo, Antonio, seu outro companheiro, e Janete, a única mulher na equipe. Explicou o que vira, e os convidou, mas do jeito que falou, mais parecia ter intimado, os colegas a ir até o tal endereço.

- Isso é loucura – disse Ricardo num tom esquisito, e se retirou.

- Acho que você tem toda razão, devemos investigar melhor isso – falou Janete olhando para o bilhete com um ar curioso.

- Então – continuou Marcos – eu estava pensando em ir até esse endereço esta noite, vocês topam?

- Sem dúvida – Antonio estava muito entusiasmado e curioso.

Após o horário acabar, os três ficaram. Vestiram novamente seus uniformes, que tinham acabado de tirar para não levantar suspeitas, e cada um pegou uma pistola e Antonio pegou uma faca extremamente afiada, provavelmente só para fazer uma leve exibição. Entraram no carro da policia, e com as sirenes desligadas foram até o endereço que marcos tinha obtido.

Era uma casa bege, no fundo do terreno, um andar apenas. Havia duas janelas com as luzes acesas. Eles pularam o portão como se fossem gatos. Se ajeitaram na frente da porta, mas como não tinham um mandato, não puderam satisfazer a vontade do afobado Antonio, de arrombar a casa.

Tocaram a campainha, e um homem gordo, quase careca, de chinelo, shorts, e camisa regata os atendeu:

- Sim – disse ele de cabeça baixa, quando a ergueu e viu os três policiais, quase deu um pulo para trás – o que vocês querem aqui?

- Fazer algumas perguntas, disse Janete, enquanto Antonio e Marcos entraram grosseiramente esbarrando no homem.

Ele fechou a porta e ficou olhando os três muito preocupado. Eles já se folgaram no sofá.

- Você está sozinho?

- Sim.

- Então, estamos aqui para lhe fazer algumas perguntas sobre José. O capitão do COE. Você sabe nos dizer alguma coisa sobre ele?

- Não – disse Silvio com a voz trêmula.

- OK, vou perguntar de novo, Você sabe alguma coisa sobre ele? – Antonio pegou sua faca e encostou no pescoço do homem. “Nós não temos um mandato, estamos ferrados por isso!”, pensou Antonio preocupado, mas ainda assim, com um esboço de sorriso na cara.

- Sei – o homem estava visivelmente morrendo de medo.

- Então nos conte, tá esperando o quê ? – Perguntou Marcos rispidamente.

- Está bem. Eu conheci ele numa festa Have. Ele estava todo chapado já. Continuamos a nos comunicar mais tarde. E começamos a fazer negócios.

- Que tipo de negócios?

- Drogas, ele me vendia drogas, e era a nossa fonte dentro do COE. Nos dizia quando e onde iriam agir e tudo mais.

- “Nossa fonte”?

- É – ele engoliu em seco olhando para a faca encostada em seu pescoço – Eu pertenço a uma quadrilha. Ele era um de nossos fornecedores.

- OK, deixa eu ver uma coisa, “era um de nossos fornecedores”? Não é mais? Como você sabe que ele está morto?

- Eu não sabia – Janete perdeu a paciência tirou a pistola e apontou para a grande careca de Silvio.

- Tá bom, tá bom. Eu mandei matar ele! Satisfeitos?

- Não, quem matou?

- Um tal de Ricardo Fonseca que eu conheci esse tempos. Acho que trabalha com José.

- Caramba! O Ricardo matou ele! – Marcos estava estupefato, como o Ricardo pode ter feito uma coisa dessas?

- OK, você está preso! Você tem o direito de permanecer calado, e tudo que disser poderá e será usado contra você no tribunal. – Janete algemou o homem, eles foram pra delegacia. Na manhã seguinte, quando chegaram ao COE deram voz de prisão para Ricardo.

É, o crime não compensa, nem a corrupção.

Lucas Schroeder

Lucas Schroeder
Enviado por Lucas Schroeder em 18/10/2008
Código do texto: T1235157
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