Joseph Lee: detetive investigativo
Joseph Lee, detetive da polícia federal, acordou cedo como de costume, tomou banho, se arrumou, escovou os dentes e penteou os cabelos. Tudo isso muito depressa, para poder tomar um café na lanchonete da esquina e chegar a tempo no trabalho. Porém, depressa o suficiente para não notar os pequenos arranhões em seu braço direito.
Pontualmente as 08h00min horas, Joseph chega ao 13º distrito da polícia federal. Logo entra no setor de investigação criminal, como sempre, um lugar pouco movimentado. Ele cumprimenta seus colegas de trabalho e vai para seu escritório onde seu assessor, Ricardo, já estava lhe esperando.
-Bom dia Ric! – colocou seu casaco na cadeira - O que temos hoje?
- Bom dia pra você também, Joseph – breve pausa enquanto Ric procura uma folha dentre tantas que segurava. Enfim achou e começou a disparar informações. Adolescente de 17 anos morto com 3 tiros a queima roupa às 3:35 da madrugada. Avenida Centenário, no beco ao lado da panificadora Pão de Ouro. O rapaz não tinha inimigos. Sem testemunhas e poucas provas, mas estamos apurando os vídeos das câmeras de segurança do local.
Lee estava sentado, concentrado. Olhava Ric com olhar distante, procurando absorver todas as informações.
- OK – disse Lee – me avise quando os vídeos estiverem prontos.
Ricardo saiu do escritório. Lee se virou para a mesa, e começou a folhear a pilha de papel a sua frente.
Já tinha visto metade da pilha. Quando observava vagamente uma folha que dizia “feminina foi estuprada às 22:45hs, neste sábado...”, notou três pequenos, porém, profundos arranhões em seu braço direito, todos um pouco separados. Tentava lembrar onde os tinha feito, quando Ric entrou depressa. Suas feições eram indefinidas, hora perecia nervoso, hora preocupado, entretanto, o que mais preocupou Lee foi sua expressão de desapontamento.
- O que foi? – perguntou Lee. Mas Ricardo não disse nada. Apenas fechou a porta e sentou-se.
Durante alguns segundo Ricardo olhou Lee fixamente em seus olhos, ele por sua vez, nada entendia.
- Onde esteve ontem à noite? – perguntou Ric. Lee percebeu que ele olhava desapontadamente algo que ele trouxe quando entrou, e que no momento descansava em seu colo.
- Por que a pergunta?
- Apenas diga onde esteve ontem à noite! – Disse Ricardo com a voz levemente alterada.
Lee o olhou fixamente por um instante, mas logo se dispersou e tentou lembrar onde esteve ontem.
Olhava com ar distante, à janela. Virou-se de repente e voltou o olhar ao seu braço arranhado. Olhava-o pensativo, quando se deparou com a estranha sensação de esquecimento. Ergueu a cabeça.
-Eu não sei. – Uma enorme sensação de curiosidade e medo o tocou – eu não me lembro...
Ricardo levantou-se sombriamente, em sua mão estava a fita do circuito de segurança da padaria. Ainda sombrio atravessou a sala e estendeu a mão para colocar a fita no vídeo cassete, empoeirado, ligou a TV e afastou-se. Pegou o controle remoto e pressionou o “Play”. Quando o fez a cena de um beco escuro e calmo tomou conta da televisão.
Pouco depois um homem de estatura média e um corpo robusto, vestindo uma capa preta, invade a cena empurrando um adolescente a sua frente. Após uma breve discussão o homem tira de dentro da capa uma pistola prateada e dispara 3 vezes contra o adolescente.
Via-se claramente o desespero e a dor do rapaz, enquanto a vida fugia de seus olhos. O homem jogou a arma, ela caiu aos pés do jovem. Ele ficou ali, parado, assistindo a morte do rapaz. Viu-se o homem esboçar um sorriso. Ele olhou para os lados, para se certificar de que ninguém o tinha visto. Olhou para cima e viu a câmera. E a câmera o viu. Era ele. Joseph Lee. Ricardo pausou a cena e abaixou a cabeça Lee olhava incrédulo para a televisão. Era ele mesmo! Mas estava diferente, com ar audacioso, maldoso.
Lee não acreditava no que via. Ele próprio. Ele que toda a sua vida lutou contra o crime. Desprezava o mal. Agora estava ali, sem entender, sem aceitar. Ric retomou o vídeo. O homem pulou tentando destruir a câmera, mas a única coisa que conseguiu foi cai no chão. Aparentemente machucou o braço e saiu correndo.
A televisão encheu-se de chuvisco. Por alguns instantes Ric e Lee ficaram calados.
Lee, que estava de cabeça baixa, a levantou.
- Quem? Quem fez isso? É alguma piada?
- Não – disse Ric olhando para a TV – isso não é uma piada.
- Então temos que descobrir quem fez isso! E por que! Quem teria motivo para fazer isso comigo?
Ricardo não se moveu
- Você não está achando que fui eu, não é? – Lee sentiu uma mistura de medo, desespero, curiosidade e desapontamento, que não soube distinguir, nem encontrou palavras para descrever – Você está desconfiando de mim??
- Não. Na verdade eu não sei o que pensar! Eu trabalho com você há 8 anos e nunca pensei que seria capaz disso. Ainda acho que não, mas eu vi, NÓS VIMOS, no vídeo, você estava lá, você matou ele!
- Não, eu não estava lá e não, eu não o matei! Só podem ter armado para mim! Não sei quem, nem o porque, mais sei que foi armação!
- Concordo, estamos analisando as impressões digitais da arma do crime, ai poderemos saber quem realmente foi.
- OK!
Ric saiu, visivelmente assustado, do escritório.
Lee ficou ali, sentado olhando os chuviscos da televisão, tentando absorver todas aquelas informações. Não se lembrava de onde estivera na noite anterior, os arranhões surgiram de repente, o Vídeo era a maior prova de que era ele mesmo que tinha tirado a vida daquele rapaz.
Mas ele nunca teria coragem de fazer algo assim, sempre lutou contra pessoas que faziam isso, e no fundo, as odiava. A única coisa que Lee podia fazer naquele momento era esperar, alguma testemunha, o laudo da pericia sobre as impressões digitais da arma, ou até mesmo uma confissão, o que era praticamente impossível.
A campainha tocou, tinha acabado o expediente. Ricardo veio á sala de Lee e o chamou para tomar um café enquanto conversavam sobre o ocorrido.
- Tudo bem, só espere um momento que eu vou pegar minhas coisas – disse Lee, pegou seu casaco e foram para a lanchonete onde ele tomava café todas as manhas.
Lee foi ao banheiro quase ao final da conversa, Ric terminou seu café e pagou a conta. Joseph saio do banheiro e passou reto de onde Ricardo estava. Ric o chamou, gritou! Mas Lee o ignorava completamente, ele sai correndo atrás de Lee, mas logo parou e saiu apenas caminhando atrás dele, esperando que Lee se cansasse logo. O que não aconteceu. 35 minutos depois Ric acha Lee desmaiado numa esquina, cinco ruas antes de sua própria casa. Ric o carrega para sua casa, retira a chave do bolso de Lee, e põe em sua cama. Na saída, apenas por curiosidade, abre o guarda roupas de Joseph. Ficou paralisado por alguns instantes. Suas cogitações se tornaram verdade. Lá dentro estava uma capa preta, idêntico ao visto no vídeo. Ricardo não acreditou no que viu, tirou o jaleco com um puxão, e com o ato, viu um pente de pistola vazio cair aos seus pés, e com receio, buscou um pano qualquer na cozinha e pegou o pente e o jaleco e foi direto para 13º distrito da policia federal.
Ao amanhecer Ric já o esperava em seu escritório, quando Lee entrou.
- Bom dia, tudo bem com você? – disse Lee enquanto colocava seu casaco no gabideiro no canto da sala.
- Não, não está tudo bem. – disse Ric extremamente ansioso e nervoso - Eu quero que você me diga, de verdade, o que você fez anteontem a noite, onde você estava?
- Eu já te disse que não sei! – disse Lee num tom preocupado – Por que você insiste nisso?
- E ontem à noite, o que você fez? – perguntou Ric
- Eu saí do trabalho e fui com você tomar um café e depois... – Lee sentiu um calafrio enquanto o sangue desceu de sua cabeça – Eu... eu... não me lembro! Não me lembro o que fiz, nem como cheguei em casa.
Ric abriu uma mala escondida atrás de si, e retirou uma pistola, um pente vazio e um jaleco.
- Reconhece algo? Disse Ric
- Sim, tudo isso fazia parte da cena do crime aquele noite.
-Pois é. Porém, a capa e o pente eu achei em sua casa ontem à noite quando fui levá-lo pra dormir. Por quê? Porque você saiu do banheiro mudado, diferente, me ignorou depois saiu correndo. O encontrei a meio quarteirão de sua casa caído no chão.
-Como?
-Isso mesmo. E trago mais noticia ruins para você: na capa foi encontrado um pequeno rasgo com um pouco de sangue, que corresponde exatamente o local do arranhão no seu braço – Lee fez cara de espanto e olhou para seu braço procurando o arranhão – É, pensa que eu não percebi? E tem outra coisa, esse pente que encontrei na sua casa é de uma Desert Eagle, por coincidência, a mesma arma que foi achada no local do crime. Portanto, sinto muito em falar isso, mas você está preso em nome da lei… tem o direito de permanecer calado e tudo o que você disser poderá e será usado contra você no tribunal. – Ric sentiu um profundo desgosto quando colocou as algemas nas mãos de Joseph Lee, seu amigo à tanto tempo.
Entretanto, havia algo errado, mesmo com todas as provas contra ele, Lee não parecia compreender o que estava acontecendo, nem Ric acreditava no que estava fazendo.
Uma semana depois, no julgamento de Lee, foi descoberto e alegado que certas vezes do dia ele não podia responder por seus próprios atos, pois sofria de um mal psicológico incomum, chamando dupla identidade. Lee foi levado para um centro de tratamento psicológico pra cumprir a pena de 7 anos por homicídio qualificado.
FIM