Segredos

Dona Joaquina ligou desesperada à polícia de Rodeio, interior de Santa Catarina. Ela tentava comunicar algo, mas não conseguia nem falar.

- Calma minha senhora, - disse o atendente da polícia local – respire fundo e fale devagar o que aconteceu.

Ela seguiu o conselho do policial:

- O padre Lauro... – ela se lamentava entre suspiros e lágrimas – está morto! Não sei direito o que aconteceu, acabei de chegar, acho que um tiro no peito, tem muito sangue aqui...

- Uhmm... Dê-me o endereço, por favor.

- A... o endereço... eu não sei, só sei que é na Igreja Matriz de São Francisco de Assis. Por favor, moço, vem rápido!

O atendente ficou curioso, pelo fato de estar em uma cidade tão pequena e pacata. Mandou dois policiais ao local.

Lucio e Pedro eram irmãos, vinham de família alemã. Lucio era o mais velho, ambos eram loiros e altos. Foram rápido à igreja, dona Joaquina estava saindo, mas vieram mais umas sete pessoas ao redor, para ver o que tinha acontecido.

- Meu Deus! – Exclamavam alguns enquanto outros murmuravam orações.

- Muito bem, ninguém sai daqui! – exclamou Pedro enquanto Lucio abria espaço e via o que tinha acontecido. – todos serão chamados para depor o que sabem e/ou o que viram. Mantenham a calma.

Como dito, todos foram para a delegacia, o corpo do padre Lauro foi levado para Joinville pra fazer a perícia.

- Delegado André – o delegado da pequena cidade de Rodeio era um homem baixinho, careca e gordo, era casado, mas não tinha filhos, nunca sonhara em entrar para a polícia, até a faculdade, quando foi para decidir sua carreira, tentou policia, passou e não demorou muito para chegar a ser delegado, pois a cidade é pequena e não havia muitos candidatos - o crime foi ontem, a perícia vai ficar pronta daqui a um mês, entretanto, temos uma pista importantíssima! – relatou Lucio.

- É mesmo – disse Pedro – segundo uma testemunha, um Gol preto sujo de barro de placa ADF- 4572 foi visto em alta velocidade indo em direção contraria a igreja.

-Uhmm... – murmurou André pensativo – a polícia rodoviária já foi alertada?

- Já delegado – disse Pedro – no mesmo dia, mas até agora não viram nenhum carro com essa placa.

- E isso quer dizer – complementou Lucio – que o assassino ainda está na cidade.

- Muito bem rapazes - falou André após um grande gole de café – o que temos que descobrir é: quem teria motivos para fazer isso.

- Bom, pelo visto, ninguém!

- Ele era um padre, quem faria isso com ele?

- OK, irei procurar nos registros o endereço do carro – informou o Delegado.

No dia seguinte o delegado André conseguiu a localização do carro, era de são Paulo capital, proprietário Miguel Soares.

- Então soldados, eu quero que descubram a localização de Miguel Soares, o proprietário do automóvel que foi visto “fugindo” do local do acidente.

- OK delegado – concordou Pedro.

- Vamos.

Os irmãos foram até Joinville, onde a imprensa já divulgara e quase esquecera o assunto, a fim de acessar o banco de dados da polícia federal.

Quando chegaram pediram permissão ao chefe do local e foram checar. Espantaram-se com o que viram: Miguel Soares morava num apartamento simples no ABC paulista, porém não morava mais, ele morreu vítima de uma facada no peito. A principal suspeita era sua namorada, que o matara por descobrir uma traição. O nome ninguém sabe já que morava sozinha e não tinha parentes, ninguém sentiu sua falta, aparentemente fugiu para um lugar qualquer com o carro do falecido namorado. A polícia esta a sua procura.

Com os fatos em mãos voltaram a Rodeio para informar o delegado de polícia.

- Está ficando complicado – comentou André – logo aqui, nunca aconteceu nada desse jeito por aqui...

- De fato senhor, - disse Lucio – mas temos que resolver – comentou com um “quê” de entusiasmo.

- Vamos procurar o carro senhor – Pedro olhou estranhado o sorriso oculto na expressão do irmão – Vamos Lucio!

- Com licença senhor!

Os dois foram avisar os outros policiais da pequena cidade. Eles e mais três foram fazer ronda na cidade em busca de algum automóvel que se encaixasse na descrição.

No outro dia, porém nada encontraram então Lucio e Pedro, os irmãos que sempre sonharam em serem policiais incentivados por aqueles filmes de ação da seção da tarde, foram até o único ferro velho do município.

- Boa tarde seu Joaquim – cumprimentou Pedro.

- Ora, ora, se não são os irmãos mais famosos de rodeio – disse o dono do ferro velho enquanto os cumprimentava. – o que os traz aqui?

- Bem seu Joaquim – começou Lucio – gostaria de saber se não chegou aqui algum...

- Ali! - Interrompeu Pedro apontando para o carro a que vieram buscar. – ali está o carro Lucio!

Ah, esse carro, me trouxeram agora a pouco.

- Quem trouxe?

- Uma mulher, disse que queria se livrar daquele carro rápido aceitou a pequena quantia que eu lhe ofereci e saiu a pé em direção a igreja, bem ali em frente – O dono do ferro velho apontou pra a igrejinha.

- Como era a mulher? – questionou Lucio.

- Morena, baixinha e de pele bem clara.

- Muito obrigado – disseram quase em coro.

Foram correndo até a igreja e lá encontraram a tal mulher, na fileira direita bem em frente ao altar. Se podia ouvir da entrada os murmúrios da mulher que rezava parecendo desesperada.

Os policias foram até ela, um de cada lado do banco, se aproximaram; ela fingiu não perceber a presença dos homens.

- O que vocês querem?

- Queremos apenas saber se você pode nos acompanhar até a delegacia, por favor. – respondeu Pedro

- Porquê? – indagou a mulher com a cara limpa, mas os olhos mais brilhantes do que o normal.

- Queremos um depoimento seu sobre o assassinato do padre Lauro.

A mulher os acompanhou até a delegacia sem parecer abalada. Quando chegou se sentou na cadeira de “visitas” do delegado André.

- Muito bem minha jovem, qual o seu nome?

- Marcela – disse bem objetiva.

- Ta legal, vamos direto ao assunto: onde você estava há 3 dias por volta das 16:40?

Ela deu um profundo suspiro.

- Na igreja.

- Muito bem, viu alguém entrando ou saindo? Viu o padre Lauro?

- Vi sim, falei com ele, depois matei e fugi.

Todos naquela pequena sala ficaram abismados, não apenas com a confissão, mas com a frieza e ao mesmo tempo lucidez, ela confessava.

- Nossa, você assume a culpa pelo assassinato do padre?

- É claro, não ouviu o que eu acabei de dizer?

- Sim, sim. Onde está a arma que você usou?

- Está dentro do pneu reserva do carro.

- OK, mas... porque tentar fugir e esconder a arma do crime, e depois se entregar assim tão facilmente?

- Por quê? Porque eu me arrependi, sei lá, as pessoas fazem isso às vezes.

- Só mais uma coisa, por que a senhora fez isso com o padre e o seu ex-namorado?

- É o seguinte, meu namorado me traiu e eu descobri então nós brigamos, ele deu as costas e atirei nele. Estava com muito medo, medo da policia me pegar, então peguei o carro dele e fugi pro sul do país onde achei essa cidade bem pacata. Fui me confessar com o padre Lauro, ele me ajudou muito e tudo mais, mas, quando estava saindo da igreja escutei os murmúrios de sua oração pedindo perdão pelo que ia fazer, mas, “teria que contar”. Ai eu pirei de vez, achei que ele ia me entregar a policia então, peguei a arma e dei um tiro bem no coração dele.

- Você está presa em nome da lei, tem o direito de permanecer calada, e tudo que disser poderá e será usado contra você no tribunal – aquele detetive sempre sonhara em dizer aquelas palavras, mas agora sentia seu peso, e saber o porquê estava as dizendo o deixava muito desconfortável – Você tem direito a um advogado, se não puder pagar um o governo lhe cederá.

A mulher foi condenada a onze anos de prisão por dois homicídios dolosos, os parentes de seu ex-namorado e os amigos do padre desejavam que estivessem nos EUA, onde provavelmente ela ganharia uns cem anos de prisão.

Lucas Schroeder

Lucas Schroeder
Enviado por Lucas Schroeder em 18/10/2008
Código do texto: T1235130
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