Memórias da morte (Conto completo)
Memórias da morte
Capítulo 1 - Primeiro dia: A festa
Eleanor
“Às vezes eu até desejo deixar de existir, ainda mais quando sou obrigada a aturar esses rapazes barulhentos incomodando minha ressaca. Já não bastava minha cabeça a ponto de explodir com tanta dor? Espero que essa onda de música barulhenta dure pouco tempo nesse prédio. Eu até que acordei conformada, afinal, aquela vodka caiu bem para esquecer a incompetência daquele tapado, mas será que esse barulho infernal acaba nunca?”
“Será possível que ele não percebeu como eu estava tão fácil ontem? A festa já estava no fim, todos estavam relaxados e acompanhados, uns bêbados, outros não, enquanto nós éramos os únicos encalhados e ele nem se manifestava. Até onde eu sei, estou muito bem, nunca deixando por desejar no que se refere a minha capacidade de atrair homens. Ah! Ele devia estar esperando que eu fizesse alguma loucura para que ele ficasse certo de que eu estava afim. Enfim, não vou sofrer por isso. Não tenho culpa se ele pode ser um depravado com problemas no que diz respeito a mulheres”.
“O almoço salvou meu início do dia. É impressionante como ela cozinha bem. Desde quando ela veio trabalhar para mim, eu nunca mais tive do que reclamar, exceto o apartamento barulhento bem acima da minha cabeça. O macarrão estava divino, de um jeito que eu nunca conseguiria fazer. Almoço perfeito, sobremesa dos deuses, tudo perfeito”.
“É engraçado como um banho de mar pode trazer os ânimos de volta. Minha ida à praia foi restauradora, só faltando o sol permanecer por mais de quinze minutos, o que impediu meu tradicional bronzeado de domingo, mas não iria adiantar muito, de qualquer forma, pois o ambiente não estava propício para queimar por inteiro, sendo que aqueles surfistas, um tanto quanto intrometidos, não permitiriam a privacidade do meu topless no canto mais isolado da praia. Com marca de biquíni é que eu não fico, afinal de contas, me incomoda ver faixas claras na minha pele”.
“Não consigo me lembrar o nome daquele vinho tinto. Na próxima vez, em que eu jantar naquele lugar, tenho que anotar o nome. Iria ser perfeito para o jantar de negócios na quinta-feira. Acho que devo me conformar com meus discos de música clássica e algumas tequilas para relaxar e dormir.”
“Não é possível! A essa hora, esses marmanjos amaldiçoados resolveram fazer esse barulho infernal! Isso eu não admito. Vou dar um fim nesses sujeitos”.
Francisco
“Eu tenho certeza de que a avisei sobre a festa do condomínio. Por que ela não veio? Nada pra mim fazia sentido. Até aquela moça que está sempre a reclamar com os garotos músicos apareceu por lá e, pra variar, encheu a cara até ficar intragável. Em certos momentos eu cheguei a suspeitar de que ela jogava olhares maldosos sobre mim, algo que não me impressiona, pois da forma como estava bêbada e o clima Dionísio que pairava na cobertura, sozinha naquele sofá ela transparecia certa excitação”.
“A preocupação é algo que vai me corroer à partir dessa manhã de domingo, isso eu posso prever. Eu deveria ter ido embora enquanto todos estavam ocupados na piscina, nos quartos ou na sala de bilhar. A visão daquela mulher na minha cama, confesso, foi algo bom de se ver, mas se o síndico descobrir o que houve depois que todos, inclusive ele próprio, foram embora da festa, envolvendo eu e sua mulher, talvez haja uma tragédia, o que só fui me dar conta enquanto me barbeava, olhando o reflexo daquelas formas proibidas na minha cama, pelo espelho, algo que me fez fechar a porta, o que não desfaz minha burrada, mas evita me afundar mais na tentação.”
“Tenho que parar com esses lanches feitos às pressas na lanchonete do prédio. Preciso me alimentar melhor, pois esse estômago está me matando, se não for dizer que aquela tentação de mulher é que quase me mata com um beijo repentino no meio da ala de alimentação. Imagina só se alguém vê? Que seria de nós se o síndico nos visse? Eu tenho a impressão de que a atendente da lanchonete nos viu. O melhor que eu tenho a fazer é evitar ao máximo aquela mulher, antes que estrague o meu relacionamento ou, na pior das hipóteses, até mesmo acabar com nossas vidas. Aquele marido dela me dá arrepios”.
“Confesso que foi hilário pegar aquela carona, até o trabalho, no carro de quem não sabe sobre a própria mulher e eu. Coitado do pobre homem. Imagino que não deva ser a primeira vez que ela o traiu, o que pode também aliviar um pouco a desconfiança sobre mim, pois se há algo que eu sei muito bem, é sobre a minha discrição. Pode ser que minha defesa esteja na culpa daquela mulher. Se, ao menos, eu souber um pouco mais sobre o histórico de adultérios desta belezinha, eu poderei adiantar meu lado agravando o dela, o que acaba desviando também a hipótese de que meu relacionamento seja ameaçado”.
“O que mais me impressionou, nessa noite, foi a audácia que essa mulher teve na piscina, ao entrar nua, de surpresa, enquanto eu relaxava tranquilamente. Confesso que ela me proporcionou uma surpresa agradável, que acabou por ser mais estimulante devido ao perigo, a adrenalina do momento em que eu sabia que alguém poderia aparecer a qualquer instante. Se a noite anterior já me proporcionou um misto de prazer e anseio tão intensos, esta foi para me mostrar que eu sou mais maluco do que eu imaginava. Eu não posso deixar isso se repetir. A minha sorte foi o barulho daquela banda do quarto andar, que desviou as atenções em outra direção”.
“Depois de relembrar os fatos desse dia, nem me atentei para o fato da polícia estacionar aqueles carros em frente ao prédio à noite. Preciso ser menos distraído, pois todo cuidado é pouco”.
Fim do primeiro dia...
Capítulo 2 – Segundo dia: O corpo na escada
Hélio
“Lembrar a face pálida de Juliana, jogada naquela escada de emergência, é algo que faz qualquer bebida se tornar amarga. A visão daquele corpo, o mesmo com que convivi tão intensamente, com aquele corte profundo no pescoço, o semblante de terror estampado na face, tudo isso me faz querer vomitar. Não perdi apenas uma amante, mas também a companhia de uma mulher formidável, que dedicava a vida unicamente a arte... À música. Qualquer coisa que faço me faz lembrar Juliana. Vejo Juliana em cada música que tocávamos. Sua face bela e contente, enquanto movia as baquetas contra a bateria, com o vigor de sua juventude, é algo insubstituível. Por que alguém faria isso?”
“Hoje choramos muito no estúdio. O ódio, a partir de agora, é algo que pairará nas nossas músicas. Nunca perdoaremos quem fez isso. A justiça tem que ser feita”.
“O fato de aturar o olhar de desprezo daquela moradora do prédio, justo nesta tarde, no dia seguinte a tragédia, só intensifica minha tristeza, que mais parece fúria. Será possível que aquela mulher desprezível não consegue ao menos fingir não nos odiar, nem que seja por respeito ao nosso luto? Afinal de contas, ontem a noite nós paramos de tocar e ainda nos desculpamos pelo barulho, mesmo com a forma exaltada com que ela veio reclamar, nos insultando e gritando. Mal sabíamos que estaríamos a tão pouco de nunca mais ter a Ju entre nós. Se eu soubesse, teria incentivado o ensaio ao máximo e nunca teria deixado que ela fosse a garagem. Maldita foi a hora em que ela quebrou a baqueta. Infeliz foi o fato de ter deixado a baqueta reserva no carro. Se ao menos houvesse como voltar no tempo...”.
“O pior momento de hoje foi voltar à casa do Guga. Ver a bateria sem ninguém sentada à ela foi uma tortura. Que falta fará Juliana!”.
“Agora só resta, a mim, chorar enquanto não descubro o desgraçado que fez isso”.
Sr. Rodrigo
“Que dia agitado! Essa morte afetou muito a rotina do prédio. Nunca tive que enfrentar esse tipo de situação que, por sinal, ainda vai render muitos interrogatórios da polícia. Administrar um prédio exige muito sacrifício”.
“Coitado daquele rapaz! O músico nem conseguiu falar diante da situação. Provavelmente, ela era sua namorada, isto é, se esse povo que trabalha com música desse tipo realmente possui relacionamento, pois não duvido que ela sirva todos os componentes da banda, sexualmente falando”.
“Que diabos minha mulher fez depois da festa? Essa desculpa de ‘casa de amiga’ não me satisfaz. Nunca desconfiei de Irene, mas, dessa vez, seu sumiço foi muito estranho. Como pode uma mulher casada não comparecer a sua própria casa dessa forma? O fato de ela poder estar com outro homem me faz tremer... Se bem que não sou nenhum santo.”.
“Até que esse tal Francisco me parece ser boa gente. Durante a carona que lhe dei ontem, o moço demonstrou ter bastante cultura, apesar de falar pouco e parecer meio nervoso durante todo o percurso”.
Capítulo 3 – Terceiro dia: Quebra-cabeça
Detetive Marcos
“Fatos estranhos rondam esse prédio. Nem minha confortável poltrona me traz inspiração para uma solução, deixando o culpado no anonimato. Os três integrantes da banda em que a vítima tocava não estão fora de suspeita, mas seriam considerados os mais neutros, ao menos no que se refere aos meus instintos. A vizinha do apartamento de baixo, com seu jeito transtornado, me inspira mais suspeita, sendo ela também uma das pessoas que confirmaram o último contato visual com a vítima, ainda mais num clima tenso que, por mais patético que pareça, indica uma hostilidade aparentemente gratuita contra os músicos, incluindo a moça em questão. Temos também o tal que confessou estar com uma mulher na piscina durante toda a noite, o que, considerando quem ele diz ser a mulher, demonstra certo ‘esforço’ para manifestar, pois o fato de ele confessar tal adultério, se tratando da mulher do síndico, faz com que ele pareça confiar em mim. Se bem que esse retorno de meu pensamento já poderia ter sido planejado no depoimento.”
“O cenário estava confuso: Uma moça de, aparentemente, vinte anos, sem sinal de luta, encontrada na escada de emergência do prédio, com um corte profundo na garganta, feito com algum instrumento de corte bem apurado, podendo ser um bisturi ou coisa semelhante, mas sem nenhum cálculo aparente, como se o corte transcorresse de surpresa, por trás, rápido e impensado. Considerando a lâmina usada, dada a aparência do corte, não haveria necessidade de alguém muito forte para fazê-lo, ainda mais que o fato de ela ter sido encontrada deitada, com as costas para baixo e os pés apoiados nos degraus mais baixos, faz deduzir que, no momento em que foi degolada, ela estava descendo, o que também é indicado pelo sentido diagonal que o corte tomou, na direção do maxilar. Considerando isso, se ela estava descendo e foi pega de surpresa, a própria força natural de sua locomoção forçou a lâmina contra sua garganta, aumentando a intensidade do corte sem precisar do criminoso fazer muita força, deduzindo-se também que o agressor encontrava-se num degrau bem superior ao da vítima, explicando mais sobre a característica inclinada do corte, mas, ao mesmo tempo, não explicando a inexistência de hematomas, sendo que se ocorresse de tal maneira, a queda da vítima para trás com conseqüente choque da cabeça num degrau acabaria ocorrendo, a não ser que o agressor amortecesse a queda, o que não teria muito sentido senão evitar ruídos.”
“Já estou aqui a noite toda e ainda não vejo fatos conclusivos. Considerando um prédio de cinco andares onde o crime ocorreu no segundo, o fato de a vítima ter saído do apartamento onde estava em torno das dez horas, próximo a hora da morte, cerca de cinco minutos após a reclamação da vizinha, ocorrida na porta do apartamento onde a vítima se encontrava, somado a proximidade do horário em que a vizinha voltou para seu devido apartamento após a reclamação, tem-se indicação de que a Sra. Eleanor é minha suspeita principal, o que é agravado pela parte passional, considerando a hostilidade com que a interrogada falava sobre os músicos.”
“Enfim, quais seriam os apartamentos revistados no dia de amanhã? Todos. São nove casas para revistar. Considerando a movimentação total, registrada pelas câmeras da portaria, de quinze pessoas que não fazem parte do conjunto de moradores, faltam mais sete para interrogar.”
“O dia está quase amanhecendo, o que me dá duas horas de sono antes de voltar ao trabalho. Tenho que encontrar o culpado senão...”.
Francisco
“Essa noite vai ser longa. Não consigo tirar aquela cena da cabeça: Irene com aquele sorriso lindo, como se nada houvesse acontecido entre nós, ignorando-me na portaria do prédio e, ainda por cima, conversando com minha namorada. Impressiona-me a espontaneidade dessa mulher que, depois de três noites seguidas de adultério, não transparece a mínima culpa, pintando o cabelo e fazendo tatuagem, com bagagens de quem não volta pra casa há muito tempo.”
“Acabei experimentando um misto de saudade e alívio no dia de hoje, percebendo que não terei Irene no meu apartamento e, ao mesmo tempo, tendo a indicação de que ela não mais me surpreenderá em público.”
“Aquele detetive parece ser bem esperto, arrancando de mim todos os detalhes dessas últimas noites. Agora há pelo menos uma pessoa com conhecimento do meu curto caso com Irene, me deixando na obrigação de dizer o fim do mesmo na provável volta dele até o prédio. A única coisa que, obviamente, não direi, será o pequeno intervalo na minha “atividade extra-conjugal”, pois o que eu fiz naquela hora não diz respeito a ninguém...”
O porteiro
“Sempre é bom ser um homem cumpridor da lei. Eu tenho a certeza de que o Seu Marcos me tem como braço-direito nessa empreitada. Realmente foi absurda a forma como se deu o fim da pobre moça. Espero eu que o Seu Marcos descubra o responsável.”
“Sinto-me na obrigação de falar tudo que eu souber para o detetive, pois eu já vi naqueles filmes como eles dão valor a essas ‘coisinhas’. Amanhã tenho que mostrar o bilhete para o Seu Marcos, afinal, que mal tem olhar a caixa de correspondência quando a carta está sem envelope e, ainda por cima, sobrando para fora da correspondência, num pedaço de papel pequeno. Ele não deve me crucificar pelo feito.”
“Agora eu preciso descansar, pois amanhã será um longo dia! Vou tentar sonhar com aquela linda dona que saiu do prédio correndo e voltou toda diferente em menos de cinco minutos. O Sr. Rodrigo é um homem de sorte! Que mulher é aquela! Não custa olhar.”
Capítulo 4 – Quarto dia: A acusação.
Hélio
“Tudo procedeu como eu suspeitava. Aquela mulher sempre reclamava à toa, atrapalhando os ensaios quando, na verdade, o isolamento acústico do estúdio nem permitia mais reclamações. Só podia haver algo estranho. A única coisa que eu não imaginaria, seria o motivo que ela teria... A Ju, quando se encontrava na festa de sábado, não tinha culpa se o tal Francisco puxou assunto no momento em que a megera o desejava. Sinto-me incompleto, ainda com a dor da perda, mas foi melhor ter descoberto essa assassina, pois a justiça enxuga uma parcela das minhas lágrimas. Eu fui um idiota por não suspeitar daquela mulher. Ainda bem que contamos com um detetive que soube lidar com os fatos: a ida dela ao apartamento do Guga, justamente na hora do ensaio; o sumiço da mulher logo após a reclamação; o agravante do ciúme, diante do flerte de Francisco com a Ju, durante a festa; O bisturi encontrado em seu apartamento durante a revista e, principalmente, a hostilidade aparentemente gratuita contra nós. A imagem daquela mulher ofendendo Juliana nunca mais sairá de minha cabeça.”
O porteiro
“Não quero duvidar da habilidade do Sr. Marcos, mas me sinto na obrigação de mostrar o bilhete encontrado, mesmo ele tendo encontrado a culpada. Como cidadão correto, devo agir de maneira a informar tudo às autoridades. Apenas receio ser repreendido por ter recolhido aquele papel, mas acho que ele irá entender. Que se restabeleça a justiça!”
Francisco
“Ainda bem que tudo correu como o planejado. A prova foi posta na casa daquela mulher e ninguém suspeitou de mim. No fim, eu acabo reconhecendo que, dentro das circunstâncias, a justiça se fez plena, mas espero não sentir remorso do que fiz.”
“A Irene nunca saberá minha relação com os fatos ocorridos nessa noite de domingo e, muito menos, no exato momento em que saí da piscina. Ninguém poderá saber a respeito de meu caso com Irene nesses últimos dias.”
“Nem imaginava que minha declaração, à respeito da presença da vítima na festa, iria surtir tanto efeito. Tudo acabou se completando com as ‘atiradas’ de Eleanor contra mim, na festa de sábado, confirmadas por mim e, talvez, ‘inocentemente’, por ela também.”
Detetive Marcos
“Enfim, tudo apontou na direção de Eleanor. A arma do crime, a falta de álibi e o argumento: todos apontavam para Eleanor.”
“Como em todos os casos, certas coisas ficaram mal-contadas, como por exemplo, a presença do bisturi jogado à mostra, sobre a cama, na casa da suspeita, se ela sabia que eu estava justamente procurando provas e, ainda por cima, haviam resíduos de sangue identificados como sendo da vítima no bisturi. Os fatos foram irrefutáveis, apesar de algo me soar como incompleto.”
“Amanhã devo analisar melhor o caso, só pra raciocinar melhor a respeito. Enfim, tenho confiança na acusação, mas nunca me deixo na dúvida, apesar de eu acabar encontrando apenas mais indícios sobre a acusada em questão.”
Capítulo 5 – Quinto dia: Esclarecimentos
Irene
“Dentro das circunstâncias, a tal história com esse homem acabou me servindo. O fato de eu contar os fatos a respeito de onde fui vista no momento do crime é algo que me caiu como uma luva, pois ser acusada de assassinato, ainda mais sem merecer tal sacrilégio, seria a última coisa que eu poderia querer para mim. Tomara que o detetive mantenha sigilo sobre minha suposta infidelidade, assim como eu espero que o Francisco não tenha medo de confessar seu álibi na forma de adultério.”
Moça da lanchonete
“Eu não entendo a excentricidade desse tal detetive Marcos. Seria algo típico de sua profissão? Bem... Sei que minha informação pareceu ser algo bem importante, mas que haveria de tão importante nele saber sobre a companheira daquele morador? Até parece que é pecado ele namorar... Será que o detetive suspeita do Seu Francisco também?”
Cozinheira de Eleanor
“Que coisa horrível! Minha patroa, presa. Parece até coisa dos livros que ela tanto lê. Espero que todo esse mal-entendido se resolva, pois eu nunca desconfiaria dessa mulher. Onde já se viu? Acusar uma pessoa, injustamente, desse jeito? Apesar dos problemas com a aparente paixão repentina por algum morador, nada havia de errado com essa moça, coisa que fiz questão de deixar claro para o detetive.”
Sr. Rodrigo
“Parece-me que agora termina essa saga de depoimentos. A prisão dessa mulher pôs fim à minha preocupação. Seria um grande caos se descobrissem minha relação com a vítima. Eu espero que essa acusação acabe tirando todas as atenções sobre esse prédio e, principalmente, sobre mim.”
“O que menos gostei nesse detetive foi o atrevimento. Ele não tinha nada por saber tantas informações numa conversa despretensiosa, afinal de contas, o meu depoimento já tinha sido dado e não havia mais motivo pra tanta pergunta, ainda mais se tratando das características físicas de tanta gente. Ele já tinha visto todo mundo, o que tornava mais fácil verificar tudo por si só.”
O porteiro
“Agora posso tranqüilizar-me, pois meu trabalho foi, mais uma vez, bem feito. Entreguei o tal bilhete para o detetive e, agora, tudo está claro!”
Eleanor
“Meu mundo não poderia ser pior. Como pode quão grande desastre? Estar presa nessa cela, por um crime que não cometi. Eu os vi juntos, mas ele não ficou todo o tempo na piscina. E agora, como faço para comprovar minha inocência?”
“Espero eu, que o fato não contado antes possa me tirar deste mal. Se eu falasse antes sobre qualquer coisa a respeito, eu poderia acabar me prejudicando de qualquer modo, mas como agora não tenho o que perder, foi bom ter falado sobre o que eu vi. Apenas sinto remorso pela mulher do Sr. Rodrigo ter convivido com aquele bandido sem perceber a presença da arma do crime no mesmo recinto, logo após ele executar a pobre moça. Tudo bem que ela me incomodava muito, mas não era para tanto. Eu nunca mataria alguém! A pior coisa que fiz foi entrar na casa de Francisco naquele momento, mal sabendo que ele havia acabado de matar uma pessoa e, ainda por cima, com o tal instrumento mortal ainda à mostra na lixeira.”
“Pelo que estou percebendo, preciso remontar os fatos para sair daqui: voltei da casa dos rapazes, após intervir no barulho; desci para meu andar, conversei com a vizinha... É isso! A Marília pode me ajudar no álibi. Bem... Subi na inútil intenção de flertar com esse traste, tentando ao menos salvar minha noite, mas não sem parar na escada para fumar um cigarro; continuei subindo até seu apartamento; encontrei a porta aberta e tomei a liberdade de entrar sem bater; deparei-me com ele na cozinha; vi a mulher entrar enquanto eu me escondia atrás da porta; o ouvi comentar algo sobre comprar bebida enquanto ela saía do apartamento, comigo ainda oculta; assim que ele saiu, fui até a cozinha e vi o bisturi ensangüentado na lixeira; corri para a portaria no momento em que ele já estava no elevador. É isso mesmo: fiz muito bem em contar os fatos para o detetive.”
“O importante é que entrei na casa dele e saí sem ser vista.”
Francisco
“Essa mulher foi de um atrevimento absurdo, achando que eu não saberia que ela esteve em meu apartamento, mas foi muita sorte tê-la visto pelo vidro do elevador, correndo porta afora enquanto eu começava a descer. Ainda bem que voltei rápido o suficiente para dar o troco pela invasão.”
“Causa-me certa nostalgia lembrar da madrugada após a festa. Relembrar aquela mulher cruzando por mim da saída do terraço, enquanto eu a tinha acabado de ver com o marido, para que depois ela fosse tão direta na vontade de passar aquela noite comigo... Essas coisas fazem-me sentir como um conquistador nato. Certas coisas transportam-me para os tempos de juventude. O fato de ela voltar para a festa, depois de ter ‘deixado o marido em casa’ e, ainda por cima, com uma roupa ainda mais tentadora que a de um minuto antes, faz tudo parecer mais especial. Eu venci, naquela noite.”
Detetive Marcos
“Ó céus! Quando tudo parece resolvido, há sempre uma coisa para complicar. A declaração da acusada muda muita coisa. Tomara que eu não esteja caindo em erro quando dou ouvidos a ela. Se assim foi, da maneira como ela descreve, então tudo indica para outra pessoa, ainda mais considerando os demais depoimentos.”
“É incrível como certas pessoas demoram em se manifestar, como por exemplo, a vizinha de Eleanor, que demorou tanto para afirmar estar na presença de Eleanor, justamente no momento em que o crime ocorria, coisa que serviu de forte álibi para a suspeita, o que faz render-me ao relato de Eleanor.”
“Não posso esquecer o fator da ligação. Além do legista confirmar a morte às dez horas, um minuto após já houve o chamado para a polícia, vindo do zelador, o qual, por confirmações de todas as testemunhas, encontrava-se na recepção e estava em sua vistoria rotineira pelas escadas de emergência em seu devido horário.”
“Por mais confuso que tudo possa parecer, eu nunca poderia manter aquela mulher presa injustamente. Agora tenho um novo rumo para pesquisar e um ódio maior do assassino por ter tentado me enganar. Seja lá quem for esse bandido que, além de matar, foi capaz de me enganar, eu o pegarei e isso não tardará.”
“O porteiro foi de suma importância no dia de hoje. O fato de ter me dado o bilhete encontrado no correio de Francisco, ainda mais com declarações de aparência ameaçadora, parece indicar pontos decisivos, assim como a ausência da fita onde está o registro das imagens do circuito interno de segurança, o que é fácil de resolver...”
Capítulo 6 – Sexto dia: A solução do mistério
Sr. Rodrigo
“Eu nunca imaginei que alguém fosse desconfiar de algo. Como pode esse detetive ser tão engenhoso? Agora só me resta assumir minha culpa pelo crime e lamentar os atos de minha mulher durante esses dias.”
Detetive Marcos
“Todo criminoso deixa falhas e é através dessas falhas que eu chego até ele. Confesso que, no princípio, eu estava muito confuso em relação a solução para esse mistério, mas com tempo as coisas se montaram.”
“Foi espantosa a forma como todos reagiam durante meu falar inquisidor, quando a sala fechada evitava interrupções e fugas. A ajuda da polícia na vigia do recinto foi essencial, pressionando o culpado até a confissão.”
“Estou me sentindo um verdadeiro herói. Lá estávamos: eu, Eleanor, Francisco, Irene, o síndico Rodrigo, Hélio, o porteiro, o zelador, a empregada, moça da lanchonete chamada Maria e, enfim, a minha surpresa. Todos hostis, culpando uns aos outros com olhares, o que ajudou na minha análise inicial enquanto eu ainda não quebrava o silêncio da reunião esclarecedora. Quando liguei o gravador, tudo começou a fluir.”
A gravação
Marcos: _ Estamos aqui com o objetivo de chegar ao culpado do crime ocorrido nessa noite de domingo, às dez horas da noite, onde a jovem de dezoito anos, chamada Juliana, foi brutalmente assassinada. Para começar, quero pedir desculpas a Eleanor pelo meu irreparável engano, o qual nunca conseguirei me perdoar. Ao mesmo tempo, gostaria de agradecer a essa moradora por todas as informações cedidas, mesmo que tarde, para mim.
Eleanor: _ De qualquer forma, eu tive grande parcela de culpa no engano, pois eu tardei na minha declaração, por medo de ser mal-interpretada.
Francisco: _ Que você falou mulher? Que disse?
Marcos: _ Acalme-se! Quem fala aqui sou eu. Eu ainda não te perguntei nada. Enfim, começo mostrando esse conclusivo bilhete, encontrado na caixa de correspondências do prédio e, mais precisamente, na caixa referente ao apartamento quinhentos e vinte, onde mora o senhor Francisco. Estou certo?
Francisco: Mas...
Marcos: _ Estou certo, senhor Francisco?
Francisco: _ Sim, senhor...
Marcos: _ Muito bem. O bilhete diz “Eu sei sobre você e ela. Cuidado com onde se mete. Nada é o que parece”. Algum de vocês, que se encontram na sala, foi quem escreveu tal aviso? Ninguém vai responder? Vamos! Respondam! Foi você, Eleanor?
Eleanor: _ Não. Eu não sei sobre esse bilhete.
Marcos: _ Então, quem poderia ter escrito? Passarei o bilhete para todos. Se alguém identificar, diga-me.
Hélio: _ Eu reconheço a letra. Foi Juliana quem escreveu. Esse cara a matou!
Marcos: _ Controle-se rapaz! Eu já disse que aqui só se fala o que eu perguntar, pois do contrário eu prenderei mais alguém. Eu estou furioso. Ninguém engana um profissional como eu. Continuando... Sendo assim, Francisco!
Francisco: _ Sim?
Marcos: _ Você tomou consciência da existência dessa mensagem?
Francisco: _ Não.
Marcos: _ Tudo bem, mas o que significa essa mensagem para você? Por que está olhando para a senhora Irene? Quem quer respostas, eu ou ela?
Francisco: _ O senhor.
Marcos: _ Muito bem. Então, repetindo a pergunta, que isso significa para o senhor?
Francisco: _ Não sei...
Marcos: _ Vamos! Responda!
Francisco: _ Ela deve saber...
Irene: _ Deixe que eu diga! Não agüento mais esconder.
Marcos: _ Ah! Parece que a Irene sabe a resposta!
Irene: _ Francisco e eu tivemos um caso.
Marcos: _ Muito obrigado pela informação.
Sr. Rodrigo: _ Irene! Como você pôde?
Irene: _ Desculpe-me, meu bem, mas...
Sr. Rodrigo: _ Eu não acredito!
Marcos: _ Calem-se. Agora cheguei ao ponto onde queria. A senhora Eleanor também fez uma declaração muito reveladora. Ela contou o que viu minutos após o crime. A senhora pode nos contar?
Eleanor: _ Pois bem... Eu tinha acabado de fumar um cigarro e... Estava indo para a casa do Francisco. Quando cheguei lá...
Francisco: _ Sua desgraçada!
Marcos: _ Controle-se ou considere-se preso! Prossiga no depoimento, por favor, Eleanor.
Eleanor: _ Como eu dizia, Cheguei até o apartamento...
Marcos: _ Conte-nos o que foi fazer por lá.
Eleanor: _ Eu... Eu sempre me senti atraída pelo Francisco e acabei achando que fosse uma boa hora pra definir essa situação, então fui até ele encontrei a porta entreaberta. Entrei no apartamento sem ser notada. Francisco procurava algo na cozinha quando, de repente, chegou Irene com muita pressa, trocando duas palavras com Francisco e saindo.
Marcos: _ Pare um pouco. Francisco, esse fato procede?
Francisco: _ Sim. Eu estava com Irene na piscina, mas desci para pegar alguma bebida. Ela apareceu, mas nem dei atenção, olhei-a rapidamente e continuei procurando a minha garrafa. Falei para ela me esperar lá na piscina, onde estava enquanto eu providenciava nossa bebida. Como não achei minha garrafa de conhaque, fui até o bar térreo comprar alguma.
Marcos: _ Porque não disse isso no depoimento?
Francisco: _ Foi porque eu não queria desmanchar meu álibi...
Marcos: _ Então quer dizer que você, além de plantar a prova, inventou um álibi? Chega. Eleanor! Prossiga.
Eleanor: _ Então ele saiu do apartamento. Foi aí que eu resolvi olhar a casa, pois eu estava muito curiosa pra saber como era...
Francisco: _ Foi aí que você jogou aquela coisa no meu lixo...
Marcos: _ Senhor Francisco, acaba de receber ordem de prisão. Policial, algeme-o! Eleanor, por acaso você jogou a prova na lixeira dele?
Eleanor: _ Lógico que não...
Marcos: _ Muito bem. Prossiga.
Eleanor: _ Nesse momento, deparei-me com aquela coisa ensangüentada na lixeira...
Marcos: _ Que seria essa coisa?
Eleanor: _ Tratava-se de uma espécie de faca, num estilo cirúrgico.
Marcos: _ O mesmo tipo de arma que matou Juliana. Francisco, há alguma prova de que no momento do crime você já estava em sua casa?
Francisco: _ Não...
Marcos: _ Parece que estamos chegando ao culpado. Como se sente senhor Francisco?
Francisco: _ Inocente!
Marcos: _ Ah! É mesmo? Que bom. Vai precisar, pois segundo a vizinha da Senhora Eleanor, ela estava na porta de seu devido apartamento, bem no momento do crime, além de eu ter informações de que ela atendeu uma ligação telefônica na própria casa, bem nesse horário. Pra onde foi depois que saiu do apartamento de Francisco, Eleanor?
Eleanor: ¬_ Fui até a portaria...
Marcos: ¬_ Sim. Mesmo que isso não seja de grande influência na ação do crime, temos imagens de Eleanor na portaria, bem nesse devido horário. Logo, há razão no que ela diz, mas isso foi depois do crime e estamos preocupados com os sete minutos anteriores a isso. Inclusive, por falar em câmera, tivemos também a brilhante aparição de mais uma pessoa na portaria depois do crime, mas antes disso, quero falar um pouco mais com vocês, meus amigos. Agora falarei com você, que trabalha na lanchonete do prédio. Posso tomar seu tempo? Preciso saber se, por algum acaso, o Senhor Francisco encontrava-se acompanhado de alguém em algum dia desses...
Maria: ¬_ Sim. Ele andava com uma mulher que parecia ser namorada dele, devido aos beijos declarados.
Marcos: ¬_ Você conseguiria identificar essa mulher entre todos aqui na sala?
Maria: ¬_ Ela era um pouco parecida com a Dona Irene, mas sem a tatuagem...
Marcos: ¬_ Isso já basta. Agora falarei sobre um outro ponto vital: porque ela não reconheceu Irene? Porque a fita com as imagens da piscina sumiu? Pode me responder, senhor Francisco?
Francisco: ¬_ Oras! Sobre a fita eu não sei, mas quanto a ela não reconhecer a Senhora Irene, foi por ela estar de cabelo pintado e óculos escuros, além dela querer evitar olhar diretamente nos olhos para não ser identificada comigo, o amante.
Marcos: ¬_ Muito bem! Brilhante. Isso só prova que a traição é algo indiscutível, certo?
Francisco: ¬_ Certo...
Marcos: ¬_ Errado! Senhor Rodrigo, a quanto tempo sua mulher possui essa tatuagem definitiva nas costas, perto do ombro esquerdo?
Sr. Rodrigo: ¬_ Desde que eu a conheci ela já a possuía.
Marcos: ¬_ Então, Senhor Francisco, porque disse que ela havia se tatuado e pintado o cabelo na terça feira?
Francisco: ¬_ Porque eu não tinha reparado na tatuagem.
Marcos: ¬_ Não reparou ou ela não a tinha?
Francisco: ¬_ Não sei...
Marcos: ¬_ Não sabe? Senhor Francisco! Poupe-me dessa sua tática! Ninguém vai acreditar nesse jogo. Você ousa querer insinuar que ela estava se disfarçando?
Francisco: ¬_ Nem cogitaria isso.
Marcos: ¬_ Então, se você não sabe, eu mostro a resposta para todos! A resposta está logo ali, atrás desta porta. Ali está a surpresa que eu guardava para vocês, mas antes quero perguntar uma coisa: Senhor Rodrigo, o que fazia no momento do crime?
Sr. Rodrigo: ¬_ Eu estava em casa, tentando falar com a vadia da minha mulher.
Marcos: ¬_ Ah sim! Só com ela? Tem certeza?
Sr. Rodrigo: ¬_ Sim. Absoluta!
Marcos: ¬_ Então não me resta outra maneira, a não ser mostrar esse impresso, com as ligações efetuadas à partir de sua residência na última semana. Entre as ligações, há uma destinada ao número de Juliana Rodrigues, a nossa pobre vítima. Sr. Rodrigo, qual era o seu grau de relacionamento com a moça?
Sr. Rodrigo: ¬_ Nós éramos amantes.
Marcos: ¬_ Que bom ter poupado meu tempo falando de uma vez Sr. Rodrigo. Eu agradeço. Enfim, o senhor realmente ligou para ela um minuto antes de sua morte?
Sr. Rodrigo: ¬_ Sim. Liguei.
Marcos: ¬_ Então o senhor foi a última pessoa a falar com ela?
Sr. Rodrigo: ¬_ Fui sim, senhor.
Marcos: ¬_ O senhor foi até ela nessa hora?
Sr. Rodrigo: ¬_ Não. Permaneci em casa.
Marcos: ¬_ Justamente! É o que dizem suas ligações feitas à partir de casa, assim como a ligação feita por Francisco, justamente no momento da morte. Agora o Francisco também possui um álibi, apesar de ser idiota o suficiente para não aproveita-lo, eu apenas não disse antes para facilitar certas coisas... Se nenhum dos dois e nem Eleanor são culpados, quem seria então? A resposta virá agora. Entre, Senhora Edna.
Edna: ¬_ Olá para todos!
Francisco: ¬_ Elas são idênticas!
Maria: ¬_ Foi ela que eu vi na lanchonete. Ela é a suposta namorada do Sr. Francisco.
Porteiro: ¬_ Santo Deus! Ela não pintou o cabelo. Era apenas a irmã gêmea de Dona Irene!
Irene: ¬_ Quer dizer que foi minha irmã?
Marcos: ¬_ Longe disso... Desista, Irene! Você está presa.
Irene: ¬_ Como assim?
Marcos: ¬_ Não se faça de cínica. O Francisco foi apenas uma espécie de distração que você quis causar em mim. Ele envolveu-se com sua irmã na festa, achando ser você, levou-a para casa e assim pensou ser até agora. Por isso não havia tatuagem nem a cor de cabelo atual. No dia seguinte, enquanto Francisco e Edna, que ele pensava ser você, estavam na piscina, Juliana descia as escadas para buscar suas baquetas reservas quando o celular tocou. Era Rodrigo ligando de sua casa. No mesmo momento, você descia para a cirurgia que iria fazer na clínica onde trabalha, profissão na qual não divulgou para despistar a possibilidade da existência de um bisturi em sua mala de aparelhos médicos. Foi então que você ouviu a conversa de Juliana com seu marido, quando ela estava no telefone celular, no momento em que você descia devagar, logo atrás da vítima, sem ser notada. Furiosa com a traição de seu marido, coisa que a conversa dela no celular acabou denunciando, pegou o bisturi na mala habilmente e o pôs sobre o pescoço da vítima, numa forma de degolação eficaz que só uma pessoa conhecedora do corpo humano, como no seu caso, uma médica, saberia fazer e pôs-se a procurar uma forma de evitar a prova. Sua irmã havia avisado que viria para a festa, mas chegou atrasada, não é mesmo Edna?
Edna: ¬_ Certo.
Marcos: ¬_ Então, na primeira porta que viu, desesperada, você entrou e, por sorte, estava destrancada, mas sorte mesmo foi você entrar logo na porta de Francisco, uma sorte tão minha quanto sua, que é justamente quem estava tendo um caso com alguém que julgava ser você. Nesse momento, você ficou sem reação por ter se deparado com alguém, mas logo percebeu uma estranha naturalidade com que ele te viu, como se já estivesse a esperando, logo, relacionou esse fato a presença de sua irmã gêmea, passando-se por ela e levando apenas a garrafa do conhaque que jogaria em suas mãos, sem ele perceber, numa tentativa esquisita de disfarçar as machas de sangue. Foi então que você desceu correndo, pegando um táxi e indo até a casa de sua amiga, onde ficou por esses dias, enquanto sua irmã só aparecia na frente de Francisco, sem ele saber que não se tratava de você. Certo?
Irene: ¬_ Certo...
Edna: ¬_ Foi assim mesmo!
Marcos: ¬_ Agora me diga algo: como eu soube da presença de sua irmã gêmea? E por que você assumiu ter dormido com Francisco, mesmo sem ter feito? Simples! Uma fita sumiu do acervo da segurança. Justamente a fita que mostra Francisco saindo da piscina momentos antes da morte da vítima, enquanto sua irmã ficava por lá esperando. Por que tirar a fita? Evitar que se passe por adúltera. Por que não destruiu a fita? Ia usa-la para incriminá-lo e, ao mesmo tempo, arrumar um álibi. Pena que a fita ficou guardada no seu armário. Pena pra você. Por que eu sei de sua irmã gêmea? No mesmo momento, a fita da portaria mostra você saindo, enquanto sua irmã está ainda na piscina, esperando Francisco. Alguma negação?
Irene: ¬_ Eu confesso. Matei a moça. Mas foi por amor! Ela estava roubando meu marido...
Marcos: ¬_ Edna, muito obrigado pela sua participação e... Sem mais perguntas....
Sr. Rodrigo
“Tudo foi minha culpa. Se eu não tivesse traído minha esposa, nada disso aconteceria. Além de tudo, descobri que sou casado com uma assassina. Que seria pior: inocente adúltera ou uma assassina fiel?”
Hélio
“Foi muito bom conservar a integridade da Ju. O detetive mostrou muito respeito não falando da forma como ela descobriu que o Francisco estava com essa tal de Edna. Como a Ju soube os fatos e escreveu no bilhete, além de por quê fazer isso, são segredos que só cabem a mim.”
Francisco
“Eu ainda continuo sem saber porque liguei para Eleanor, mas isso acabou sendo minha salvação, apesar de eu querer cortar qualquer elo com ela depois disso tudo. Eu nunca imaginaria que chama-la até minha casa pudesse salvar-me da cadeia. Acho que, daqui pra frente, tenho uma nova história com alguém, já que depois disso tudo, a minha namorada me largou.”
“Essa Eleanor foi realmente uma pedra no sapato. Custava dizer que era eu ao telefone? Custava eu abrir mão do orgulho pra aceitar que eu havia a chamado? Por que o detetive não comentou a origem da ligação? Já sei... Só importa o objetivo.”
Detetive Marcos
"Nunca imaginei que o blefe da fita fosse funcionar tão bem. Eu nunca pensaria que o meu palpite fosse mais que um blefe..."
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Novamente publicado.