MORTE JOVEM, MORTE ANGUSTIANTE
Em meados do natal de 89, me vi perseguindo um bandido. Não que isso fosse estranho, afinal esse é meu segundo trabalho. Mas quando eu estava preste a agarra-lo, algo me impediu. Algo grande e envolto num vulto preto e maligno.
Meu primeiro impulso foi ataca-lo, mas logo percebi que não seria uma tarefa fácil, pois meu oponente se esquivou facilmente, continuando postado na minha frente. A lua brilhou no céu e nos iluminou e então vi quem me atacava.
--- Você? – indaguei confuso. --- O que um cara como você está fazendo aqui no Brasil? Seu lugar não é aqui! – disse nervoso.
--- Porque queria roubar o garoto? – perguntou ele sem responder as minhas perguntas com um forte sotaque.
--- Tá viajando? Eu queria era resgatar a bolsa que aquele trombadinha roubou de uma senhora no metrô... Mas você me atrapalhou. – disse por fim sarcástico.
--- Isso não é brincadeira. – retrucou seco. --- Você não deveria se arriscar...
--- Não vem não cara. – cortei. --- Você vem lá do outro lado do mundo para me passar um sermão? Sem essa, eu sei muito bem o que estou fazendo. – disse encarando-o.
--- Quem é você? – perguntou Batman, com o sotaque carregado.
--- Sou Leon do Blood on Blood. – respondi confiante.
--- Quero saber seu verdadeiro nome. – disse enigmático.
--- Nem vem cara, isso é segredo. – respondi com desdém. --- Té mais cara, vou indo...
--- Onde você vai Leon? – perguntou confuso.
--- Vou ver se consigo encontrar o trombadinha. – respondi me afastando. --- Se precisar de mim, manda o sinal... Té mais. – confiante deixei Batman para trás.
--- Teenager... – sem que eu desconfiasse ele me seguiu.
Mais tarde.
--- Mãe? – chamei, assim que cheguei em casa.
--- Filho da puta, isso são horas? Onde esteve até agora? – perguntou preocupada.
--- Sabe mãe, é que eu encontrei um velho conhecido e fiquei batendo um papo. – respondi com meias verdades.
--- Você é um grande cara de pau Leonardo. – reclamou sorrindo e eu descobri que ela não estava nervosa com o meu atraso. --- Já pra cama que amanhã você tem que acordar cedo. – mandou e eu obedeci, sem perceber que fora de casa uma figura sinistra escutava e observava tudo em silêncio.
Amanhece.
“--- Quando eu contar pro pessoal quem eu encontrei na ronda eles nem vão acreditar. Devia ter tirado uma foto. Na verdade, hoje nem vou sair, vou ficar em casa e tirar o atraso.” – com esses pensamentos eu fui trabalhar.
Anoitece em São Paulo. Nos lugares iluminados o mal se esconde e na escuridão se esconde o mal, mas nestes dias que estão por vir a escuridão terá um novo aliado.
--- Mãe, vou dormir porque hoje eu tive um dia duro. – disse cansado assim que cheguei da escola.
--- Dorme com Deus Leonardo. – despediu-se ela.
Assim que entrei no quarto abri a janela e fechei os olhos.
“--- Vou deixar a janela aberta, me acostumei com a brisa noturna e...” – assim que abri os olhos vi algo que pensei que nunca veria na minha vida. --- ... O sinal. – tranquei a porta do quarto e saí pela janela já com o uniforme de Leon.
30 minutos depois:
--- Me chamou? – perguntei assim que Batman voltou-se para minha direção. --- Precisa de ajuda? – indaguei curioso.
--- Sim. Vim de Gothan porque um dos maníacos de lá, chamado Voodu assassinou algumas pessoas e fugiu para o Brasil, descobri que ele veio para São Paulo e vim em seu encalço. – ele me olhava com seriedade. --- Pensei em contar com sua ajuda.
--- Mas é claro. – concordei contente. --- Chamarei meus companheiros e...
--- Não! – disse enfático. --- Só preciso de você. Não quero envolver inocentes nas minha batalhas... Não mais. – ele desviou o olhar e pareceu mais severo que o normal. --- Eu e você e mais ninguém, se não me viro sozinho... Entendeu? – indagou.
--- Claro que entendi. – concordei. --- Você quer que eu seja seu parceiro brasileiro. – brinquei e ele enlouqueceu.
--- Não! Eu quero que me ajude, só isso... Se não puder fazer isso não precisa...
--- Calma cara, sem stress falou? – Batman calou-se mas continuou sério. --- Falando em parceiros, cadê o seu? – perguntei curioso.
--- Robin morreu. – respondeu pesaroso. --- Quero sua ajuda como guia, já que não conheço essa cidade, não preciso que entre em batalhas. – continuou seco e sem querer contesta-lo eu concordei.
Saímos em busca de informações pela noite paulista. Levei o cavaleiro das trevas em cada beco e subúrbio que conhecia, mas não achamos nenhuma pista que pudesse valer a pena, então depois de muitas horas, cada um seguiu seu rumo.
No outro dia.
--- Jovem? – um homem de aparência aristocrática que eu nunca vi antes me chamava. --- Gostaria de falar com você um instante... – olhei novamente mas não dei atenção. --- É sobre ontem a noite... – revelou e eu não precisei mais nada para acompanha-lo. Paramos numa distância segura que nenhum dos meus amigos pudessem ouvir.
--- Como você descobriu minha identidade? – indaguei preocupado.
--- Eu te avisei que esse trabalho é perigoso. – disse sério sem responder minha pergunta. --- No nosso primeiro encontro quando você partiu eu te segui até sua casa... Leonardo. – ele sabia tudo à meu respeito.
--- Tá... O que você quer comigo? – perguntei acuado.
--- Que horas iremos nos encontrar? – indagou sério, seus olhos estavam frios.
--- Hoje? – indaguei incrédulo.
--- É. – Batman foi monossilábico.
--- Mas hoje é sábado! – reclamei. --- Dia de descanso, dia de farra e mulherada. – tentei argumentar.
--- Não há descanso para quem luta pela lei e a ordem. – disse ele querendo me dar lição de moral.
--- Tá bom... Me espera no mesmo lugar as onze. – respondi sem vontade e Batman concordou com a cabeça e depois sorriu para meus amigos e partiu. Pensei em segui-lo, mas desisti, meu segredo estaria seguro com ele.
As onze horas:
--- Falô pessoal... To indo. – me despedi sem vontade.
--- Onde você vai? Garotas? – indagou Miguel.
--- É... Mais ou menos isso... – respondi meias verdades. --- Té mais. – sem demora peguei meu rumo.
Na praça da Sé:
--- Onde ele está? Manda eu chegar as onze e...
--- Você se atrasou. – disse saindo do escuro e quase me matando me medo.
--- Caraca, você me assustou. – reclamei. --- Tive que inventar umas desculpas para os meus amigos. – revelei.
--- Descobri porque Voodu veio para o Brasil. – disse seco.
--- E porque ele veio? – perguntei curioso.
--- Raptar uma garota brasileira para fazer uma oferenda. – respondeu.
--- Raptar uma garota...? – indaguei incrédulo. --- Os caras vem lá de longe para raptarem uma garota e fazer uma oferenda...
--- Isso... Uma oferenda ao Demônio. – cortou severo e eu senti minha espinha gelar.
--- Deus do céu... Vambora, precisamos procurar essa garota. – disse enfático e me pareceu que Batman sorriu.
--- É nisso que você entra Leon. Você é os meus olhos em São Paulo. – comentou confiante.
--- Agora que tá envolvido magia, sei quem temos que buscar... – sem demora partimos na noite, mas meus contatos não sabiam de nada, a noite estava perdida mais uma vez.
--- As horas passam Leon, e até agora não conseguimos nada. – comentou Batman visivelmente abatido.
--- É, eu sei. Fomos em todos os meus contatos e eles não sabem de nada... Já não sei mais o que fazer. – revelei entregando os pontos.
Sem qualquer aviso ouvimos um grito de medo quebrando a plenitude da noite. Quando olho para Batman ele já está em ação, pulando do alto do prédio sem medo ou dúvida. Atônito eu observei quando ele quebrou a janela de um apartamento e adentrou como um espectro noturno.
--- Batman, aqui! – gritou Voodu.
--- Voodu... – sussurrou Batman não escondendo sua raiva.
--- Macabros coloquem suas máscaras... – ordenou o vilão. --- Até mais morcego. – Voodu arremessa uns ossos em direção ao Batman e corre em direção a porta.
--- Porra Batman... – parei de falar quando vi que o caos estava armado.
--- Vidas corriam perigo Leon... – respondeu nervoso. --- Voodu escapou e levou a garota. – revelou acuado. --- Esses capangas poderão nos fornecer o lugar onde ele está se escondendo. – sem responder eu concordei com ele. --- Vá conversar com os pais da garota, enquanto arranco desses animais o que quero saber.
--- Boa noite e me desculpe pela entrada abrupta...
--- Saia daqui! – gritou a mulher assustada.
--- Beatriz, esse rapaz é o Leon dos Bloods. – disse o homem bem mais calmo. --- Pode falar rapaz. – disse ele.
--- Batman está me ajudando e logo teremos o lugar onde Voodu escondeu sua filha...
--- Senhor Bernad... – Batman entrou na sala e a mulher voltou a gritar. --- Gostaria de saber se tem alguma relação com Voodu? – indagou Batman sem ligar para a histeria da mulher.
--- Não senhor, eu nem sei quem é esse. – revelou o homem.
--- Descobri onde Voodu está com sua filha e irei resgata-la...
--- Mas o que eles querem com ela? – indagou a mulher e eu fiz besteira.
--- Fazer uma oferenda ao Satã... – respondi sem pensar e a mulher enlouqueceu.
--- Como eles descobriram? – gritou o senhor Bernad.
--- Descobriram o que? – quis saber Batman seco.
--- Minha filha é mutante. – revelou o homem. --- Ela tem o dom da visão... – explicou apavorado.
--- Então é isso... – disse Batman pensativo. --- Leon convoque seus companheiros, precisamos de toda ajuda... Te espero no lugar combinado. – sem responder eu sai do quarto. --- Ouvi dizer que a policia está há caminho... Os marginais estão amarrados e não serão problemas por horas. – revelou. --- Farei o possível para trazer sua filha com vida... – disse Batman antes de sair, mas o homem já estava chorando.
Sem demora convoquei meus companheiros de equipe e logo estávamos na Sé e Batman contou toda história para meus amigos.
--- Não é do meu feitio pedir ajuda à garotos, mas os fatos saíram de minha alçada. – disse calmo e eu estranhei. --- Voodu é um assassino, não quero que cheguem perto dele...
--- Tá bom Batman, vamos? – chamei.
--- Vamos, mas antes quero saber os nomes.
--- Tá... Doc é o de roxo, Rathis é o de vermelho, Mitchell é o de amarelo e Snold é o de marrom... – Batman meneou com a cabeça e seguimos para a batalha.
--- Vocês já sabem o plano... Leon e Doc vão por cima, Rathis e Mitchell ficam na saída dos fundos, Snold na janela e eu entro pela porta principal... Vocês só entram quando eu mandar. – nesse sentido ele foi enfático.
O plano até poderia dar certo se Doc não tivesse escorregado e caído dentro da fábrica, alarmando todos os presente. Sem mais demora Batman entra com tudo, mas é tarde demais Voodu já havia matado a garota. Com a bagunça formada meus amigos adentram a fábrica e ajudam Batman a derrotar os bandidos, mas eu não pensava em nada só em tirar a garota da mesa de sacrifício. Rathis e Mitchell lutavam contra os Macabros e Snold foi em auxílio de Doc que ainda estava no chão. Peguei a garota nos braços e saí dali sem ser molestado, até aquele momento eu nem sabia o nome dela. Batman derrotou Voodu e só parou de bater nele porque Snold pediu...
A polícia chegou e prendeu todos, mas nós não estávamos mais na cena do crime. Snold seguiu com Doc para um hospital e Mitchell e Rathis foram embora. Tive que voltar com Batman até a casa dos Bernad onde ele avisaria que a menina estava morta, mas ele me disse que eu não precisava entrar. No outro dia ele nos apresentou na embaixada da Liga da Justiça no Brasil e depois nos encontramos no cemitério onde a garota fora enterrada. Depois de me cumprimentar ele partiu e nunca mais voltou.
Isso já aconteceu a um ano, mas eu sempre voltou aqui para olhar para uma janela nova e modificada, onde uma jovem que eu nem cheguei a conhecer morava e que perdeu sua liberdade... Estou no mesmo lugar, onde ouvi seu grito de medo... Estou próximo ao céu onde com certeza ela deve de estar, e ao mesmo tempo tão longe. Não consigo entender como uma pessoa pode matar outra pessoa sem ao menos conhece-la... Ela era tão jovem... 16 anos... Poderia ser uma das minhas amigas, namorada... Eu... Mas foi você Barbara... Sei que é difícil, mas luto para combater o mal que assola nosso país e mundo... Luto por pessoas como você que não sabem como se defender.
Saltei no abismo que separa os edifícios e não vi quando uma estrela corta o céu noturno.