GRANDE MURALHA E A CAÇADA AO TESOURO - PARTE III

O “Maioral” passou por mim pelo pátio e me deu um sorriso, pensei, nossaaaaaa!!! que emoção, receber o sorriso do CHEFÃO logo cedo no serviço.

No inferno quando o diabo te sorrir é porque ele sabe de alguma coisa que você pensa que ele não sabe mas ele sabe, minha mente acostumada a ficar traquinando idéias onde as vezes não tem nada pra pensar ficou em alerta, além do que, sorriso de chefe num serve pra porra nenhuma – Principalmente quando você esta no comando das “Rotas Pesadonas”.

A intranqüilidade diante da desconfiança fez meu dia ficar uma meleka logo de manhã por causa de um sorriso, não que eu não goste de um sorriso, claro que não é isto, mas nem todo sorriso esconde realmente um sorriso e sorriso onde a felicidade é a morte nunca me enganou.

Chateado, por causa de um sorriso, resolvi bater em alguém logo cedo e mandar pra UTI, na “Grande Muralha”, o tatame é onde se tira as diferenças sem regras e se você morrer lá pode ter certeza que vai rolar um IPM bem filha da mãe que depois de uns três anos num vai dar em nada, poucos entram e quem entra já sabe que vai ser espancado num lugar cheio de disciplina mas cheio de indisciplinados.

Nossa, eu tava com raiva de um sorriso e o brankelo afim de me esculachar relachou num sorriso, que cara otário ( gargalhadas0, dei uma pesada no kengo dele que até hoje quando sorrir deve se lembrar de mim.

Relaxado e mais tranqüilo, tava pronto pra começar mais um dia de trabalhos naquela grande empresa da morte, mas, sempre tem um macaco metido a forte, desafios no tatame sempre são bem vindos quando a calma é o que se deseja alcançar. O macacão era um armário ambulante e tava com um sorriso lindo na minha frente.

- O brankelo foi fácil e num valeu.

- Quer tentar a sorte?

- Quero.

- Já vi que tu ta cansado de viver.

- Adoro arrebentar a cara de tercereba e hoje tua equipe vai sair sem líder.

Poxa!!! Se tem uma coisa que nessas horas me deixa feliz da vida, é o sabor da covardia que eu tava sentindo dentro de mim, o cara era um armário e era o melhor remédio pra curar toda a minha raiva por causa do sorriso do “Maioral”.

A autoconfiança e a certeza são os piores inimigos onde não tem lei e nem regras na vontade de vencer. “Eu ia apanhar feio”.

Pra derrubar um armário nada como uma barra de ferro bem grande dessas de fazer “supino” em sala de musculação, e ela tava pertinho de mim onde eu estava (crueldade).

Na vida ante os desafios não importa as armas e sim o objetivo, se a vida não tem regras porque fazer regras certas ou erradas se o que importa é a vitória?

Dei-lhe uma porrada tão grande na venta com a barra de ferro que foi removido direto para o “Central”, e que eu saiba, ta em coma até hoje e eu respondendo mais um IPM. (coisas da vida).

Deitado, contava carneirinhos no alojamento num calor de 40 graus sem desabotoar um só botão do meu “terno de luxo” e pronto pra guerra. Não tinha horário e nem onde ir, e tava pensando onde eu ia ir e fazer uma covardia naquele dia. O que fazer? Droga, tinha tanto lugar pra ir e eu tava me decidindo ainda, até a noite eu já saberia.

- Senhor, pode entrar?

- Sim.

- Nego torto tá com um mapa prus trabalhos de hoje.

- Mapa?

- Sim, um mapa do tesouro.

- Eu num nasci pra ser capitão e vou ficar puto da vida se alguém furar meu olho, quais as chances?

- Entrar e sair sem fazer barulho e comemorar.

Queria saber porque tinha filho de uma égua cachorra vadia da zona na equipe que pensava que tudo eram flores, depois de meses naquelas “batidona”.

- Que horas.

- Meia noite a saída, daqui até lá dez minutos.

- Ok.

A minha “Rapaziada” fazia parte de um total de 45 guerreiros distribuídos em nove mulas prontos pra invadir qualquer país se fosse preciso, mas cada um ia pro seu lado em busca de tesouros e aventuras ao sabor da morte, nunca tinha contado com nenhum deles e jamais desejei me juntar e fazer uma só equipe. Pra mim era só nós ( quinze guerreiros) e quando saia já mandava ver “daqui prá lá tudo inimigo, é matar ou morrer”.

Adormeci sem dormir e na hora exata já estava lá, eu nunca fui muito adepto de hora marcada e mapas, afinal, mais fácil de se fazer uma “emboscada”, e eu já sabia que a gente valia muito por causa do mal que a gente fazia na área.

Tem lugares que até se um mosquito resolver fazer uma “incursão” morre na tentativa que o lugar é inflamável, a zona 22, era um corredor da morte disputadíssimo por dois lados e eu já tava ligado que a gente ia entrar numa causa que até o exército entrou lá e saiu em retirada que a coisa era prá lá de feia e num tinha solução.

Na minha conta eu ia entrar sem três e ficar largado no lixo a deriva da minha ousadia por causa de um “Mapa de Tesouro”, porém, se eu não der crédito nunca poderei descobrir a credibilidade de cada um, seria uma noite linda e tranqüila como as muitas que eu já estava acostumado.

Eu queria saber onde os filhos da puta descobriram que pintar as casas da mesma cor é a melhor tática de guerra num país sem guerra? Aquele “mapinha” feito num papel de pão tava começando a me deixar preocupado e se desse dor de barriga nem ia dar pra usar como papel higiênico.

- Nego torto, o mapa é seu.

- Tudo igual e to perdido.

- Já garimpei muito aqui, deixa eu ver melhor.

Até que com toda a conjectura difícil de se visualizar o “alvo” as pretensões são as que prevalecem na procura do “achado”, sair dali já seria impossível aquelas horas sem nenhum arranhão e quem ta no fogo ta pra se lascar e torrar. Ia ser uma maravilha matar e morrer naquele dia cheio de ouro na mão.

Se tudo é igual mas o mapa diz que tem uma de três, não fica difícil e nem impossível de se localizar, era paciência e observação, na certeza que quando o perigo é tão grande o mal fica bonzinho e abre a guarda, é ai que se arrebentam.

Acho que na outra encarnação eu era algum troglodita da seita de arrancar cabeças, arranquei umas seis sem olhar nos olhos (pra num ficar com traumas). Nessa escalada de “caça ao tesouro”, fiquei pensando no ouro que reluzia e brilhava na minha frente.

Eu tinha um código comercial com o “Maioral” na razão de que os frutos da árvore pertenciam a ele e o que caia e apodrecesse era nosso – cumpria e levava na risca sem nunca ter sido contrariado.

- Isso aqui é do “maioral”, o resto é nosso.

- O mapa é meu eu determino a divisão e aqui ninguém manda.

- Quem mais está com ele?

- Eu.

- Eu.

- Eu.

- Eu.

Silêncio total numa hora errada em que aprendi que as divisões devem ser feita em local seguro e ali a traição diante das relíquias banhadas de sangue iam cobrar a minha alma.

Cobrei então.

- E quem está comigo?

Formou-se duas barreiras onde a lealdade e a confiança jamais haviam sido testada e que você somente pode descobrir na hora errada, eu pensava que tinha apenas dois exércitos contra mim, mas na minha conta percebi que o pior inimigo é o interno. Os covardes geralmente sucumbem porque pensam que o fator surpresa é a vantagem, mas, quando se decide ser corajoso na covardia a surpresa nunca pode ficar descoberta e antes de qualquer ação a visão do fim.

Meu carregador tava intacto e num segundo só tinha muita fumaça e cheiro de carne queimada, me descobrindo perante os inimigos, se tiver de morrer, morro lutando mas nunca traído por quem não sabe o valor da confiança e da lealdade.

- Deixa prá trás e vambora na fé!!!

- Caralho puta que pariu que loucura.

- Nada viram, nada sabem, é a minha ordem.

- Sim...Senhor.

Com tanto tesouro pra carregar e com um time de morte “desfalcado” por causa de olho grande e na cabeça que se pedisse ajuda tava lascado e fudido que nem o “cagão” lá do começo tinha que arriscar sair dali com tudo em cima. Sem falar, que tinha mandado dois pro CTI de manhã e a outra rapaziada num tava muito feliz da vida comigo, enfim, tava largado as traças.

Novamente com o mesmo número da sorte e sem sorte, sete ao total, tem guerras que demoram a começar, até ali conflitos se confundiam porque nem todos sabiam que inimigo oculto estava realmente na escuridão, estava tão próximo da saída que difícil ver qual a saída num lugar sem saídas, cada passo era sempre recheado de lágrimas no maior estilo que a morte desenha esta vida miserável da sociedade humilde e pobre, sair não era a minha preocupação, mas saber que agora eu tinha seis guerreiros da mais alta confiança e o “Maioral” nunca mais ia sorrir pra mim quando cruzasse por mim no pátio. Meus conflitos por causa de um sorriso tinham se extinguido e meu coração estava livre na minha alma de guerreiro.

Tem noites que a morte te ronda e te acaricia se entrei tenho que sair, nada é fácil, e quando o medo tem medo da coragem sair fica fácil. Até hoje não entendo como são tantos diante de tão poucos e perdem fácil, penso, que talvez, porque a guerra deles seja apenas de um dia e a muito desejei ser eterno.

Nada como deixar o chefe sorrindo mesmo que você não goste de fazer parte do sorriso dele, mas, numa empresa onde você faz parte da “gerência”, tem de saber que ta ali prá dar lucro, e o lucro era reluzente no sorriso do “Maioral”, as baixas do relatório iam fazer parte de uma estatística de combate que nunca desejei entrar nela e que sempre acabava com uma bandinha ao fundo tocando música de chorar por fora e sorrir pó dentro num gostoso adeus bem filha da p..., para quem não valia nada e já foi tarde.

Grande Muralha.

Grande Muralha
Enviado por Grande Muralha em 16/08/2008
Código do texto: T1130948