GRANDE MURALHA E OS QUATORZE GUERREIROS - PARTE II

Vou te dar uma dica de quem está na pista a muito tempo, por experiência, quando desejar ter qualquer relação com uma pessoa - " OLHE SEMPRE DENTRO DOS OLHOS DA PESSOA ", em busca dos quatorze guerreiros, precisava de um que seria minha metade e da mais alta confiança, quando se desejar alguém no seu lugar este alguém tem de ser alguma coisa que voce é ou do contrário vai ser o que voce não é, e ai, meu camarada é derrota pura. Engraçado, o Charles Bravo, era pequeno e branco quase sem sangue, parecia um desses galinhos brigão de terreiro de makumba de favela, mas, como nem todo guerreiro é sempre "grandão" que nem video-gaime, e, foi o único que olhou nos meus olhos, percebi que aquela seria uma ótima escolha. No tabuleiro do xadrez o que mais tem é peão, no meu caso a maioria seria os "guerreiros", estes sim, tem que ser dividido numa equação exata na matemática do poder. treze guerreiros e cada um com uma arte diferente de ser em sua estrutura em busca do que jamais saberei, mas, doidos pra virar "lenda". Sabe, o que mais ouvia quando sentava com a rapaziada era "historinhas", tem uns que falam demais e outros que falam mais ainda e é um querendo contar mais que o outro, tem samango que nunca foi pescador mas pode contar historias de deixar pescador com inveja. Ditado popular, "quando se pucha uma linha se pucha a blusa inteira", meu Charlie, trouxe quatro e meus quatro mais nove, como um mais um é igual a dois, eu tinha os melhores que eram os piores.

Tres mulas turbinadas e até com escotilha de submarino, quatorze guerreiros e dando inveja a qualquer Guerrilha das Américas, 'NÓS TAVA PRONTO PRÁ GUERRA".

Mas tinha um porém, tinha algo que eu percebia fundamental, nem todo "chefe" é sempre o "chefe", existe uma grande diferença entre ser "chefe", ser "lider" e ser o que eu mais gostava e sabia ser - "BAM BAM BAM". Pode até parecer prá voces algo estranho, mas as turmas do "Pesadão" não trabalham com chefe ou lider, e também não é na base do "prá baixo todo santo ajuda". Tem coisas na vida que voce só sabe que é quando já fez e sabe fazer. Aprendi a entrar e sair com uma chuva de balas nas noites escuras sem chorar, sem temer, sem desejar saber como será o dia amanhã e porque eu estou naquela guerra que não é minha, não me questionava entre o certo e o errado, alguém tem de fazer isto e se tiver de ser eu, assim o farei.

Nunca me questionei sobre DEUS, mas sempre olhava para o céu e fazia minha costumeira oração - " OBRIGADO SENHOR!!!", nunca fui bom de rezas mesmo e para bom entendedor, um agradecimento basta!!!

Era um sábado, o pau roncava feio longe dali, e tinha todo aquele palco costumeiro armado, engraçado, a "festa" tinha começado cedo, porque geralmente só na madruga que resolvem fazer "graça" - sem ser santos. Meio dia e eu degustando aquele maravilhoso filé de carne de terceira cortado com uma faca de raio laser de açogueiro, porque sinceramente, nunca vi algo tão preciso e milimetricamente medido num corte tão profundo, é de fazer inveja a qualquer pai de família que tem mais de seis filhos e tem de comprar carne todo dia para os rebenhos.

Mas tudo bem, lá vai eu na minha primeira saída, se esperavam que eu fosse fazer uma reunião no pátio e "blá blá bla", como todos faziam quando saiam, se lascaram e se ferraram que num falei nada e fiquei calado à frente seguidos pelas duas mulas atrás.

Tem coisas que não se precisa falar e só de ouvir já sabe onde ir, como ir, como chegar, como descer e o que fazer, principalmente quando sabe que chegou alí pra "RESOLVER".

Pau quebrando e nego e branquelos ( já disse que num sou racista), nas últimas beiras que a rapaziada tava com a macaca aquele dia por causa de "coisinhas tipicas de comunidades mal resolvidas", era hora de acabar com a festa que a polvoraça estraga a imagem de "alguém". Era hora de resolver.

Nunca fui paraquedista e se me convidarem pra ir na parahiba, com certeza vou de carro ou ônibus, mas nesta hora me sinto um grande abutre alado descendo sobre a presa, aquela chegada me fascina e pra quem sabe ser 'GUERREIRO" nem precisa de ordem pra seguir o "LIDER".

Meu camarada, a cosia tava feia, mas, fazer feio na estréia e sem dizer meias palavras nao seria meu caso naquele dia, minha festa inaugural tava começando, o melhor de tudo nesta festa é que naquela festa eu já tinha ido de "apoio" e conhecia um pouco a área, assim, fica bem mais fácil saber onde ir e onde cavar.

Quando se derruba um "elefante", não se preocupe com as presas de marfim, afinal, você é o kassador e num safari na Africa sempre tem os carregadores, só nao sabia quais. Além de que, a subida era longa por demais e a fome era grande naquela kassada infernal.

Se tem uma coisa que eu gosto nesta rapaziada é o medo, eu juro, falo sério, queria que eles fossem mais audazes e colocassem o corpo pra fora, mas isto nao acontece, e aí, é que a coisa fica feia, porque na hora da festa é a lei do cão e quando a festa começa é a lei dos homens com toda as garantias constitucionais. Ai voce me pergunta?

Bam Bam Bam, voce as respeita?

Claro que não (hahahahahaha -muitos risos).

Quando fica o silêncio e ninguém nas vielas e becos, é a pior hora, pois os inimigos estão a centimetros de voce, pra matar ou morrer. Nada se ouve e nada se ver e tudo se observa, ao menos, ainda é tarde, e a "festa" parece ter acabado - HORA DA RETIRADA.

Tudo nesta guerra gera lucro de sangue e de morte no mais aterrorizante pavor de quem não sabe direito como e porque começou. Prá mim, não era hora de entender nada ( e nem queria). Aprendi que numa "festa" qualquer movimento tem de ser sempre observado e aqueles olhinhos negros numa cabeleira de longa idade não desejava olhar apenas pela fresta da janela se a banda ja tinha passado, invadi sozinho sua casa, logo atrás por dois guerreiros, se tem uma coisa que sempre observo é tudo ao redor.

Na casa uma senhora com ar assustada e um "netinho".

Nesta hora, nada como usar uma linguagem coloquial e polida, afinal é eles que te pagam.

- Quem eu vou matar primeiro?

-Não sei de nada.

-Não? .....Hum, tô sentindo cheiro de "verme".

O silêncio nessa hora é fatal e o olhar penetra no cérebro em busca da verdade sabendo que só vai rolar mentiras. É um jogo de vida e de morte, onde a chance é única e nem pensar em dispensá-la, pois a muito tempo atrás aprendi que quanto maior a cara de inocência mais próximo estou da morte. Aqui todo mundo na hora da morte tem o mesmo nome, e o mesmo apelido.

- Dá um sub na véia de dois graus.

- Na véia??

- Na próxima voce não vem mais...

- Dá um sub na véia de dois graus.

- Sim.

- Mais dois e vai brincar com orca a baleia assassina na outra encarnação. É netinho?

- Chegou de madrugada , invadiu, me bateu, comeu minha comida e tô presa sem sair desde cedo. (respirando fundo que esqueçi de levar os tanques de ar)

-Faz parte da festa?

-Nunca vi.

Tráz ele lá agora.

-Sua opção é a morte, quer fazer outra escolha?

- Num quero morrerrrrrrrrr (choro - de crocrodilo né!!!)

- Nunca vi a morte ter medo da morte e nao te entendo querer viver quando voce é a morte. Quer negociar?

- Quero.... tenho a minha vida.

- Relaxa, tem lugares que a vida não é o maior bem e além do mais tu ja morreu faz tempos e a tua vida pra mim não vale nada.

- Não quero morrerrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!!

Nessa hora, já tinha descartado um, se tem uma coisa que quem pensa que sabe e nao sabe nada tem dúvidas em fazer, me deixa preocupado, além do mais que na arena da morte somos carne e vinho.

Tem horas que não dá pra fazer o que se quer fazer, e alí não era a hora certa de fazer o que eu queria fazer. A Grande Muralha era minha opção, lá nem o maior grito de todos os dinossauros que andaram na face da terra seria ouvido se eu resolvesse tirar uma farpinha do seu couro.

Na descida.

- Vamos levar com a gente.

- Tranca?

- Não, quero conhecer sua alma e seus segredos, além do que tenho um dom para confissionário e sempre desejei ser padre.

A fortaleza " Grande Muralha ", escondia mistérios e fantasmas que nunca descobri, talvez até o meu tenha ficado lá (lágrimas).

Eu pensava que quando um homem tem segredos na alma nada o faz revelar, mas me surpreendi, e fiquei puto da vida, pensava que "um tapinha não dói", e, nem tinha chegado no inferno e ja sabia de todas as confissões da morte.

- Filho da P.....................................!!!!!

- Porque nao disse lá? Agora?

-Vamos voltar.

- NÃO TEM MAIS NINGUÉM LÁ.

- Ótimo, a festa vai ficar melhor ainda.

- Será a morte.

- Passarinho que acompanha morcego dorme de cabeça pra baixo, cada um fez suas escolhas, alguém mais desisti?

- Não.

Tem horas que voce pensa que são quinze e descobre que só tem sete, é uma dura realidade que se descobre na hora da festa mas ai a ines é morta e "tô nem ai!!!!" - Quem tinha cinco....sete é muito!!!

O que pensei ser dificil até que foi fácil, principalmente que eu sabia aonde ir e o que tinha aonde eu ia. Interessante e chegar lá fácil demais pra meu gosto requintado e fascinado pelo perigo.

Se um dia voce passar por um desses tel de rua que fica tocando, conselho meu.

- Não atende.

Mas onde eu estava, sentia que aquela ligação era pra mim, além do mais que a formação em circulo que se fechava em torno de nós era maior do que podia esperar. Atendi o orelhão.

- Que tal me devolver o que pegou e deixo voces sairem?

- Eu acho que ja comi a sua mãe na zona, que tu acha meu camarada?

-Filho da P....., vou matar vocêssssssssssssssss!!!!

Olha, se tem uma coisa que num gosto é ameaças e o que eu tinha descavado sem ser agricultor debaixo de uma bananeira era muito maior que todos os trofès do "Airton Senna". Devolver jamais.

Se a festa tem de começar, que rujem os tambores!!!!

Quinze minutos de calor e só aço roncando, com uma saída parecendo filme do James Bond. Não deu tempo nem de chegar "reforço", do qual eu nao pedi e nem sabiam que tinha voltado ali, pra acabar a festa né ( muitos risos ).

Pratos na mesa na refeição e o "Maioral" feliz da vida com suas "prendas", vai doar pra algum orfanato de caridade. Serviço feito, serviço limpo, hora dos acertos de contas com quem deveria ser e nao foi. Adoro aquele filme do Rei Arthur, fiz a mesma tábula redonda para a primeira reunião após um final.

-Bom dia. Nós somos a morte e teremos desafios ao longo de cada dia daqui pra frente, viver ou morrer não é escolhas e sim decisão, ficar comigo é viver da morte e nao ficar é ter uma vida de morte. Façam suas escolhas e boa sorte.

- Na próxima voces tres nao precisam vir.

- E voce e voce, aprendam a confiar em mim.

- E voces, tenham um bom descanço.

Ninguém falou nada, nem poderiam falar, afinal se juntaram antes de conhecer e ter a exata noção do que tinham a frente.

O perigo ensina os fracos a ficar forte, os fortes morrem quando nao temem o perigo, eu ia ensinar cada um deles a temer e respeitar o perigo, sem desafiar a morte.

Grande Muralha

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Grande Muralha
Enviado por Grande Muralha em 14/08/2008
Reeditado em 15/08/2008
Código do texto: T1128821