Um conto Misterioso - parte 05
Aonde eu estava? Que gente era aquela? E essa mania de falarem as coisas pela metade, metendo medo em mim.
Peguei o jornal e olhei na primeira página. Outro susto.
“Grupo de Internautas mortos em IRContro em Florianópolis”. Havia uma foto mostrando corpos estendidos no chão. Ávido peguei o jornal e abri na página policial.
“Polícia procura um integrante do grupo que seriam supostos terrorristas. Segundo testemunhas um homem havia ligado marcando hora naquele restaurante e reservas para os seis Internautas. Policia trabalha com hipótese de limpeza de arquivo. Procurado seria estudante e morador de Florianópolis. Dois corpos foram identificados como João Marcelo dos Reis, de Recife: que segundo sua mãe estava distribuindo folhetos subversivos na Universidade: Marcos Vinicius dos Santos, de São Paulo, um filho de comerciante que era ex-viciado; Segundo uma fonte havia pedaços de cartolina onde haviam os apelidos dos Internautas. Eram sete os nomes. Todos os seis morreram com o crachá de papel no peito. Um dos crachás de identificação do grupo, ficara sobre a mesa, enquanto os outros seis eram atingidos por uma saraivada de balas disparadas da porta por um homem de estatura mediana e magro, usando uma máscara de meia preta sobre o rosto.”
Essa não. Olhei a data do jornal. Era de dois dias atrás.
Peguei o jornal e o levei comigo para o fundo do ônibus próximo a porta de desembarque.
Menos de cinco minutos depois o Motorista gritou lá da frente.
---- Massaranduba! Quem vai descer?! É a única parada da cidade.
Fui o único a descer.
O onibus partiu me deixando uma nuvem de poeira no rosto e nos cabelos.
Então vi um amontoado de casas. Parecia mais um daqueles vilarejos do velho oeste.
O clima era gostoso durante a noite. Ar fresco e puro. Ouvi uns gritos ao longe e logo um tropel de cavalos passou por mim.
Minha primeira impressão ficou mais forte. Definitivamente era um vilarejo do velho oeste americano.
Fui caminhando por uma estreita rua que julguei ser a principal dado o número de veículos que transitavam por ali. A cada passagem de carro era abaixar a cabeça e fechar os olhos por causa da poeira. O velho jornal pelo menos servia para alguma coisa boa.
Depois de caminhar uns quinhentos metros, virei a esquerda conforme o velho “Zé” me ensinara e deparei-me com uma pequena casa onde se lia em uma tabuleta velha e carcomida “Padaria”.
Ana Maria a princípio me recebeu com desconfiança, mas quando lhe mostrei as botas que seu irmão me dera ela sorriu.
Me levou para os fundos da casa e lá me arrumou um belo jantar. Feijão, farinha e arroz nunca foram tão bem degustados como naquele instante.
----- Coma, e depois de tomar banho pode ficar naquele quarto! -- disse ela - Espero que o moço tenha sono pesado.
----- Porque? - quis saber.
----- Acontecem coisas....que é bom moço não sabê!- disse ela por entre os dentes cariados, arrumando os cabelos compridos e mal penteados.
É claro que não perguntei mais nada. De banho tomado e saciado, caí na cama de colchão de molas e dormi feito uma pedra.
Se aconteceu alguma coisa naquele noite nunca fiquei sabendo.
Acordei de madrugado com Ana Maria me sacudindo pelo ombro.
---- Moço! Moço, acorda!
Ao abrir os olhos ela me mostrou um jornal amassado onde tinha o meu retrato em preto e branco.
----- Que é isso moço? quem é vosmicê?
Demorei muito para lhe explicar o que tinha acontecido. Meio reticente ela resolveu me levar até onde tinha um orelhão. Ana Maria era uma velha solteirona que desistira de casar depois que uns fazendeiro queimaram sua casa matando seu marido e sua filha pequena. Agora disse que se contentava em vender pães.
Um velho relógio na torre da igreja marcava cinco da manhã quando passamos para ir telefonar. O orelhão ficava a duas quadras da casa dela.
Conversei rapidamente com minha irmã. Ela estava super preocupada. Disse que tinham ido até o escritório e levado meu micro para a delegacia. Também disse que tinham revistado meu quarto nos fundos da loja, e como não encontraram nada deixaram tudo desarrumado. Tentei tranquilizá-la. Ela prontamente acreditou em mim, mas disse que agora eu teria que me virar, pois provavelmente eles estariam vigiando-a.
Desliguei mal ela disse isso. Poderiam ter colocado escutas no seu telefone. Claro! Como fui estúpido.
Voltei até a casa de Ana Maria. Ela me arrumou uma mochila. Peguei uns pães e uns doces e ainda me deu duas calças do falecido marido e outras camisas. Conseguiu também um outro par de sapatos e de tênis. Caminhar com aquelas botas era muito ruim e minhas pernas pareciam pesar uma tonelada.
Agradecido, sem saber o que dizer e nem o que fazer, saí sem rumo pela estrada, fazendo o caminho de volta de onde o seu “Zé” tinha me achado.
Calculei que enquanto não desse uma resposta para os desgraçados eu ficaria com a minha vida toda arruinada.
----- Muito bem, eu aceito! O que tenho de fazer?--- era isso que devia dizer a eles, mesmo sabendo que depois seria muito arriscado pular fora. Mas afinal agora eu já não tinha por onde sair da arapuca que me armaram.
Estava quase na saída da cidade quando um Fiat 147 atravessou na minha frente. Derrapou levantando poeira na semi claridade que os primeiros raios solares jogavam no lugar. Dois homens encapuzados pularam de dentro do carro. Em suas mãos espingardas e rifles. Quer dizer, acho que eram rifles, eu nunca soube diferenciar uma coisa de outra.
Assustado tentei ainda falar alguma coisa, mas um deles veio rapidamente em minha direção e sem falar uma palavra uma coronhada na minha cabeça. Tudo começou a girar e eu senti o mundo escurecer.