O Ditador ( Parte 3 - Capítulo 2- a)

Capítulo dois

“Ano 2008, mês de abril, dia 25, muitos dos que vivem hoje não haviam nascido na época, mas para os que já existiam foi, sem sombra de dúvida, cruel e inesquecível. Um míssil nuclear norte-coreano atingiu o maior edifício da cidade de Nova York, o Empire State, dando causa a uma série de contra-ataques de mísseis Tomahawk no território da Coréia do Norte. Um discurso do Presidente Norte-Americano revelou então aquilo que a população mundial tinha medo de ouvir novamente após mais de 60 anos, o mundo estava em guerra, o que começou com simples trocas de ofensas tomou proporção global. O mundo se dividiu em dois pólos, correspondente aos hemisférios leste e o oeste, estava um contra o outro desta vez, com exceção do Japão e da Austrália no pólo do leste. Estava decretada a sentença de morte do mundo, pensavam alguns. A ONU sequer teve tempo de intervir, a sede em Nova York fora destruída, junto com ela o Tribunal Penal Internacional e a Corte Internacional de Justiça em Haia, o Conselho de Direitos Humanos também teve sua estrutura destroçada pelo conflito. O mundo estava órfão da maior organização de nações existentes na Terra. Paraísos turísticos como o Taiti e a Indonésia foram devastados pela energia nuclear, suspeitos de esconderem chefes de estado durante a guerra, foram bombardeados sem piedade por ambos os pólos, não existia mais racionalidade dos líderes, era puro instinto de guerra...”

Após ler uma pequena quantidade de páginas de seu livro favorito, colocou-o em cima da escrivaninha e foi se arrumar, estava na hora do treino.

Wilhelmsom continuava insatisfeito, mesmo acertando nove de dez tiros perfeitamente no centro, mas com certeza muito melhor do que Oliver, que acertara apenas quatro.

– Após o almoço quero você e o Colin aqui – disse o tenente ao amigo – vamos treinar tudo novamente.

– Mais uma vez? Reclamou o amigo de infância.

– Preciso mesmo explicar?

– Não, entendo o que quis dizer. Com certeza senhor, academia após o almoço.

Kim se aproximou do soldado.

– Não esquente a cabeça, você sabe, ele quer que você esteja à altura da companhia.

– Eu só queria poder dar tudo de mim nos treinos.

– Quanto tempo falta para o almoço? Perguntou Kim.

– Uma hora e meia.

– Vamos, dá tempo de treinar mais um pouco.

– Não quero, obrigado, vou pro meu quarto descansar.

Kim olhou o companheiro seguir adiante, balançou a cabeça negativamente e suspirou.

Neste mesmo momento o tenente estudava compenetrado em seu quarto, já nem dormia mais direito e quando não estava treinando estudava. Estava repassando os conteúdos estudados na semana anterior e dando uma breve olhada em material novo, de repente uma leve batida na porta o fez pular da cama. Era o sargento Colin chamando-o para o almoço. Wilhelmsom havia perdido a noção do tempo, já havia passado meia hora do horário da refeição.

– Como está a preparação para o teste? Perguntou Colin enquanto colocava a bandeja sobre a mesa.

– Eu não sei mais o que é dormir há dias, estou atrasado nos estudos, ainda estou retomando os conteúdos da semana passada, nem comecei o material novo. Leis novas foram promulgadas e serão cobradas. E veja, ainda estou no comando da companhia.

– Pra que tanto? A companhia não te atrapalha nos estudos?

– Não posso largá-la assim.

– Você não deve nada para a divisão.

– Preciso ajudar alguém a se tornar um soldado digno dela.

– O Oliver.

– Eu assumi uma responsabilidade quando o convidei para integrar a equipe, sabia que ele não estava preparado.

– Em todo esse tempo você nunca me disse qual o real problema dele.

– E não posso te contar ainda. Olha, ele é responsabilidade minha.

– Tudo bem.

– Eu falei para ele ir direto à academia depois do almoço, vamos treiná-lo.

– Não quer que eu faça isso sozinho e deixe você estudar mais?

– Eu disse que estaria lá, não vou quebrar minha palavra.

Uma hora depois do combinado, Oliver espera impaciente na academia até que avista o tenente e o sargento.

– Não acredito – pensou Wilhelmsom – ele devia estar treinando sozinho, em vez disso perdeu todo esse tempo nos esperando. Será duro colocar o rapaz na linha.

– Puxa. Vocês demoraram! Estou aqui há uma hora esperando – disse Oliver.

– Perdeu sessenta minutos de treino – retrucou Colin. Por acaso você não consegue fazer nada sem nossas ordens?

Oliver agüentou a bronca calado e de cabeça baixa.

– Levante a cabeça e vamos começar – ordenou o tenente.

Começaram pelos tiros ao alvo. Oliver acertava uma média de dois tiros certeiros em cinco, considerado muito baixo para os padrões da divisão. O tenente e o sargento não agüentavam ver tanta falta de habilidade, ambos acertavam facilmente cinco tiros em cinco tentativas, enquanto o desempenho de Oliver era dois certeiros, dois fora do alvo e um em outras regiões do alvo.

– Eu não agüento mais assistir a isso, vamos mudar – reclamou Wilhelmsom.

O treinamento seguinte era tiro ao alvo movimentando-se. Ao contrário do que pensavam, o desempenho era melhor neste do que no anterior, mesmo sendo mais complexo do que o primeiro.

– Precisamos treinar muito no tiro ao alvo parado e os reflexos dele no paintball, ele é muito lento, é eliminado fácil por causa disso. Imagine numa guerra, seria morto com a mesma facilidade – disse Colin.

– Eu sei de um treinador excelente que vai deixá-lo em forma – respondeu o tenente.

– Você acha que ela topa?

– Claro, quanto mais difícil o desafio, mais a motiva.

– Ele vai sofrer – disse Colin rindo e assistindo o treino.

– Ele precisa um pouco desse sofrimento.

Farah
Enviado por Farah em 08/06/2008
Código do texto: T1024499
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