MORTE GUERREIRA
O relógio estava na parede logo à frente onde a janela abria um buraco. Seu corpo dali para cima parecia um desses bustos colocados ali de um de propósito. Gordo, patético, sorrindo parado.
Cansou-se, apoiou-se com os cotovelos, juntou as mãos sob o queixo. Observou os ponteiros um empurrando o outro. O mais fino dos ponteiros empurrava o maior e em negrito e logo este impulsionado empurrava o menor, mais lento de todos. A vida funcionava ordenadamente dentro das horas. Doze números esperando afagos.
Atrás dele um sol que desaparecia em raios entre os galhos das arvores; o chilrear dos pássaros parecia o tic-tac (inaudível) do tempo.
Chegou afinal à oportunidade: as mãos espalmaram as faces. Parecia segurar o sorriso que saía despedaçado.
O chilreio dos pardais (Eram só) animou-se, a noite se levantava na cor de um lusco-fusco, a luz da tarde se acomodava... Os ponteiros jamais obedeciam, contudo seguiam harmonicamente.
E ele, bobo, cansava-se e despedia-se...
Rodney Aragão.
20 de maio de 2008.