Prazeres da Morte - parte II
Havia alguma explicação? Havia um mínimo de motivos? Havia possibilidade de ser uma noticia errada? Havia realmente um sol assim tão lindo lá fora?... Havia, agora uma intensa trovoada, tormenta farta em raios, e gotas sólidas despejavam na cabeça de todos. Palavras? Não, Deus não era justo, muito menos digno de receber alguma palavra em resposta agora. Já pelas tantas da tarde uma bonita policial de óculos de sol e uniforme amassado quem avisara as famílias, no salão de festas, Catarina colocando de escanteio a toalha com o queimado de cigarro. E as flores já tão lindas, pratos perfumando o salão para logo mais, os trajes a espera de um corpo para brilhar em seu interior, a perfeição brindava aquela matéria morta, todavia nada valia, pois morto também estava metade do motivo por todo aquele preparo. A dor de Catarina era maior, muito maior do que a de Estevão antes de morrer, porque ela não acreditava, não conseguia imaginar, não aceitava, mas era verdade, quisesse encarar ou não.
Por quê? Será que as divinas forças não sabiam que eles se amavam? Que aquilo não poderia acontecer? Que ele tinha planos a cumprir por aqui? Agora que o mundo acabasse, que os mais complexos problemas da humanidade engolissem a terra com ódio e dor, já que nada mais importava, o que importava já não mais havia, o que havia era apenas lembrança, ainda fervente, quente como os restos de seu corpo, seu corpo que nunca mais veriam, que nunca mais teria, o que teria seria lembranças, lembranças que pertenciam aos dois, mas os dois não haviam... Só o que havia era recordação, quente, fervente como os restos...
Reuniram-se num impulso inpensado de abraço apertado, todos choravam, e Catarina não vertia nenhuma lágrima, gritava como louca, a garganta toda arranhada, as veias nervos, a pele explorando os limites daquilo que vem da alma.
Olhavam o salão pronto, porque acontecera então? Aquele tempo que estavam juntos? Por que permitir aquele incêndio, o conseqüente encontro, os prazeres, as palavras, os risos, a felicidade de mala e cuia envolta na aura, e o amor num bem corroer de coração.
Tudo estava findado em questão de horas. Catarina não tinha noção do que era real e não, sim: estava louca, admitia, e saberia que ficaria assim para o resto da vida. Todos sabiam. No mais era a tristeza eterna de saber que nunca mais o veriam, nunca mais o tocariam. Seu sorriso, sua voz, seu olhar, ele completamente seria só lembranças. Nem velar de caixão aberto era possível. Segundo a polícia, a maioria do seu corpo era apenas uma massa de sangue, carne e ossos. Não tinham rumo, pareciam não ter mais vida. Sentia um incômodo em sua barriga, o feto parecia sentir o que estava acontecendo. Um feto sem pai, cresceria ouvindo as lembranças e secando as lágrimas da mãe. Que família terrível, sentiriam pena deles, tratados como carentes por alguns, como exemplo de força para outros, ou ainda de “família moderna”. A criança certamente aprenderia a chamar o avô de pai, e ficaria com a avó no período em que não estivesse na escola e que a mãe estivesse trabalhando, a tia seria a madrinha coruja, e os avós paternos por puro desejo seriam um tanto mais distantes, já que a criança lembraria vivamente o pai, passariam a cada 15 dias, um final de semana com o indesejado neto... Não era hora de pensar naquilo, pois poderia pensar muito bem em não ter essa criança.
Chegara novamente o momento da realidade, a realidade faltando uma peça. Durante o velório, com a capela mortuária cheia de gente, e o enterro, na mesma situação, era fantasia, era quase festa. Tinha café, biscoitos, refrigerante e bolinhos de frigideira. Pessoas riam e fumavam juntas na calçada, tinham colocado trajes elegantes que nunca mais usariam na vida, pessoas que não se viam há anos se reencontravam. Era irônico demais como algumas destas pessoas não tinham dinheiro para viajar e ir na casa de algum parente revê-lo, mas, de repente, para um funeral este dinheiro necessário brotava nem se sabe de onde, para viajar para onde quer que fosse. A morte era mágica, movia tantas coisas, mais do que a vida.
No sofá adormeceram ambas as famílias na casa de Catarina, uma janela ficou aberta e um gato entrou, um copo de leite pela metade na pia. O gato virou o copo, caiu, quebrou, ele bebeu a poça sobre o granito, a pedra áspera na sua língua lhe proporcionava prazer, voltaria para beber mais daquele leite de pessoas que adormeciam em sofás, e era integral de caixinha, boa qualidade e temperatura ideal, tivera sorte, tinha agora que ir embora, antes que quebrasse algo mais.
Uma coisa tinham certeza, mesmo que não admitissem: tanto os pais, quanto os filhos haviam perdido os amigos por causa daquela demasiada paixão, tinham-se doado demais a aquele ciclo, e esquecido dos outros ao qual também pertenciam, agora já não pertenciam mais, tinham aquele e somente aquele, nada mais.
A situação de não ter mais nem mesmo os parentes chegou a ponto de que foi pensado em morara juntos em uma nova casa, mas haviam também tradições a serem seguidas, e o segredo da convivência perfeita está em não conviver, em saber sentir saudade. Por isso continuaram cada qual em seu lar. Mas na perfeita oportunidade, no simples e imediato pensar em comum de cada uma daquelas cabeças, o contato físico era estabelecido. Os amigos dos filhos, Carlise e Eduardo estavam sozinhos também, os rejeitaram e agora eram rejeitados. Mas alguém mudara, e nunca mais seria a mesma: Catarina enlouquecera. Esperava Estevão na janela do seu quarto, murmurava frases sem sentido, tinha grande oscilação de temperamento, delírios constantes, saiu do emprego, Dna Quininha a demitira. Ela tentara enfiar uma pregadeira nos olhos de um cliente, que por sorte não a denunciou a policia, mas mediante a loja repleta de fregueses a demissão foi indiscutível, e o mais estranho é que ela aceitou numa boa, como se falassem em promoção. Estava mesmo louca, fazia 10, 15 vezes o mesmo ato em casa, o pai e a mãe a vigiavam sempre temerosos... Não era mais sua filha!
A família de Estevão desenvolvera certo receio de Catarina. Sabiam também que ela não era mais a mesma, por isso mesmo que ficassem sozinhos, a mercê da solidão, do frio de não ter ninguém, preferiam diminuir as visitas que presenciar seus atos constantes de insanidade. Obviamente a família de Catarina percebeu isso, no entanto quem mais sentiu foram os filhos: não tinham mais amigos, os telefones tarde da noite, as baladas pela estrada afora, os porres e risadas de fim de semana, as piadas e gozações que qualquer jovem sabe fazer, nada mais disso fazia parte de seus mundos, e também como não queriam comentários que estavam namorando não se encontravam, porque não estavam namorando. Ambos então limitavam-se a o árduo auxilio de tarefas da casa, planejamentos para as mesmas, e passeios sozinhos e com a família logicamente, apesar do clima de luto isto era bom e dava certo, porém, como é normal, amigos eram diferentes e precisos... Os jovens sabiam que precisavam mudar de rotina, uma grande mudança tinha de surgir... Já que uma infeliz mudança acabara assim com suas vidas, era necessária outra mudança brusca, só que boa, para melhorar.
Deu um suspiro profundo quando topou com o pedaço de mármore no chão do cemitério, Carlise quase chegando ao túmulo do cunhado, em sua mania frenética de usar rasteirinhas, esborrachou o dedão em restos de túmulo. Xingou e imaginou mil coisas a respeito: o que faziam os coveiros ali que não limpavam uma coisa daquelas? Que prefeitura mais incompetente! Quem foi o ignorante que deixou essa sujeira aqui?... Dentre coisas mais pesadas, sentou-se na beira de um túmulo, e tirou um lenço descartável da bolsa para limpar o fio de sangue que lhe borrara a pele. Umas pétalas de rosa grudaram na sola de sua rasteirinha, tinha agora certeza de que não deveria realmente ter vindo com aquele calçado. Estava louca da vida, e ao tirar as pétalas com um caco de tijolo, deixou um pacote de velas cair da bolsa aberta, o coveiro apoiado numa enxada pôs-se a rir bem longe, defronte a uma velha capela ornada de matagal. Antes que juntasse o pacote no seu leve curvar de costas, o mesmo flutuava em auxílio pelas mãos de Eduardo.Nas mãos as velas, no rosto, colorido sorriso:
- Eu trouxe os fósforos, vamos?
Ela não esperava ninguém, muito menos Eduardo com fósforos para acender velas no túmulo do irmão. Juntos, Carlise cuidando onde pisava, pois não queria mais incidentes e o dedão ainda doía. Agacharam-se juntos, e dentro da casinha de velas, suja de cera e fios preto de pavio acenderam juntos um pacote inteiro de velas, tanto brancas como coloridas. Carlise pensou que ali, ambos, cabeça a cabeça em poucos centímetros fossem se beijar... Não que ela quisesse, mas porque seria apropriado... Como Seria apropriado se ela não queria? Era carência! Simplesmente isso. No entanto beijo nenhum aconteceu, apenas o pousar de um pardal no túmulo a piar com humor como se estivesse a contar piadas, assustando Eduardo, que também parecia a esperar por um afeto mais ousado.
Sentaram-se na beira do jazigo, ninguém chorou, embora o caçula de Dna Maristela tivesse os olhos tristes e fizesse carinho na foto sorridente do irmão. Sem desviar o olhar, a alma no fundo do poço, fez a louca proposta:- Carlise, quer casar comigo?
A reação foi zero. Também, já esperava o pedido, e se ele não o fizesse, ela faria, mesmo que impróprio e indelicado, porque sabiam que não se amavam, que os conceitos básicos de um casamento não estariam presentes naquela relação, mas toda a questão da solidão, da falta de vínculos e contato que as famílias estavam tomando, seria solucionada. Esta era a mudança brusca que tanto precisavam! Era loucura sim, mas sabiam que os pais iriam aceitar porque também estavam começando a ficar fora de si, e acatariam qualquer idéia para não ver o findar daquele pequeno universo que eles formavam.
Gotas espessas de chuva passaram a brindar a terra sem sossego, correram para se abrigar na pracinha em frente á capela mortuária, os bancos muito limpos, o lugar um pouco escuro, agora ainda mais pelo tempo fechado. Lado a lado traçaram todo o plano: ele tinha bastante dinheiro numa poupança, o suficiente para comprar um casa, trabalhava, e com ajuda dos pais poderia sustentar isso tudo, além dela mesmo trabalhar. Anunciariam, e logo em seguida, em uma cerimônia simples, sem convidados, se uniriam para unir os pais.
Em mais um almoço sóbrio, e morto de domingo comunicaram... Sorrisos caíram como a chuva do dia da decisão. Na cozinha, ao repor da torta de bolacha, tentando desamarrotar o ombro da camisa do filho Dna Estela perguntou se aquilo era pelos pais ou por eles mesmos... “Claro que era por eles mesmos!” E assim justificariam sob qualquer pressão, até a morte! Não era tão feio assim mentir!
Sobreviveram todos a cinco meses da morte de Estevão, mandaram rezar uma missa especial a finada alma, conjuntamente com a missa de casamento dois filhos... Uma bela cerimônia, a igreja quase vazia, mas isso era nada perante todo aquele sério fingimento, era nada perante o plágio de beijo apaixonado que tiveram de dar ás forças pra não despertar questões em cabeça alguma. Catarina louca, prestes a ganhar a criança, ser este que veio noticiado sem pesares ou caras feias, entendiam todos também que era um pedaço dele que ficava, a maior lembrança, e lembrança viva! Porém não a deixavam sozinha durante muito tempo, tinham medo que ela se matasse assim levando a criança, a lembrança. Ela não se vestia mais direito, qualquer coisa estava boa, não penteava os cabelos, falava pouco, tinha alterações de humor sem motivos, falava e cantarolava baixinho sozinha, ligava para números inexistentes e fingia falar com amigos de Estevão, perguntava onde ele estava, era uma grande dor vê-la assim, vê-la não mais Catarina, apenas um fantasma, o resto ruim do que realmente fora um dia. A mãe e a irmã que ainda a faziam ser um pouco gente, e apesar de todas as coisas queriam ela perto, e não numa clínica ou casa de recuperação como tantos sem saber da causa sugeriam.
Compraram a casa do vizinho de Dna Andréia, grande, espaçosa, de janelas gradeadas, mas sem muro. Em uma posição incrível, das 10 horas ás duas da tarde, o sol entrava escaldante, incrivelmente iluminador por todas as janelas da casa, em todos os quatro quartos, a cozinha, a copa, as duas salas, os três banheiros, o escritório, e a dispensa... Uma casa realmente enorme com o sol em todas as partes, onde tentariam coabitar sem medidas. No dia em que se mudaram definitivamente, sem poderem voltar atrás daquela mentira inescrupulosa e perfeita, Carlise ao pé da escada que dava ao segundo piso, as malas nas mãos, as unhas roídas e mal pintadas, a maquiagem começando a borrar das lágrimas... Olhou cada degrau, viu como eram lindos, e eram dela! Poderia pisar á vontade, dançar, transar e derramar comida neles. Eram seus, e pagara um preço muito mais alto que qualquer talão de cheques ou maço de cifras conseguiria destinar. Ali, tendo que subir os degraus, lhe tomou a mente, a realidade de tudo que viria pela frente, e não se tratava de sexo porque já estava tudo combinado, mas sim de mudança de hábitos e fingir, fingir, fingir... Não ser, não ser, não ser e acabar sendo. Temia o descontrole que causava sua emoção. Engoliu em seco, e subiu com as malas para o seu quarto. Dos quatro quartos ocupavam dois, um para ela, assim deixando vazio seu quarto na casa dos pais. Deixava também seu coração naquela casa, porém tinha esperança de que algo ruim acontecesse, não exatamente ruim, mas algo, e então tudo acabasse, tudo se consolidasse sem precisar do insano ato. Porém nos primeiros dias, estava valendo a pena, sentia o sorriso doer o rosto quando via os pais se divertirem junto dos outros. Naqueles dias Catarina parecia estar melhor, estava falando coisas que faziam sentido, procurava se arrumar um pouco melhor, e de certa forma cuidava do filho e sentia mais fome, a barriga enorme, quase o dobro de si. Era tudo bem quase que perfeito, no entanto havia uma pedra no calçado de Carlise e Eduardo: Catarina! A depravada, não sabiam como, mas ela sabia que faziam aquilo pelo lado social, que o casamento, a nova moradia, o relacionamento num todo era mentira, e odiava isso, sempre dizendo que contaria aos pais. Carlise mais ainda a fundo no seu personagem dizia que era loucura, quem estava mentindo era ela, e eles se amavam, por isso estavam juntos. Esta última parte, a do amor era a que mais doía, só doía menos do que a raiva que sentia pela irmã agora. Tinham de negar até a morte, tanto empenho não poderia ir por água a baixo, fora demasiado arriscado, estava sendo, e não poderia deixar a viuvinha depravada estragar tudo que estava valendo seus esforços. Certa vez, no dia seguinte a “noite de núpcias”, ela ameaçou com uma tesoura, os pais que conseguiram acalmá-la, e afastá-la, e o medo ainda permanecia, o ódio permanecia.
- E sei que é pecado, mas tem horas que penso que é melhor ele estar morto mesmo, pois isso aconteceeu, e parece que estamos mais felizes!
A hora do cafezinho após o jantar, Catarina havia ido na casa de Carlise, Dna Andréia o repreendeu com olhar de fúria, pensava o mesmo, mas era realmente pecado, por isso nunca falara. E nunca queria escutar, não de novo: - Amilton, não fale assim. – A bandeja trêmula na mão, o adoçante pela metade com alguma coisa branca boiando no vidro. – Há males que vem para o bem, e pronto, aceite isso.
Ele prosseguiu, meio embriagado com a cafeína, o noticiário anterior a novela falando sozinho sobre uma bomba num shopping desconhecido e bem longe do país, queria chegar a um acordo sobre a “necessária” morte: - Mas você não concorda que estamos vivendo bem? Porque se Estevão estivesse vivo, nada disso estaria acontecendo.
- Como você pode saber? – ela nem olhou para trás, colocava as xícaras no fundo da pia, iria lavar só amanhã pela manhã, a cozinha já estava toda limpa mesmo, parece que dali brotaria um abriga, e ninguém queria perder, ela voltou á sala: - Eles se amam Amilton, e se amariam mesmo se Estevão não tivesse morrido. Não existe este negócio de “males que vem para o bem”.
- Entenda Andréia. – Ninguém movia um milímetro qualquer parte do corpo – Se ele não morresse, não haveria a carência dos dois, não aprenderiam a se gostar, e não estariam juntos!
- Que preço alto para amor, não acha? Alguém ter de morrer para um casal ficar junto! É alguma espécie de sadismo? Isso não existe, não foi conseqüência da morte dele!
- Aceite, quando quiser, mas, por favor, aceite. Se ele não morresse, não estaríamos tão felizes como agora!
Desde que saíra de casa, a pouquíssimos metros da casa da irmã, Catarina escutava uma discussão, sabia que os pais não estavam conversando, sabia que vinha da casa vizinha, esperava na surdina pegar algo que comprometesse o casalzinho. Era mentira, tinha certeza disso, os olhos de Carlise não deixavam mentir. Eduardo conseguia muito bem fazer seu personagem, mas Carlise era péssima! Ele merecia o Oscar! A futura mãe entendia perfeitamente tudo o que queriam com aquele jogo, o instinto selvagem de tempos modernos, mas não concordava e pretendia naquela noite acabar com tudo, fosse como fosse, era para o próprio bem deles... Sentia dor no ventre, continuou na noite bem iluminada, com quase sóis por toda a rua na base dos postes, a grama seca de boa textura acariciando as sandálias estilo boneca. A mão na barriga não aliviava o fardo da gestação, e sabia que não demoraria muito para a criança chegar, só queria que aquilo acontecesse depois de acabar o que tinha de fazer... A porta dos fundos estava aberta, sorrateira, sentindo-se um elefante, agoniada e nervosa, e muito dor no ventre: o bebê iria nascer, mas antes tinha de acabar com aquilo! Segurava-se com todas as forças, e dali, da área de serviço repleto de roupas úmidas que a criada já ausente estendera mais cedo, era possível ver pela fresta da porta o casal na sala de jantar discutindo:
- Você Eduardo, começou isso tudo! Você tem de terminar!
- Terminar para quê? - ele a segurava nos braços, tentando contê-la. – Não estamos apaixonados, mas sabe que os nossos pais estão felizes!
Ela riu, simplesmente riu no seu calor da casa enorme e solitária: - Eles estão, e eu? Amo meus pais, mas cada um tem de lutar pela própria felicidade. E eles que lutem pela deles, porque essa não é a minha!
- Eu também não quero viver com você o resto da minha vida, nesta farsa mal feita de conto de fadas... Mas o que quer que eu faça? – os cabelos loiros revoavam e mudavam de tonalidade com a luz em cada passar dos grossos dedos. – Eu admito que foi um grande erro, mas também não sei o que fazer!
Que pena, haviam ensaiado tanto para nada, Catarina escutara tudo, era o que queria ouvir, pareciam seguir o seu roteiro, mas sua mente exaltara-se tanto que não conseguiu mais agüentar a dor e ajoelhou-se num grito insano, admirando aterrorizada o sangue da bolsa que acabara de estourar lhe aquecendo as pernas.
Poucos segundos, nenhuma pergunta apesar do espanto, e Eduardo a colocava na própria cama enquanto Carlise fora chamar os pais na casa ao lado. Para a surpresa da garota chovia bastante, e trovões piscavam pelos arredores. Quando chegou na casa dos pais, o que viam na TV era a previsão de uma furiosa tempestade ainda naquela noite, mas pouco ouviu estas palavras da repórter que tinha uma imensa espinha no nariz, e aos berros avisou-lhes da chegada inesperada do neto. A chuva agora era bem mais densa, e, de repente, Catarina notou num piscar de olhos em seu delírio de dor, os pais e os ex-sogros ao redor da cama. Com água e panos molhados não havia mais tempo para o transporte até o hospital, ela poderia não agüentar, então as duas mulheres mais velhas, mesmo temerosas, realizaram o serviço. Era como se voltassem há séculos, onde não havia qualquer recurso. Os homens fora da sala, nervosos, e Sr. Amilton roendo bolachas de água e sal para conter a tensão, e foi em seu quarto biscoito que ouviu um último gemido alto de Catarina e na ritmada seqüência um choro de bebe vindo do aposento, tudo estava bem e o biscoito esvaiu-se de sua boca em farofas num uivo de alegria.
O bebê era lindo, lembrava muito o falecido Estevão, o que comovera e arrancara lágrimas de todos. Catarina nem parecia ter parido uma criança, estava bem, e não se sentia nem um pouco cansada ou dolorida, o que era anormal para um parto normal. Reuniram-se na sala, lavaram a criança e Catarina levantou-se com ele no colo sem qualquer problema e ficou com eles. Era o momento perfeito para contar tudo o que ouvira na casa da irmã hora antes de gerar a criança, fitou Carlise com suma intenção, e esta entendeu em seu gesto de engolir o nada, por medo quase suplicou com os olhos, diferente de Eduardo que a esta altura entendeu p que se passava e contrapondo as próprias idéias, colocava em seu foco, nas belas íris azuis um desafio: “conte se tem coragem, se é mesmo capaz!”
Sentados nos amplos sofás forrados de tecido caro, era a hora, embalando o bebê, com o timbre forte Catarina exalou sua canção de ódio: - É muito bom que todos estejam aqui reunidos nesta nova casa que convivemos, pois eu tenho que falar algo muito importante.
- Catarina, por que não dá de mamar ao bebê no quarto? – Sugeriu Carlise tentando calá-la, mas já havia amamentado, e estava tudo bem com ela e o filho, menino que nem nome tinha.
Foi o fim do pavio, onde a explosão aconteceu: - Não, não vou, porque tenho que falar a verdade. – Muito calma, embora enérgica e forte em casa sílaba. – O que eu quero dizer é que o casamento dos dois é uma grande mentira. – Os pais de Eduardo a olhavam incrédulos, sem entender, com interrogação em cada ruga, já os seus pais como robôs, nem reagiram. – Eles não se amam, pelo contrário se odeiam, mas estão juntos para que vocês fiquem juntos! – Carlise tentava conte-la, mas Eduardo a segurava, deixando o discurso da cunhada fluir. – Todos sabemos que perdemos os amigos, e até mesmo a companhia da família, e só nos demos conta disso quando Estevão morreu, mas não tinha mais jeito, tínhamos de preservar uns aos outros porque somos a única coisa que temos. – O barulho forte da chuva a fazia quase gritar, relâmpagos e trovões a todo instante, os ex-sogros com tremendo desgosto, os pais ainda imóveis. – E quando estávamos perdendo até mesmo este convívio, o jeito que eles arrumaram foi casando, construindo todo este conto de fadas para continuarmos no nosso conto de fadas... – E ela relatou passo a passo tudo o que sabia, até mesmo o que não vira, e parecia ter uma bola de cristal para adivinhar. Falou das discussões que presenciara, o bebê em seu colo dormia como um anjo enquanto a mãe agia como um demônio.
Todos pasmos, a mãe de Eduardo debulhando lágrimas, o pai visivelmente perturbado, os pais dela nem um pouco abalados, Carlise querendo matá-la. Ora, ora que contradição: logo Carlise que queria acabar com tudo aquilo estava em cólera porque alguém o fizera, e Eduardo que tanto evitara, nem um pouco se incomodara. Mas era tudo sentimento, coisas internas, a conversa levou ritmo inesperadamente tranqüilo, enquanto pulsavam demais, estavam chocados demais.
- Isso é verdade meu filho?
Sem hesitar ele confirmou, e a conscientizou na frente de todos que era o melhor caminho, antes que não houvessem mais caminhos, ela calou-se com a respiração exaltada. E tudo que Catarina disse foi admitido pelo casal, como uma confissão de assassinato em um tribunal. Catarina sorriu e riu de loucura.
- Amilton e Andréa, vocês sabiam disso?
E para surpresa do casal e da filha mais velha, eles disseram que sim... Era evidente em cada palavra, na felicidade fingida dos dois, e eles entendiam de felicidade e vida a dois. Catarina tentou piorar as coisas, porque ainda tinha vontade de matar a irmã: - Eles mentiram, por causa de vocês! Isso é o cúmulo não acham? Enganaram seus sentimentos! Vocês merecem uma mentira deste tamanho? Vocês merecem ser enganados para o resto da vida por dois frangotes que dizem ser apaixonados? Isso não é amor, é egoísmo, é desrespeito com os pais. Eles os fizeram de bobo todo este tempo!
Grito a fizeram calar a boca, e Sr. Amilton viu um lado bom da história, enquanto Dna. Estela chorava e o marido não queria acreditar em ninguém, mesmo assim a atenção foi dada, quando um trovão se fez ali bem perto da janela da sala: - e vocês não conseguem ver um lado bom nisso! Agora que nós estamos felizes, com você e Estevão, Catarina, não éramos felizes...
- Eu sei pai, mas acreditar em uma mentira é ser feliz? Mas, meus parabéns! – A ironia e ódio iluminavam seus pensamentos. – Contudo eles conseguiram deixá-los mais unidos do que estavam antes, a morte nem sempre é ruim não é mesmo! – Ela conseguia realizar o corpo da irmã agonizando em seus braços, era o que mais desejava neste momento. – Talvez este seja o maior prazer da morte, unir a todos, mesmo de forma errada... A morte tem tantos prazeres não é mesmo? Deve ser tão bom matar alguém, assim como é bom que alguém morra para sermos felizes, para que alguma coisa nos sobre além de problemas, mas o seu maior prazer ainda é unir as pessoas, mesmo que de forma errada!
Sentiram a casa toda tremer por um raio bem próximo, o bebê parecia assustado, mas Catarina ao mesmo que falava, o embalava uniforme, e na casa toda, na redondeza toda o breu engoliu a vivência.
Leves gritinhos e suspiros soaram como resposta, o escuro era prolixo e assustador, ninguém ousou se mover, mas ouviram a porta de entrada da casa bater abaixo do ruído forte da chuva.
- Estão todos aqui? – Eduardo chamou um por um, não se envolvendo com a porta, porém com medo de uma possível invasão.
Todos falaram nome por nome, faltou Catarina, a chamaram por mais de uma vez, então Eduardo teve certeza: ela quem saíra pela porta que todos ouviram bater, com o bebê nos braços. Na chuva, louca, com seu filho que há pouco fazia uma hora de nascimento. Molhada, com o bebê chorando muito, foi até sua casa e apanhou uma faca na gaveta, e saiu dali rápido, na chuva, no quintal de sua mãe, cortou o pescoço do pobre anjo que acabara de chegar ao mundo. Se ela não precisava de marido, ou o amor de um homem como fora Estevão, tampouco precisava daquela criança. Efêmero foi o lavar do sangue em suas mãos pelas gotas pesadas,e o corpo já sem chorar foi jogado seminu como estava numa poça, era tão bom não ter aquele peso nos braços, aquele filho maldito que ela esquecera de abortar na hora certa, parecendo um soldado de guerra extremamente bem treinado, ela conseguia ver em meio ao crepúsculo, e se foi com a faca em punho, a próxima vítima era a irmã.
Eduardo saíra atrás dela, seguido dos demais homens, com uma potente lanterna. As mulheres ficaram iluminadas por velas, cintiladas momentaneamente pelos trovões lá fora, estavam com medo abraçadas no sofá, em pranto, e depois de algum tempo que se deram conta da porta aberta, destrancada... Mas já era tarde demais.
Estiveram na casa, viram as pegadas molhadas até em frente a pia quase se confundindo com as suas, e cada um repetiu o gesto: pegar uma faca, e deixa-la firme na mão, não sabiam o que esperar e nem para o que utilizar a faca. Vasculharam toda a casa, cada canto escuro que se irradiou pela luz descomunal, e nada havia.
Dna Andréa e Carlise não agüentavam mais, o que estava acontecendo lá fora? Temiam tanto pela criança, e saíram juntas e temerosas, foram direto aos fundos da casa, portando uma lanterna fraca, avistaram os homens vindo de dentro da casa, e logo após todos juntos viram o bebê morto. Um grito de pavor uníssono abafou os trovões, e avó o pegou com ternura, manchando-se do seu sangue, do mesmo sangue que o dela, e o levaram para a casa mais próxima, encharcados e gelados.
- Precisamos achá-la, antes que ela faça mais alguma loucura! – Eduardo era um dos poucos que conseguia raciocinar de forma correta com palavras assim. Dna Andréa secava as lágrimas do rosto úmido e trêmulo, a criança também não significava muito para ela, ainda mais agora depois de morta, mito maior que o sentimento foi o choque de ver pela primeira vez em toda sua vida, aquele corpo morto no seu quintal. Eduardo colocou a lanterna na altura da cintura e iluminou todo o arredor, não viu o rosto de Carlise, ela não estava mais entre eles. Sr. Amilton e Eduardo e o pai gritaram pela moça, mas ninguém respondeu, e temiam pelo pior. Um golpe traiçoeiro do destino, mais um ponto apagado em várias vidas. Seria isto realmente? Era muita dor, era maldade de Deus!
Catarina aproveitara quando Carlise afastou-se um pouco dos outros e lhe deu um golpe na cabeça com um pau, ali mesmo do quintal. Levou a irmã desacordada para a casa dela, trancou todas as portas e a levou para o quarto onde tivera o filho, ela começava a despertar quando um trovão caiu lá fora e suas roupas encharcadas molhavam em demasia o lençol azul de puro algodão. A irmã mais velha rangeu os dentes, tinha muita raiva da caçula, e assim que ela abriu os olhos, passou com força a faca no pescoço, pode ver em meio ao fluído quente e rubro algumas veias partidas: - Você não sabe o quanto isso dá prazer minha querida irmã! - Passado toda a raiva, tendo certeza do bom serviço cumprido ela escondeu muito bem o corpo e saiu pelos fundos, pois alguém mexia na maçaneta da porta da frente.
Eduardo e seu pai tentavam abrir a porta, enquanto Dna Estela, Sr. Amilton e Dna. Andréa ligavam para a policia? Por que? Por que aquilo se fazia necessário? Era uma família... E será que no fundo ainda se amavam? Precisavam acabar com aquilo, mesmo que da pior maneira, antes que aquilo, chamado Catarina, acabasse com eles. A policia estava a caminho, e isso provocava mínimo alívio e ainda maior tensão. Não sabiam do que ela seria capaz até eles chegarem, e principalmente quando os visse chegar.
Eduardo arrombou a porta e entraram, viram a cama molhada, mas não viram o corpo, prontamente recuaram com boas esperanças. Os ocupantes da outra casa a evacuaram e foram para os vizinhos, para a casa assombrada ao encontro dos outros, mas estes também não estavam mais lá, e sim a procurando pela rua. Alguns vizinhos olhavam pela janela, e uma rã coaxava alto, em alguma calçada, fugindo da chuva, agora mais amena. Um novo encontro se fez num outro ponto da rua molhada, quando neste instante a luz retornou pela redondeza... Dna Andréa recuou silenciosa afim de entrar na casa da filha, e saber o que acontecera com ela, o que ela já sabia que havia acontecido. Na porta da casa arrombada ela mentalmente refez o crime: - Ela matou a Carlise, e escondeu o corpo ali mesmo, e já foi embora. Eu vou achar o corpo dela, nem que custe minha vida.
E ás costas dos demais passou pelo portal e seguiu em frente, acendeu a luz rápido, pois com as mãos molhadas temia ganhar uma descarga elétrica. Andou devagar, tensa. Onde ela haveria escondido o corpo daquele fruto de seu próprio corpo? A chuva parecia haver terminado agora, e ás cegas, na cozinha ela indagou ao nada: - Catarina, se você está aqui filha, apareça, e me mostre onde está sua irmã! Eu não tenho medo de você apareça! – e ficou parada, atenta fitando o horizonte no armário de fórmica sobre a pia, sentindo os últimos pingos caírem de sua calça de moletom, mas nada aconteceu, o silêncio era a única resposta, então abriu a geladeira.
Enquanto a policia estava a caminho, perguntaram de porta em porta sobre Catarina, não sentindo a falta, não se doando ao tempo de sentir a falta de Dna. Andréa. Ainda era cedo e todos os chamados atendiam, de pijama, de roupão, bem a vontades com trajes repletos de manchas que nunca sairiam, com roupas esburacadas pois estavam em seus lares descansando para um novo dia, havia até mesmo um senhor, Sr. Olavo, viúvo que morava com uma irmã também viúva, que trazia fibras de laranja em seu bigode gordo, mas como não fazia questão de beleza ao próximo, respondeu a mesma coisa que todos: “Não, ninguém viu ela”. E como se soubessem o que estava acontecendo, tampouco demonstravam interesse por algum fato ocorrido, ou ofereciam ajuda em delicadeza.
Em toda cozinha ela não se encontrava, inutilmente chamou pela filha mais algumas vezes e a resposta sempre foi a mesma: não houve resposta. Abriu todas as portas, com medo, um arrepio único mandando em seu corpo e frio. Não sabia como a encontraria, se é que a encontraria. Nada no banheiro, nada na sala, chegou ao quarto do casal e viu a cama molhada e sangue no lençol azul, chorou de compaixão inutilmente, agora tinha a certeza que não queria acreditar, num impulso abriu o guarda roupa, e para sua surpresa, não estava ali... Nem embaixo da cama, nem no banheiro do quarto. Foi devagar até a lavanderia, e no balcão de passar roupa havia um volume estranho coberto por lençol, ela descobriu receosa, mas era apenas roupa. Antes de voltar, num gesto leve abriu um armário, e caiu com o peso morto da filha sobre o seu. Seu choro era um uivo de dor. Sua vida nunca mais seria a mesma. Eram famílias que nunca deveriam ter se conhecido, serres humanos puros, agora cheios de podridão. Vidas interrompidas por loucuras. Conseqüências de um amor hipócrita muito mal amado e egoísta. O mundo iria acabar, dentro de não muito tempo, sem restar um pouco mais que lembranças.
As mesmas lágrimas rolavam de Eduardo, sentia-se tão fraco, tão confuso. Ele chorou na calçada já sem saber o que fazer, enquanto Dna. Andréa chorava no interior da residência, com o corpo da filha no colo, e enfim a policia chegou.
Ansioso, numa pitada de empolgação, ele perguntou aos três guardas inúmeras coisas, e todos, com os oficias a frente, novamente entraram na casa que mais parecia amaldiçoada, pela porta arrombada. Dna Andréa ouviu e de olhos extremamente vivos levantou-se e pensou ser Catarina, mas não era, porque esta abriu a porta da área de serviço, e rendeu a mãe com a faca que esta cortava legumes. Lhe colocou toda a extensão do afiado gume ao pescoço, e a levou para a visão dos que chegavam.
Um grande barulho, era quase guerra, e Catarina prometia mata-la. Parecia treinada, acostumada com todo aquele suor ruim e sangue. Ninguém se mexeu enquanto os policias com a vilã na mira de seus revolveres tentavam dialogar com os demais da família. Dna Andréa disse que o corpo da filha caçula estava no chão da lavanderia, e Sr. Amilton afastou-se decidido, saiu da casa sem ninguém, mês mesmo a bandida, notar. Ninguém sabia, mas ele guardava uma potente espingarda em casa, a pegou com cautela, encheu de munição e antes de retornar ao cenário principal dos fatos, colocou a arma na porta da lavanderia., então voltou com o exato cuidado que saiu.
- Catarina, vamos conversar. – Sugeriu ele, dando o ar de sua graça.
- Vamos filha, ninguém vai te fazer mal, somos seus pais e tudo vai ficar bem. – Reforçou a mãe, e era tudo o que os policias queriam, que assim fizessem para que coisa pior não precisasse ser feita. “Tudo vai ficar bem”, era isso que ela queria ouvir, e principalmente de alguém que ela pudesse confiar, e embora a matriarca não tivesse mínima segurança daquelas palavras, as colocou no jogo por pura sorte. Ela aceitou, e foram para a lavanderia, cochichavam, e assim que a polícia foi á vista mais próxima do trio, foram recepcionados cada qual com um rápido tiro na cabeça, explodindo seus miolos naquele chão tão lustroso e caro.
- Eles não vão resolver nada. – Disse Catarina calma. – Obrigado pai.
Ela largou a arma, nem um pouco abalada, ao contrapor dos outros expectadores. Todos enlouqueceram, perderam-se. E novamente sentaram naquele sofá, e ela disse que iria se internar num local especializado, sabia que estava louca porque ainda muito amava Estevão. Não parecia em nada a Catarina que matara tanta gente, e nem Eduardo tinha mais vontade de ter a sua cabeça em mãos. Ela até parecia certa, ter agido corretamente.
Parecia sonho, mas tudo acabou, com suas marcas bem evidentes. Catarina foi alegada como louca e realmente se internou. O corpo de e do bebê foram enterrados perto de Estevão. A casa trancada, de ares jamais habitáveis novamente, e todos os sábados e domingos poderiam ver Catarina na clínica, no amplo pátio verde imenso que abrigava tantas pessoas com distúrbio. No primeiro sábado foram sozinhos, Sr. Amilton e sua esposa. No domingo todos quiseram e sempre desejariam ir. Chegaram cedo, e a sua espera a moça de roupas leves e brancas, cabelos negros e pele delicada esperava sorridente, recuperando-se, e assim que os viu cruzar as rosas vermelhas da entrada junto com outros tantos pais, seu sorriso ainda mais se abriu. Cumprimentaram-se ternamente, e a mãe lhe disse, num conjunto pensamento com os demais: - Que bom que está bem filha, assim que gosto de ver você!
Bem... Este era o adjetivo máximo que poderia ser aplicado àquele núcleo. O simples bem estar era o máximo onde conseguiriam chegar, porque já era uma gente muito sofrida. Bem estar ou tristeza e solidão, mágoa e rancor, somente isso, no máximo isso, porque era de plena veracidade quê seria nunca mais felicidade.
Douglas Tedesco – 24 de abril de 2008