INSÔNIA ERÓTICA

Fazia tempo que ele não aparecia por lá.

Lembro-me que costumava vir acompanhado, mas dessa vez veio sozinho. Nem bateu à porta, e assim que chegou, logo foi entrando...

Na verdade , da parte dele não havia saudade, tampouco da minha. Era apenas mais um encontro casual.

Apenas um costume de vir àquele quarto sorrateiramente sob a penumbra do pequeno abajour Luis XV.

Eu que já me revirava sob os lençóis sem conseguir adormecer, logo percebi sua presença.

Aquela voz pousando sobre meus ouvidos, de palavras desconexas , quase um canto de mal gosto, me era inconfundível e parecia vir de longe, aos poucos se tornando mais nítida e íntima.

Irritei-me comigo mesma por sempre ceder à sua presença, e logo fui verificar o modo pelo qual havia conseguido adentrar o meu quarto.

Senti-me desprotegida. Olhei para a janela...não, ele não era nenhum homem aranha que poderia ter escalado as paredes...

Tinha vindo pela porta da noite, e de garupa parecia que voava sobre as asas dos pesadelos.

Assim que o percebi...me escondi sob o edredom, e fingi que dormia.

De nada adiantou, pois sei que ele me acharia até no inferno. E se anunciava e me procurava...mergulhando improvisadamente naquelas cobertas de verão...

E a noite toda me achou, e me tocou, e me sugou...

Dei-lhe um tapa. Aquilo não era amor. Era ódio antigo. Não o atingi, pois ele sempre foi mais rápido do que eu.

Por uns instantes me deu trégua. Cochilei momentaneamente...e acordei com mais uma sugada e um débil cochicho, e mais outra ...e mais outro.

Me desesperei. A noite estava perdida.

Decidida...levantei e acendi a luz do teto.

Procurei-o por todos os cantos e de súbito, lá estava ele a me zombar.

Peguei meu chinelo, e num único golpe certeiro esmaguei aquele amante- inseto notífugo!-, contra a textura colorida da parede, aonde jaz feito uma obra de arte moderna, de sangue surrealista...e sem moldura...

Apenas nós dois sabemos o seu abstrato significado...