Desejos mórbidos de um coração sombrio
Ele tinha o desejo da noite persistindo em sua mente, não queria mais nada que não abandonar a tudo e a todos e entregar-se por completo à solidão que mesmo sem sentir, queria que fosse sua amiga, sua amante. Ele havia se tornado em escravo de suas próprias vontades doentias e nada, definitivamente nada, o acordava para a vida; desejava apenas cair e cair. Rogava às estrelas foscas que o levasse para longe de tudo, queria de forma desesperada ser esquecido. Nada mais o motivava; nem os corações que ele havia quebrado, nem os corações que ele quebrava e nem mesmo todos os que ele poderia quebrar.
Congelado no tempo, ele tinha forças para abandonar a mortalha de dor e sofrimento, contudo, não queria isto de verdade; ele não era bom e sabia disso. A sombra da esperança esquecida se dissipava a cada gota de chuva negra e fria que molhava seu corpo cheio de cicatrizes. Ele precisava ser esquecido para habitar, solitário, a rua da perdição tosca que se fazia tão atraente por fazer seus tantos pecados sumirem. Precisava da eternidade da noite e não queria de maneira alguma o sol. Ele odiava a luz e não queria acordar para um outro dia; ele não queria que o esperassem.
Onde estavam os beijos que guardavam vivacidade e calor? Ele não podia responder. Não havia como responder se nem o vento, dono de toda a sabedoria, sabia a resposta. Acaba a misericórdia, acabava a felicidade, acabava a esperança. A partir daquele momento começavam os desejos perdidos, os sentimentos cegos, a tristeza fúnebre. Tudo havia retornado com força máxima, expulsando o amor; aquele sentimento repugnante que o havia transformado, por hora, num ser medíocre e pequeno, cheio de bobagens e pormenores. Tudo havia retornado e retomado seus devidos lugares.
Era ele e somente ele, tão divino e tão amaldiçoado, espreitando e sugando tudo o que podia preencher seu interior gélido de concreto. Não adiantava, era ele junto a todos os espíritos negros que pesavam notoriamente em suas costas.
Ele sabia, ele queria.