TODOS ESTES PEQUENOS PRAZERES

- Oh! cala-te, cala-te! Já não posso suportar essa tua lamentação vazia e cheia de superficialidades! É enojante, é indigno. Alías, indigno de mim, por que a ti já não te resta dignidade alguma, pelo que posso ver. Vai, anda, toma teu chá e despede-te, eu não posso mais suportar tamanha falta de pudor e brios. Quer dizer que vieste assim? Chorando por toda a rua? Alguém te viu?

- ....

- Está claro que importa se alguém te viu! Que dirão de ti amanhã?

- ...

- É o que pensas! A opinião pública interferirá sempre. Vives, por acaso qualquer, numa jungle? Evidente que não!

- ...

- Tenho certeza que entre os aborígenes viverias muito mais feliz! A eles, ao menos, poderias impressionar. Caçarias borboletas, tomarias chá no resto da tua louça e farias de conta que estavas em estudos botânicos em meio à selva! Quem sabes não tomarias por amante algum macaco?

- ...

- Realmente a ti só os macacos amariam! Ou algum selvagem retardado, por que qualquer coisa com algum raciocínio cansa de ti imediatamente. Oh! por favor não recomece, suas lágrimas não me impressionam e não me comovem.

- ...

- Sim, sou duro contigo. Que querias? Que eu dissesse que tenho pena do sofrimento que eu previ que sofrerias? Que eu me deixasse levar pela piedade, quando foste tu mesmo que optasses por estar junto àquele que eu condenei como a um leproso?

- ...

- A responsabilidade é tua, não minha. Mas, anda, vai, vai...devo receber visitas e não estás em condições de permanecer na presença de ninguém.

- ...

- Ah, sim! Mais uma coisa, se pretendes o suicídio, aviso: atualmente está muito fora de gosto, coisa mesmo das classes laboriosas. Lord Byron já não faz o mesmo sucesso. Está em gosto aproveitar-se a vida da melhor maneira, apreciando arte, freqüentando os de bem, enfim...todos esses pequenos prazeres. E outra coisa, saiba que meu fato negro está em conserto, portando, aviso-te, não irei de preto.