Cafetina quando nasce...

Cabrocha, moleca de tudo: pés no chão, vestido num corte só – tubinho, que minha mãe mesma confeccionava - cabelos longos e negros geralmente trançados, cabeça na lua, andava troteando, esquipando; e, não queria ser normalista como minha prima boazinha.

Ainda muito pequena, aprendi a manipular meu pai, durão, firme no caráter e filho seu tinha que andar na linha. Dentre todos os filhos, eu era a única que dele fazia gato e sapato. Eu fazia o que entendia com todos e ele sempre do meu lado. O que eu tinha de fazer era dar uma de coitadinha, meninha desprotegida, pedir-lhe proteção e ele se derretia em mimos.

Nem mesmo minha mãe, que era dura nas convicções, metia-se comigo. Ficava sempre de longe e nos respeitávamos mutuamente; dizia que eu e ele éramos carne e unha. Meus irmãos tinham uma infinidade de obrigações, seguiam uma enormidade de regras e senões e eu, sempre livre, leve e solta, era dono do meu nariz.

Bem antes dos doze anos, acompanhei-lhe numa de suas tarefas, na garupa do cavalo e comuniquei-lhe sobre meu futuro:

- Papai, resolvi o que vou fazer quanto crescer...

- Que bom, filha. Fico feliz, já que você abandonou a escola tão cedo.

- Na verdade, papai, eu sempre soube. Mas só agora decidi.

- Você é meu orgulho, filha. É profissão boa?

- É a profissão dos meus sonhos, papai.

- Então diga lá, filhinha: o que você vai ser, quando crescer?

- Vou ser puta, papai.

Pulou do cavalo ao chão feito raio, transtornado, olhando para todos os lado para certificar-se de que ninguém ouvira minha revelação.Levou as mão à cabeça, esfregou a cara e dizia que eu não dissesse bobagem, que eu não sabia de nada e que eu era apenas uma criança inocente.Perguntou se eu havia dito tamanho disparate para mais alguém. Respondi que havia dito à mamãe, que esta havia me dado um tapa da boca e aquela surra que precisei tomar vários banhos de salmoura. Estarreceu-se com a revelação que tanto insistira, na ocasião, para que eu dissesse o motivo de tamanha surra. Minha mãe batera o pé e decretou, apesar de quase levar, também, surra igual:

- È ela quem vai dizer o motivo da surra!

Depois de alguns meses, resolvi, então, comunicar ao velho pai o motivo da surra e a minha decisão:

- Não sei por que é tão ruim assim ser prostituta... Eu quero ser puta, papai.

- Pelo amor de Deus, pare de falar isso. Você nem sabe o está dizendo.

- Sei, sim.

- Quem te falou?

- Ninguém falou, papai. Eu aprendi sozinha. Ser puta é fazer o mesmo que mamãe faz com você no quarto. A diferença é que mamãe faz de graça e a puta recebe dinheiro em troca. É ou não é? Foi por isso que ela me bateu daquele jeito, naquele dia.

- Jesus me abrace...