Camile Lacrouix
... Ela corria desesperada por entre as árvores nuas daquele triste outono parisiense. O medo era seu único aliado; o medo de tudo, o medo de todos, o medo da vida.
Ela corria, corria, corria... Seu longo vestido branco esvoaçando naquela ventania gélida de outono sorria para noite escura e sombria. Seus olhos verdes de aparência felina transbordavam lágrimas que queimavam seu belo rosto tão desejado por todos os belos rapazes da corte. A cascata louro-prateada de cabelos tão sedosos acompanhava seu desespero com suavidade... Camile fugia. Perguntas não paravam de corroer sua mente perturbada pela solidão.
- Oh, brisa tão fria! Por que não trazes tua amante, a morte, e leva-me de uma só vez deste mundo? Desta vida tão injusta! Poupa-me deste sofrimento sem fim, oh brisa mortífera!
Correndo entre as árvores daquela floresta; aquela floresta onde ela costumava chorar suas mágoas, sua solidão. A floresta, sua única amiga... Aquela que ouvia seus desabafos insólitos, suas frustrações.
- Oh, noite! Por que me permite viver? Responde-me, Lua! Você que, sempre tão bela, daí de cima ver-nos em todos os momentos... Esta tristeza? Por que ela insiste em me abraçar todos os dias? Já não tenho forças para resistí-la! Talvez eu já nem queira resistí-la mais...
A bela jovem Camille Lacrouix, sem forças, atirarou-se no chão acendendo seu último cigarro e clamou por sua mais fiel companheira:
- Ah, tristeza! Vem ajuntar-te a mim nesta última noite agônica! Leve-me contigo para o desconhecido... Tira-me desta ilusão! - Trago em trago, ela suplicava.
A jovem Lacrouix podia sentir naquele momento um vento frio tomá-la de forma insinuante tal, que a fazia delirar... Delirar com um calor insuportável - Calor?
Era como se sua alma fosse arrebatada para longe e ela já não se sentia em seu corpo; sentia-se apenas leve, já não se preocupava com nada. Com o fumo, queimava também sua vida, que já não valia de nada. Aos poucos, sua solidão era apagada junto ao sofrimento de sua alma em gritos de dor que ecoavam à noite macabra.
(...)
Quando a noite já havia deixado de brilhar dando lugar a um sol mórbido naquela França antiga, Camille foi encontrada completamente desfigurada, carbonizada por entre as cinzas das folhas secas, sendo reconhecida apenas pelo medalhão da família de prata em seu pescoço.
Ela havia partido sem deixar saudade... Talvez para um lugar melhor, talvez para lugar nenhum. O que importava? Seu corpo já não mais sofria.
Foi-se.
Um último cigarro, um último trago, um último suspiro de vida.
Foi-se.
A jovem e bela Camille Lacrouix já não mais existia. Nem seu cigarro, nem sua dor.
Trago em trago ela se desfez.
[Primeiro conto que escrevi. Também faz algum tempo]