Colhão de ferro (Comandante Marx)

Palavras bonitas, discursos inflamados, comentários geniais ou medíocres – tais jamais saíram de sua boca e poucos o reconhecem pela voz. Se alguém quiser nele encontrar líteras (grandes saberes) que procure nos músculos. Dado à força, às artes marciais e ao policiar.

Afável no trato, tem grandes amigos, bem sucedido dentro de sua classe social, família bem estruturada, bons predicativos citados facilmente pelos colegas de armas e até comunidade em site de relacionamento.

O comandante Marx recebe uma única lamentação: não fala e não é mudo. Comunica-se através de monossilábicos ou abrenúncios natimortos. Quando inspirado, se bem instigado, é capaz de frases mais longas como ‘ô loco’. Mas do que isto é exigir demais do comandante e carateca!

Comandar guarnição não é simples; tem que ordenar, delegar tarefas e empenhar-se para que nada saia do padrão. Entretanto, nem tudo, todo o tempo, sai a contento. Aonde tem gente, tem transgressão. Haja vista o que ocorreu no turno de um comandante durão, sem papas na língua, colega de Marx.

O Comandante Durão mandou a patrulhar soldado Banana e o soldado Avestruz - assim chamado na coxia porque passava o ferro até em urubu voando: marias-batalhão, travecos, viados, bissexuais – nada tinha perdão!

Soldado Avestruz não fazia por mal e nem queria prejudicar ninguém, apenas, não tinha forças para controlar a turbulenta avalanche de testosterona que o atingia nas madrugadas frias. Então, em aparecendo uma das possibilidades acima, fazia o que ordenara Deus, segundo a cartilha dos tarados: ‘amai-vos uns sobre os outros’.

Certa vez, Comandante Durão flagrou o soldado Banana se ‘cagano’ e rezando dentro da viatura, enquanto soldado Avestruz socava a vara, ferrenho/voraz/deliciosamente, numa maria-batalhão dentro do canavial. Comandante Marx na pele do Soldado Banana, teria assim resumido a saia justa:

-Fudeu.

Comandante Durão – coração nem tão duro assim - não teve saída senão repetir a cantilena ao soldado Avestruz. Afinal, o infeliz tinha esposa, filhos, pais doentes, bom companheiro e não era dos piores comandados, exceto neste ponto. Desceu o sermão:

- Eu não já te falei que não tolero sacanagem no meu turno, Avestruz? Eu não já avisei que vou exonerar comedor de marias-batalhão, traveco, viado e sei lá mais que diabos tu come, Avestruz? Tu dá a bunda pros travecos também, Avestruz? Quantas vezes eu vou ter que te falar que esse pau nojento que tu tem entre as pernas tortas, pertence ao Estado brasileiro, enquanto tu estiver fardado, Avestruz? Se tu não consegue te controlar, Avestruz, decepa essa ninharia/fedida/torta e dá pro Bigão - um cachorro vira-lata que não saía das imediações – mas não atrapalha meu trabalho, Avestruz. Vai tomar no cu, filho de uma ronca e fuça. Eu não agüento mais quebrar galho teu por causo disso, porra. O que é que tu tem dentro dessa cabeça de pitu? Eu não sou teu pai, some da minha frente, Colhão de ferro!

O Comandante Marx, na mesma situação, repreenderia com a mesma veemência. Diria tudo isso assim:

- !PÔ, MEU!