IDAS E VINDAS

Manhã de domingo, 03/12/2008, aeroporto de Belém.

Aquela mulher tão senhora de si em seus negócios, respeitadíssima pelos seus pares nas suas atividades profissionais, de repente se via qual um Zaqueu, pequenina, tendo que se apressar para ver o seu senhor passar.

Enquanto o aguardava chegar, ela pensava em um mundo de coisas ao mesmo tempo, não conseguia se concentrar. Na profusão de pensamentos, imaginava como seria aquele encontro. O que falar ou não falar... A recontagem do tempo, olhos no relógio grande do aeroporto... As horas que não passavam, o atraso do vôo.

Os ponteiros do relógio resistiam a se movimentar e nenhuma notícia se anunciava para os seus nervos a serenar.

A espera de tanto tempo já lhe sufocara o peito e ainda mais aquele atraso inesperado de mais de duas horas, causava-lhe por aqueles momentos um sofrimento atroz.

Suas certezas, seus comportamentos, religião, suas crenças e seus paradigmas de nada lhe valiam, pois de tudo o que até então sabia, seus medos transformaram-se em ansiedade minuto a minuto após.

...enfim, o anúncio da chegada do vôo.

Coração disparado, boca seca, mãos trêmulas e geladas. Pensamentos confusos, não havia mais como retroceder;

Ele estava ali bem próximo, era só sair do avião e o que tanto sonhara iria acontecer.

A temperatura do ambiente contrastava com o termômetro do seu corpo, numa oscilação de mãos gélidas e de um calor no ventre efervescente.

Como seria ele de fato?

O que trazia consigo em suas bagagens além dos seus versos travessos?

Ela, naquele minuto já não percebia o que era direito ou avesso.

Dúvidas; - E se ele não gostar de mim? Se ele me imaginou diferente? Decide ir para a escadaria, pois antes, estava misturada á multidão que esperava alguém.

A noite anterior já não pregara os olhos. Seu sono era volátil em torno dos seus sonhos que lhe mantinha acesa em expectativas de toda grandeza.

O anúncio se faz ouvir da chegada da aeronave, passageiros desembarcam um a um, e onde está aquele viajante que saira de uma terra tão distante para ver aquele complexo de várias mulheres numa única que ousava sonhar em viver e se sentir viva?

Rapidamente, sobe as escadas sem tirar a vista do portão de desembarque. Esconde-se atrás de um pilar, quer vê-lo primeiro, depois pensará em algo, agora, só quer saber o que sentirá ao ver o seu poeta/forasteiro chegar.

Como se fosse uma felina, estrategicamente se posiciona acima de alguns degraus em busca de uma visão privilegiada, queria vê-lo chegar, se aproximar, para mais tarde se sentir mais segura.

Nada, ele ainda não aparecera, talvez estivesse ainda desembarcando, era tanta gente chegando.

De repente... Ela ouve alguém a chamando ao pé da escadaria.

-Até quando viverás aí escondida de mim? Apressa-te em descer daí eu sou o teu Poeta que há tanto esperavas. Quantos sinais de fogo eu precisarei emitir para vires até a mim?

A palidez tomou o seu corpo inteiro... Não sabia o que dizer!

A sua criança lhe desponta, qual flagrada em travessuras, sentia-se sem ação.

O coração da mulher índia sonhadora dispara...Desce devagar, sem tirar os olhos do tão querido e amado trovador, vai ao seu encontro e o abraça e beija, beija em cada lado da boca, com vontade de se perder naqueles lábios convidativos, mas não podia, estavam em pleno saguão do aeroporto, precisavam sair dali. A xinguara, só sorria, mistura de alegria e nervosismo.

Meu Deus seria verdade tudo aquilo?, ela pensava... saira de casa para encontrar alguém que nunca vira, e estava diante dessa pessoa como diante do primeiro namorado... Feita boba.

Um abraço forte,... Quis beijá-lo novamente, mas temia os olhos atentos dos transeuntes. Aquela cena, poderia ser compartilhada por conhecidos, pensou receosa, no mesmo instante que seu busto encostava ao tórax daquele homem dos seus sonhos sem sono.

O abraço foi de corpo inteiro, pois sabia que as suas almas já haviam se unido desde há muito tempo atrás... Ele era tudo o que ela esperava, um pouco mais jovem. Ela sentiu vontade de passar a mão pela barba dele, ainda ousou rapidamente, mas precisavam sair daquele local, ela o queria, não havia mais dúvidas.

Ambos pareciam adolescentes, empurraram o carrinho juntos, mãos sobre mão... Mãos geladas, nervosas, se pegando, se tocando.

Seguem pelo saguão devagar, olhos nos olhos, risadas nervosas, quase se atropelam com outros transeuntes, não viam ninguém, apenas se olhavam. Ela o bebia com o olhar, ele, falava mudo o que ela queria ouvir.

Precisavam sair dali imediatamente, apressou-se em buscar um táxi, e com a atitude da executiva eficaz, rumou direto para o carro do outro lado da rua, mesmo sem perceber as pernas que lhe conduziam, pois a sua mente ainda demonstrava todo um grau de descontrole e encanto.

Ela o conduziu para o outro lado do aeroporto, assim como um dia o convidara para darem as mãos, estavam caminhando...

Ele trazia algumas coisas e ela o ajudou a carregar... E agora? O que viria? Eles pegaram um táxi, a condutora perguntou para onde?. A moça, tímida naquele momento, mas em ação ousada disse... Próximo ao hotel, no motel do outro lado.

Estava selado, eles iriam dar vazão ao desejo que estavam sentindo, iriam compartilhar da intimidade um do outro, sem medo, ele a abraçava dentro do carro, mas ela, não permitia muito, estava chegando o momento de se entregar para o seu forasteiro, ele estava cumprindo uma promessa que fizera, viria ver a sua índia.

Após adentrarem no motel, o táxi os deixa e segue embora.

O forasteiro, fechando as cortinas, sem esperar mais nada, toma a sua linda nos braços...

Coração disparado... Não sei qual batia mais rápido... E o beijo, ou melhor, os beijos aconteceram... Beijos famintos, mesmo sem entrar no quarto nupcial...

Bem depois, ele começa a beijá-la por sobre as roupas, que, ainda no corpo da amada, o impediam de ir mais à fundo...

De forma impetuosa, o viajante dos seus sonhos vai retirando as roupas de sua amada e ela, submissa, vai aceitando, com gemidos baixos... Querendo aquele homem em si, tocando, cheirando, lambendo, quer que ele a possua sem limites, até a exaustão... Não tem medo, não tem receio de nada, é o seu homem chegando para tomar posse do que é seu.

Roupas jogadas, cabelos em desalinho, rosnando qual um cão e o urro do leão... a índia, encharcada de desejos, seus sucos molhando as sua entranhas...e ele, bebe do seu frescor como a provar de um manjar delicioso...depois, beijos na boca de sua mulher, ela nesse momento partilha de algo único, prova do seu próprio sabor, e como era bom.

E vieram os beijos nos dedos... Um a um sendo apreciados, causando-lhe frenesi , nunca os seus pés , acostumados ao chão duro da sua aldeia , a rudez da vida, receberam tanta atenção, o seu homem estava ali, dando muito além do que um dia imaginara receber.

Mas ela quer mais, quer se dar por inteiro...

O "leão" ruge e aperta a sua presa mostrando toda a sua pujança... Ela sabe que ele é seu dono, que ele poderá possuí-la, que não mais fugirá...

Ele passeia pelo seu corpo, como a decorar um mapa geográfico... Conhecendo todas as vicinais e desvios que se apresentam diante de si...

Chega a um local nunca dantes desbravado... Toca... Está molhado... Úmido de desejo... Ela quer mais, quer conhecer o outro lado do prazer... Abre-se toda para receber o seu amado

Mas antes, ele mostra toda a sua pujança no jardim recoberto por matos rasteiros... Arremete várias vezes ali, levando ao céu dos céus várias vezes... Boca na boca, toques, arremetidas... De todas as formas possíveis e impossíveis...

E é o momento de conhecer mais a fundo o outro lado.

Aquele que ficara guardado por longos anos a espera do dono, do desbravador, e esse era o momento de dar-se sem reservas.

Carinhosamente, o leão se veste de menino... E vai aos poucos adentrando no terreno ermo, de acesso difícil. Após abrir o portão, fica bem mais fácil, a índia abre-se toda para receber o forasteiro, que já era dono do seu coração, agora, tomava o seu corpo também, sem reservas.

Para não cair da montaria, ele se segura na crina da sua mulher e galopa, galopa como se voasse. O equilíbrio, a racionalidade deixa de existir para dar lugar ao prazer que ambos estão sentindo, ao amor tão esperado...

Esse momento se sobrepõe a todos os outros já vividos pelos amantes, que se beijam que misturam seus suores, que se amam como se fosse a última vez...

A Partir dali suas almas não mais seriam as mesmas, todo um compromisso e um enlaçamento se concretizaram.

Dois amantes que se permitiram e se encontraram,

Viam seus corpos e suas mentes cada vez mais envolvidos.

Percorreriam inúmeros obstáculos, para se terem um ao outro, como se a cada momento fosse um único nunca já vivido.

O final dessa história começa todos os dias nas manhãs de qualquer aeroporto do Brasil,

Quando um avião aterrissa em solo,

E aquela mulher quebra todo um protocolo

Pra viver um amor de tantas vidas que o tempo não extinguiu.

PEDRO FERREIRA SANTOS (PETRUS)(Em Dueto)

Da série Sinais de fogo e Respostas ao seu chamado.

21/02/08