1213-O MACACO QUE CAIU DO GALHO

O MACACO

QUE CAIU DO GALHO

Era um macaco diferente.

Tinha qualquer coisa de estranho. Mexia com os cipós, puxando-os, quebrava pequenos galhos flexíveis; , ajuntando-os em um só cipó, mais grosso e forte; estava sempre ocupado com essas coisas que os outros não se interessavam. Tinha momentos em em que ficava ensimesmado, parecendo estar perdido em ...pensamentos.

Bem diferente dos companheiros do bando.

Maior e muito forte, porem não usava da força para conseguir mais comida nem para brigar, pois era pacífico e não se irritava com nada, ao contrario dos outros.

Para dormir, preferia o chão seco de uma caverna ou o oco de uma raiz de árvores milenárias, que se destacavam na sombra floresta tropical africana.

Em um entardecer, quando o bando estacionara num trecho denso da floresta, com arvores altíssimas, a tormenta chegou repentinamente.

O tempo escureceu, vento rugiu, arrastando folhas e quebrando galhos. Os macacos, habituados a sofrerem os rigores do tempo encolhidos nos galhos mais fortes, por temerem os tigres, leões e outros predadores que os caçavam no chão da floresta, tremiam de frio, de medo do temporal que ameaçavam desabar a qualquer momento.

O estranho macaco, entretanto, refugiou- se em uma caverna, e, com gritos e gestos, fez com que o bando descesse das árvores e se abrigassem na caverna.

Era uma abertura na encosta de íngreme paredão onde só poderiam chegar os animais habituados a escalar pelas pedras, habitados a grandes alturas e por pássaros ou aves, livre do perigo representado pelos grandes carnívoros, o terror dos macacos.

Uma gruta não muito profunda; dentro dela o bando se abrigara; os peludos animais encolhidos e agarrados uns aos outros enquanto assistiam o desabar da forte tempestade.

Além do vento, havia os raios e trovões, que assustavam os animais a cada descarga luminosa e a cada troar vinds do alto.Cada vez mais intensa, cada vez mais luminosa e barulhenta.

Anoiteceu por completo,

De repente, os macacos ouviram os rugidos grande macaco que,

Saindo furiosamente do meio do grupo, chegou á borda da caverna, expondo-se á chuva torrencial. Bateu no peito, e rugiu para a tempestade, e em seguida, num pulo arriscado, saltou para a árvore mais próxima, agarrando-se nos galhos mais altos.

Como se estivesse tentando voar, tentando imitar os grandes pássaros pré-históricos.

Aterrorizados, podiam ver, o grande companheiro pulando pelos galhos, iluminado pelos incessantes clarões dos raios. O terror os imobilizara á boca da caverna,

Viram o grande macaco galgando os galhos da arvore mais alta que destacava no meio da verdura não muito longe de onde estavam, e o chegar ao píncaro da arvore, erguia os membros dianteiros numa atitude de provocação. Se pudessem ouvir, apesar do poderoso troar, escutariam os rugidos de raiva e de provocação do grande macaco.

De fato, na sua mente os raios luminosos e o barulhão que seguiam, eram inimigos, ameaça de sua existência bem como de seus companheiros.

Gritava e rugia, elevava os membros num desafio ao perigo invisível.

A árvore balançava violentamente sob o poder do vento e da chuva. A figura do grande macaco balançava com ela.

E o inevitável aconteceu.

Um raio mais forte iluminou pela ultima vez o beligerante macaco, atingindo a árvore e fazendo tombar sua copa, mergulhando na folhagem não só a copa decepada como também o grande macaco.

O bando nada entendia do que estava acontecendo, mas nas mentes sem-desenvolvidas, sentiam que o grande macaco fora brigar contra o barulho e o brilho que vinham lá de cima,

A tempestade rugiu a noite toda porém, ao clarear do dia, esvaneceu-se ou tomou outro rumo, permitindo que o bando, ainda tremendo de frio e de pavor, saíssem da cava e retornando a vida normal na procura de alimentos.

A fome sendo maior que a cautela, predominou, e alguns machos desceram das árvores a cata de frutos caídos.

Foi quando toparam com o companheiro que na noite havia lutado contra aqueles inimigos. Deitado no chão coberto de folhas, encharcado até os ossos, estava frio e inerte, parecia morto. Subiram depressa ás ávores, pois tudo o que lhes era desconhecido – e até morte dos membros da tribo – causava-lhes medo e pânico. Fugiram.

O eu da manhã estava completamente limpo, lavado e o sol aqueceu rapidamente o ambiente da floresta; na clareira, jazia o Macaco que caira do galho. O calor do sol foi secando a pelagem e entranhando no corpo imóvel.

Até que, na tarde de calor equatorial, o macaco voltou a si. Abriu os olhos. Movimentou lentamente as mãos, os pés e aos poucos todo seu corpo passou a responder aos impulsos nervoso. Virou-se sobre as folhas. Sentiu que estava inteiro.Teve uma estranha sensação de que algo havia acontecido com ele. Porém de nada se lembrava.

De repente, num impulso, levantou-se num pulo,

E então começou a andar ereto, nas duas patas trazeiras, gigando e balançando os braços ao longo do corpo, usando-os para se equilibrar nos primeiros passos.

Os primeiro passos do macaco que caira do galho – os primeiros passos do "pitecantropo ereto"

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo HORIZONTE 28 de setembro de 2024.

Conto 1213 da Série Infinitas Histórias

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 23/12/2024
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