Sebo nas panelas...?
Naquela segunda década do século 20, ali na Onça, como alhures, não tava fácil pra ninguém. Até mesmo um respeitado vigário como o Padre Fernando Barbosa como um abastado comerciante como o Gustavo Capanema, tinham lá seus perrengues...um coletando minguadas esmolas dos fieis, o outro, vendendo a perder de vista até nos mil-reis... E isso sem contar que a espanhola, quiném essa Zambelli de hojendia, só esperava a guerra acabar para entrar em cena e, simplesmente, arrasar...
E o velho seleiro curvelano Velusiano Justiniano com sua reca de filhos e a caminho dos sessenta anos já não achava encomendas de arreios e selas para confecção ou conserto para estribar a sustança da família. Não digo que não tenha pensado em migrar para um centro mais ativo, feito o Pará de Minas, ou mesmo Palo Alto para sobreviver mais condignamente. Verdade que os filhos de seu terceiro casamento - estava agora no quinto - Francisco e José, já briquitavam na mineração do ouro, e as meninas mais velhas Vicentina e Isabel, iam garantindo pelo menos o sustento da boca, pajeando os filhos do Major inglês e de sua amorável dona Margarida, os peralvilhos, naughty boys, Thomas e Marcus...
Mas a dureza não era mais do que levemente atenuada...a cada dia, uma batalha, e às vezes, nem uma batata, pra famélica família...e mais doía ainda ver a companheira Inhana de panela vazia...
Até que surgiu a ideia, já que o açougueiro não mais fiava, tamanha a dívida estava, de sugerir à Vicentina que fosse ao açougue e pedisse sebo - que era de graça - para os negócios da selaria...mas era para a panela que o sebo iria...