AONDE DORMEM OS MONSTROS?

Era uma vez um homem de meia-idade chamado Florisvaldo. Ele era um pilar da comunidade, um cristão devoto que se orgulhava de sua reputação ilibada. Casado e pai de três filhos, Florisvaldo levava uma vida tranquila, marcada por trabalho duro e uma rotina familiar estável. Passava suas noites assistindo ao noticiário, fascinado por crimes e tragédias que ocorriam ao seu redor. Em sua mente, esses atos eram incompreensíveis; como alguém poderia machucar outro ser humano de maneira tão brutal por motivos tão fúteis? Ele sempre se referia aos criminosos como monstros, incapazes de sentir a compaixão que ele acreditava ser inerente a todos.

Entretanto, sua vida começou a mudar com a chegada de uma babá, Suaíli. A jovem, com seus traços marcantes e uma presença hipnotizante, fez com que Florisvaldo despertasse desejos que ele acreditava estarem adormecidos. A princípio, ele tentava afastar esses pensamentos, mas a atração por Suaíli começou a consumir sua mente. Ele se via fantasiando sobre ela, mesmo nos momentos mais íntimos com sua esposa. A culpa o acompanhava, mas ele não conseguia evitar.

Certa tarde, a esposa de Florisvaldo saiu para levar os dois filhos mais velhos a um compromisso, deixando-o sozinho em casa com o bebê. Movido por uma mistura de impulso e curiosidade, decidiu visitar Suaíli. O que ele encontrou foi uma cena que o paralisou: a jovem estava nua, despreparada para sua presença. O choque e o desejo se entrelaçaram em sua mente, e, sem pensar nas consequências, ele avançou em direção a ela.

A tensão no ar era palpável. Suaíli, apavorada, gritou por socorro, mas Florisvaldo, tomado pelo desespero e pela adrenalina, tentou forçá-la. No entanto, a jovem se trancou em seu quarto, e ele se viu sozinho, com o coração acelerado e a mente turva. O que era aquele impulso? Ele nunca se imaginara capaz de tal ato.

Quando sua esposa voltou, a verdade veio à tona. Suaíli contou tudo, e Florisvaldo, tomado pela vergonha, não pôde negar. O perdão de sua esposa foi um alívio, mas a marca deixada na jovem era indelével. Ela, agora, carregava o trauma de um confronto que nunca deveria ter acontecido.

Aquele evento se tornou um divisor de águas na vida de Florisvaldo. Ele passou a viver em um estado de constante reflexão, assombrado pela revelação de que, dentro dele, existia um monstro. O homem que sempre se considerou incapaz de fazer mal a alguém havia, em um momento de fraqueza, quase cruzado uma linha irreversível.

Diante do espelho, Florisvaldo se questionava: até que ponto a natureza humana é capaz de se transformar? O que mais poderia estar escondido sob a superfície de sua moralidade? Ele aprendeu da maneira mais difícil que todos nós carregamos dentro de nós um potencial para o mal, e que é preciso estar sempre vigilante, pois o monstro adormecido pode despertar a qualquer momento.