1196-APOSTA ENTRE DEUS E O DIABO
APOSTA ENTRE DEUS E O DEMONIO
Einstein teria dito que Deus não joga dados. Ele expressa a idéia de que o universo é não regido por acaso e sim por leis que podem ser compreendidos e explicados pela ciência. Como Einstein era judeu, só poderia estar se referido a Jeová, o deus adorado pelos judeus.
Mas, a crer no que está nas narrativas do Velho Testamento, Jeová jogava, sim. Com certeza não um jogo de dados, mas Jeová interferiu em mito na vida de seus fieis, e fazia apostas que causavam estragos físicos e morais aos homens que o adoravam.
Jeová é um deus a quem se atribue qualidades humanas, como é natural, já que a idéia de deus surgiu da inteligência (ou falta de) humana.Porém, não se registram defeitos na conduta dos deuses das religiões monoteístas. Quer se trate de Jeová, de Alá ou do Deus dos cristãos, todos só têm características boas, como é de se esperar nos deuses, refletindo as características de seus criadores.
Isto posto vou escrever o que penso das características divinas. Jeová, sucedido pelo Deus-Pai dos cristãos (“Pai nosso qe estais no céu...”, é um ser todo poderoso, onipresente, isto é, está em todos os lugares, inclusive na mente dos humanos. Sabe de tudo. Justiceiro. Que pune o mal e presenteia o bem. Criador do Universo e de tudo que existe, existiu e existirá. Pois me atrevo a destacar algumas características (humanas) que não foram inseridas na imaginação dos criadores de Deus. É impaciente e sem caridade, pois no primeiro deslise de Adão e Eva, seres criados por ele e que, portanto, seriam amados como seus filhos, na primeira falha (“errar é humano”). Já partiu para a expulsão do casal do Paraíso, amaldiçoou ambos com castigos: para ele, o trabalho, que iria se tornar uma das coisas mais dignas do homem (“o trabalho enriquece e enobrece – mas é preciso trabalhar”). Para Eva determinou o parto com dores e muito pior, sujeição a Adão. E para ambos estabeleceu a morte e a volta ao pó.
Não deu tempo a Adão para se desculpar ou se arrepender. Qual pai humano faria isso com seus filhos?
Depois, foi interferindo, a pretexto disto ou daquilo, na vida dos humanos: o dilúvio, a destruição de Sodoma e Gomorra, são exemplos típicos de um “criador” que, vendo a besteira que tinha criado (na sua “onipotência”), procurou corrigir, exterminando sem dó nem piedade grande parte da sua criação.
Chego a um aspecto que revela que Deus também é um jogador. Apostador e cruel para ganhar a aposta. É o caso narrado nas velhas escrituras, de Jó.
Neste caso Deus apostou com o demônio a “fidelidade” de Jó”.
O demônio fez o primeiro lance:
— Aposto que até o mais feliz de seus crentes, se posto à prova, o renegará,
— Aceito o desafio. —
---Escolha como você pode provar isso.
Deus recorreu á sua memória fabulosa e impecável e escolheu Jó como protagonista da aposta. Quem foi Jó? Muitos leitores conheçam a sua história dele. Talvez algum leitor não saiba quem era Jó, e para evitar mal-entendidos, reproduzo aqui na integra o que está na Wikipédia, que é uma fonte isenta de tendências religiosas.
“Jó foi um homem muito rico que viveu na terra de Uz. A localização dessa cidade é incerta, porém uma das possibilidades mais aceitas entre os estudiosos é a de que Uz ficava em uma região a leste de Judá e, talvez, fronteiriça com o deserto, porém era uma terra propícia para a criação de gado e agricultura (Jó 1:3,14).
A Bíblia nos diz que Jó era íntegro, reto e temente a Deus. A prova da fidelidade de Jó pode ser vista na afirmação de que ele “desviava-se do mal” (Jó 1:1). O próprio Deus testemunhou que Jó era o homem mais piedoso e correto que viveu na terra em sua geração.
Jó, inicialmente, tinha sete filhos e três filhas, porém no total ele foi pai de vinte filhos, pois os primeiros dez filhos morreram durante o período de intenso sofrimento a qual ele foi submetido, mas depois Deus lhe concedeu que fosse pai de outros dez filhos.
Jó era casado, apesar da Bíblia não revelar o nome de sua esposa. Segundo o texto bíblico, a família de Jó provavelmente era bastante unida, pois seus filhos visitavam uns aos outros em suas casas e faziam banquetes onde se confraternizavam (Jó 1:4).
Jó era um pai que se preocupava com o bem-estar dos seus filhos, e continuamente buscava e orava a Deus de madrugada,consagrando seus filhos ao Senhor e oferecendo sacrifícios em nome dele (Jó 1:5). Jó possuía grande riqueza, e desfrutava de alta posição social. Algumas lendas antigas sugerem que Jó tenha sido um rei, porém não existe qualquer fundamentação para tal sugestão e devemos rejeitá-la. Além do mais, se Jó fosse um rei provavelmente o relato bíblico nos informaria, visto que o texto se preocupou em fornecer detalhes acerca da riqueza que Jó possuía. A Bíblia nos diz que Jó era proprietário de sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas. Uma quantidade tão grande de gado na época em que Jó viveu, certamente representava um imponente patrimônio.
Para cuidar de tantas propriedades, Jó contava com um número muito grande de servos a seu serviço, de modo que, somando tudo, Jó era o homem mais rico do oriente (Jó 1:3).
Assim era Jó, que levava uma existência plena, fruto de seu trabalho, de esforço durante sua longa vida , amando e sendo amado, feliz, enfim. Pois foi este homem o escolhido por Deus para ser o objeto da ignominiosa aposta. Deus permitiu ao demônio que testasse a fidelidade de Jó, acabando com sua riqueza, com a família e com a saúde. Animais foram mortos, filhos também e a mulher o abandonou. Visitado por alguns amigos, estes sentiram até asco ante a degradação física de Jô: feridas por todo o corpo, dores, inchaços, enfim, o que de pior pudesse sofrer um homem naqueles tempos. Jó tudo suportou, louvando o Senhor e até agradecendo, pois Deus podia retirar dele, Jó, tudo o que possuia, mesmo a saúde, já tudo lhe fora concedido por Deus.
Portanto, o demônio perdeu a aposta, como Deus, onisciente, já sabia de tudo. Foi uma provação inútil, e que causou um imenso sofrimento a Jó e morte de todos os que com ele conviviam. Diz a lenda que, tendo ganhado a aposta, Deus proporcionou uma longa vida feliz, com mito gado, novos filhos e filhas, etc. e tal. Cá comigo fico pensando :se Jó soubesse daquela aposta vil, teria, sim, abandonado Jeová e saído em busca de outro deus que não fosse tão sacana.
ANTONIO ROQUE GOBBO
Lagoa Santa (MG), 18 de julho de 2024
Conto 1196 da Série Infinitas Histórias