Encontro na escada rolante

Em algum lugar, duas escadas rolantes dispostas lado a lado geravam um fluxo contínuo de pessoas e olhares em movimento. Naquele dia e naquela hora, o ruído dos degraus se sobrepunha ao murmurinho, preenchendo o espaço quase vazio do ambiente. Entre os passageiros que subiam e desciam, três figuras se viram por um breve instante. Ninguém imaginaria que naquelas estruturas de balaústres iluminados e degraus largos, os destinos desses criminosos se cruzariam.

Na escada rolante que subia, estava a jovem Sophie Benchekroun, filha de mãe marroquina e pai chileno. Ela havia se tornado uma renomada criminosa internacional, especialista em furtos de joias e objetos de valor reconhecida por seu brilhantismo. Sua expressão mostrava sinais de medo. Mesmo com seus óculos escuros presos na cabeça sobre o elegante lenço de seda, como se fosse uma tiara, ela não conseguia esconder a profunda inquietação que sentia. Seu relógio no pulso direito, de uma marca famosa, marcava 9:31 p.m.

A cada segundo que passava, o coração de Sophie acelerava. Ela carregava um pequeno estojo feito de couro macio com um fecho de botão, que, à primeira vista, parecia comum, mas o aperto firme contra o peito indicava que dentro dele havia algo de grande valor: joias. Sophie estava a caminho de um encontro com um receptador.

Enquanto isso, na escada rolante que descia, estava Viktor Horvat, um matador de aluguel de meia-idade. Manco de uma perna, ele exibia um semblante grave e olhos penetrantes. Seu rosto estava parcialmente escondido pelo sobretudo escuro com a gola levantada e pela touca de esqui que usava. Ele dizia ter perdido esposa e filhos durante um brutal bombardeio em Dubrovnik. Desde então, matar pessoas se tornara uma atividade lucrativa e prazerosa para ele.

À medida que descia, Viktor sentia o alívio do peso da pistola com silenciador que carregava. Ele estava ali para matar uma mulher, nada além disso.

Imersos em seus pensamentos criminosos, os caminhos de Viktor e Sophie se cruzaram no instante em que seus corpos se emparelharam.

“Seria ela o meu alvo?” — perguntou-se Viktor ao vê-la de tão perto. A coincidência de encontrá-la ali parecia mais do que um simples acaso — ponderou ele.

“Seria ele o receptador das joias?” — perguntou-se Sophie ao percebê-lo ao seu lado.

Em meio ao sobe e desce, aquele breve instante de contato visual em sentidos opostos entre Sophie e Viktor foi suficiente para se imaginarem a existência de uma conexão entre eles. Os olhares silenciosos trocados eram como uma confissão de um mistério mais profundo, que aguardava ser revelado. Era ela seu alvo? Era ele o receptador?

Naquele momento, um adolescente, usando um capuz e fones de ouvido, manuseava um cubo mágico enquanto subia correndo a escada pelo lado esquerdo de Sophie, até parar ao lado dela. O olhar dele, embora furtivo, notou Viktor, e algo nas expressões dos dois o fez sentir um arrepio. Ele percebeu a tensão entre Sophie e Viktor e, por um momento, sentiu-se parte de uma rede de mistérios que não compreendia. Com o corpo quase colado ao de Sophie, que, fria, não esboçou reação, recuperou-se e cumpriu a missão para a qual havia sido contratado. Ele tinha pressa de voltar para onde veio.

Logo depois, Sophie e Viktor saíram das escadas sem saber que suas vidas estavam prestes a se cruzar. Viktor olhou para cima e viu Sophie olhando para ele. Permaneceram assim, imóveis, por sete segundos. Aliviada, Sophie deu as costas para Viktor e se afastou da escada com uma sensação de dever cumprido, mas nela dizia que algo importante estava prestes a acontecer. Viktor seguiu o instinto determinado a cumprir sua missão, que agora parecia mais próxima do que jamais havia imaginado.

Foi então que o silêncio do lugar foi interrompido de forma inesperada. Ouviram-se três estampidos de arma de fogo, bem altos: bang, bang, bang, e depois mais quatro bang, bang, bang, bang. Naquele momento de vida ou morte, o som agitado das pessoas se sobrepôs ao ruído das correntes dos degraus em movimento. Um corpo, já sem vida, rolou escada abaixo. Nick Chopra, o receptador de joias roubadas, acabara de ser assassinado. Com ele, encontraram um estojo de couro com joias escondido por baixo da jaqueta e, na tela de um celular, uma mensagem endereçada a Priya: “volto já, maninha”. O relógio de pulso de Sophie marcava 9:37 p.m.

Instantes depois, viu-se no andar de cima, o mesmo onde se encontrava Sophie, uma mulher de 47 anos, com uma pistola em uma das mãos e uma peruca loira na outra, estirada sem vida no chão, próximo a escada.

Viktor passou pelo cadáver e olhou para Sophie, que também estava ali, perplexa. Guardou a pistola, pegou o celular e escreveu em um aplicativo de mensagens: “It's done”. Em seguida, sorriu para Sophie e desapareceu.

Àquela hora, chovia lá fora. Sophie e Viktor (e provavelmente Priya), se misturaram à multidão que voltava para casa. Naquele 4 de julho, aniversário de Nick, a festa em casa que deveria ser de celebração havia se transformado em um luto silencioso para uma família devastada.

Lysandra Verdanis
Enviado por J P Berlin Jr em 08/09/2024
Código do texto: T8146867
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