O Rei glutão
— Quando eu sair daqui ele perderá a cabeça! - Disse o rei batendo furiosamente a porta atrás de si.
Todos no palácio ficaram assustados, sabiam que depois daquela sentença alguém iria morrer. Mas quem seria?
O rei não dissera o nome. Ele adorava fazer esse tipo de coisa. Suscitar o caos e o terror. Era exagerado em todas as suas ações. Nisso até a natureza lhe favorecera. Era um homem alto, forte robusto. Possuíra elevada beleza em algum momento da vida, mas ainda carregava a vaidade daqueles tempos, agora toda aquela beleza há muito jazia encoberta pelo excesso de tecido adiposo.
Mas quem ousaria lhe repreender os hábitos exagerados e a Intemperança? Comia um carneiro no jantar e depois ainda tomava tigelas de sobremesa. Dormia sempre acompanhado por duas ou três mulheres, era incontinente em pelo menos quatro dos sete pecados mortais. Sua vida era regada a excessos e extravagâncias.
Naquela tarde, após a sentença fatal ser pronunciada, apenas as mulheres estavam aliviadas, afinal, ele dissera "ele perderá a cabeça". Logo, a próxima vítima seria um homem. Ainda assim, algumas servas que tinha filhos, maridos e irmãos a serviço do rei, continuaram apreensivas e desesperadas.
Chamaram o conselheiro real, a quem ele antecipava todos os seus passos e desejos por mais excêntricos que fossem e lhe inquiriram contra quem o furor do rei havia suscitado.
— Ah, vossa majestade está furioso com o novo cozinheiro. Ontem foi o almoço experimental e o rei pediu que ele fizesse um fricassê de carneiro e um escondidinho de cervo, que são seus pratos favoritos.
— Nossa! - interrompeu a criada - O rei está irado por que não gostou do tempero dele?
— Muito pelo contrário, ele gostou tanto que comeu sozinho o banquete e depois disso não conseguiu sair da privada, por isso ele culpa o cozinheiro e certamente irá levá-lo a forca.
A mulher saiu às pressas para avisá-lo. O homem ao ouvir aquilo correu para clamar pela misericórdia do rei. Ao perceber que demorava a sair do sanitário real, chamaram seu conselheiro para verificar o que ocorrera. Ao arrombarem a porta encontraram o rei caído, sem vida, em decorrência da indigestão causada por sua Intemperança