Eu e a barata
EU E A BARATA
Miguel Carqueija
Das memórias do Dr. Hermógenes Mexilhão:
Há tempos eu reparei que o meu banheiro tinha uma moradora solitária: uma barata cascuda que volta e meia aparecia na pia.
A presença desse inseto me deixava perplexo. De que é que ela se alimentava? Em geral, quando eu entrava e acendia a luz, ela corria logo para se esconder; mesmo assim eu tive a impressão que estava emagrecendo.
Um belo dia eu a avistei outra vez na pia. Estava procurando comida? Antes que ela fugisse eu saí e, levado por uma súbita decisão, passei na geladeira e cortei um pedacinho de clara de ovo cozido. Era um pedaço compatível com o tamanho do animal. Retornei ao banheiro e habilmente deixei cair o fragmento à sua frente.
A reação da barata foi até surpreendente, ela correu para o pedaço e começou a roer.
Então eu saí para deixá-la mais à vontade e até apaguei a luz. Ao retornar não avistei nem ela e nem a migalha.
No outro dia eu coloquei um pedacinho de bolo e ela se atirou.
E no terceiro dia, um fragmento de queijo — que também desapareceu.
Conclusão: baratas realmente comem, e seu cardápio é variado!
O que? Maluco, eu? Como se atreve a dizer isso, idiota? Eu estou apenas desenvolvendo uma importantíssima pesquisa científica!
Rio de Janeiro, 12/2 a 18/3/2024.
NOTA: O Dr. Mexilhão retorna a esta escrivaninha após longa ausência.
Imagem Pinterest.