DA SERIE O CASAMENTO - PARTE 3 UM FINAL FELIZ

(Com os meus agradecimentos ao interesse de meus leitores e, às memorias do inesquecíveis rosarienses, Dr. Barcelos, Delegado Pelágio dos Santos, Inspetor Mendes, dona Sueli do Cartório, Dr. Augusto Brasil de Carvalho figuras verdadeiras que povoaram a minha juventude e que navegaram no barco da minha imaginação e de minha saudade, junto com os personagens fictícias destes singelos textos)

No dia seguinte às 08;30 horas a dra. Maria Clara e o seu filho estavam no escritório e foram encaminhados para a Sala de Reunião para esperarem o Dr. Augusto, a Dona Sueli e o Dr. Dilermando para darem início a reunião, programada no dia anterior.

A dra. Maria Clara e o filho, sentaram-se em frente a porta contra parede lateral da sala de forma que veriam quem entrasse e seriam vistos, também, imediatamente.

Poucos minutos depois chegou a Dona Sueli, Titular do Cartório de Registro Civil de Rosário do Sul.

O Doutor Augusto chegou na sequência e logo após todos viram na moldura da porta um cidadão de estatura alta e cabelos totalmente grisalhos entrar na sala e, educadamente, dirigir-se a cada um dos presentes e cumprimenta-los apertando-lhes a mão.

Fez este ritual com todos, sendo o jovem Fidêncio, o último que deveria receber o cumprimento.

Quando o Dr. Dilermando chegou a sua frente e viu seu rosto, foi tomado de uma reação emocional que o deixou pálido e com voz embargada, pela emoção disse:

- Eu não posso acreditar no que estou vendo! Este jovem é uma cópia perfeita de meu filho, o Fidêncio que morto a tiros no dia em que deveria se casar.

- Como é seu nome meu jovem?

- Fidêncio respondeu o jovem com lágrimas olhos.

O Dr. Dilermando, ao aproximar-se e abraçar-se ao jovem dizia aos soluços: Meu Deus que milagre é este que me permitiu nesta manhã conhecer o meu neto de cuja existência eu sabia ,há muito tempo mas, que não tinha a menor esperança de encontra-lo.

Um clima de espanto envolveu a sala de reunião e todos tomados, por grande emoção, abraçaram-se entre si e entre lágrimas deram glorias a Deus pela oportunidade que estavam tendo a felicidade de compartilhar.

Passados alguns minutos mais, o Dr. Augusto pediu a palavra e dirigiu-se a todos.

-Senhores e senhoras os fatos aqui presenciados serão com certeza levados para minha vida e para minha história como profissional do Direito.

Entendo a emoção de todos e, principalmente, a emoção do Dr. Dilermando e do jovem Fidêncio, mas temos que nos dedicar ao objetivo desta reunião que eu convoquei e, por cuja presença, agradeço a todos.

- A dra. Maria Clara é mãe do Fidêncio e, pelos fatos acontecidos no fatídico casamento de 1950 que todos conhecemos, registrou-o como filho de Pai ignorado.

Ao procurar os meus humildes serviços ela pretende colocar o nome do pai verdadeiro na sua certidão de nascimento e para isto precisamos, todos, sentar e descobrirmos uma forma de viabilizar este justo desejo

-Sentaram-se todos e dr. Dilermando entre soluços pediu a Palavra.

- O meu filho Fidêncio, meses antes do casamento e de sua morte, procurou-me num fim de semana e confessou-me que a então srta. Maria Clara, acadêmica de Medicina, em Santa Maria estava gravida e, que ele, meu filho, era o pai da criança mas por respeito ao meu nome, e a minha reputação de cidadão honrado e cumpridor de palavra iria casar-se com a Alzira para não me fazer passar vergonha perante a cidade que acolheu-me como profissional e cidadão.

Chamei a sua mãe que, naquele tempo, era viva e lhe contei o a confissão do Fidêncio.

Ela silenciou, baixou a cabeça e disse: Meu filho eu por te conhecer sei o sofrimento que estás passando e sei, também, o sofrimento que a tua amada- a Maria Clara- está passando.

Mas, como tu mesmo disseste não há o que fazer, frente ao compromisso assumido, cuja negação nos causaria grandes males nesta sociedade de costumes singulares em que vivemos.

Eu te agradeço por preservares a imagem de tua mãe e de teu pai mas te peço que formalize a existência da Maria Clara e desta criança cujo nome tu não sabes mas, sabes, que é teu filho.

Dirigiram-se para o escritório doméstico do dr. Dilermando e, o Fidêncio, sentando-se em uma mesa onde tinha uma máquina Remington, redigiu uma Declaração onde cita o seu relacionamento com a Maria Clara e a existência de um filho ou uma filha resultante deste fato.

Finalizando declarava mediante testemunho de seu pai e de sua mãe que era o pai legítimo de Criança.

No dia seguinte, disse o dr. Dilermando, fomos para o Alegrete, pois queríamos manter sigilo em Rosário do Sul destes fatos e no Cartório de Títulos e Documentos registramos esta declaração que me foi entregue e está guardada no meu cofre particular e estou disposto a fornecê-la para que o Dr. Augusto obtenha o resultado que a Maria Clara deseja.

O Dr. Augusto, com uma grande seriedade, considerando o clima de emoção que ainda está presente na sala pediu a palavra e dirigiu-se a Dona Sueli que, neste momento estava de cabeça baixa, limpando as lágrimas.

-Dona Sueli, peço que a senhora nos diga o que fazer diante do desejo da dra. Maria Clara e da prova material que o Dr. Dilermando tem e que se propõe, de imediato, a fornecer.

- Doutor Augusto ressalvada a sua opinião, a luz do direito, eu entendo que é somente peticionar a sua excelência o Dr. Juiz de Direito solicitando-lhe que, diante da Declaração espontânea do pai legitimo, ora mencionada e, do testemunho pessoal do Dr. Dilermando, que seja autorizada a feitura de uma nova Certidão de nascimento na qual conste o nome do pai legitimo do jovem.

- Sim dona Sueli, respondeu o dr. Augusto eu vou peticionar hoje, ainda, e levar, em mãos, para a sua Excelência, o Dr. Paulo Cruz de Souza Machado, juiz de Direito da Comarca pedindo-lhe despacho em regime de urgência.

Naquele momento ouviram-se palmas na sala e uma profusão de apertos de mãos, de abraços e de sorrisos tomou conta do ambiente.

O Dr. Dilermando, abraçado ao neto e à dra. Maria Clara, pediu a atenção de todos e disse:

-Hoje eu não vou trabalhar mais, vou pedir para a secretária cancelar as consultas marcadas e não marcar mais nenhuma e, todos, estão convidados para almoçar, comigo, no restaurante do Nelson Mendes, ali ao lado do clube comercial e de tarde quero ficar junto com a Dra. Maria Clara e com o meu neto para traçarmos planos futuros de um velho médico que não tinha familia e que, agora tem, e já proponho e convido ,na frente de todos, para que a Dra Maria Clara, se não houver impedimentos profissionais ou pessoais, fique hospedada na minha casa junto com o meu neto, até que o Juiz despache a autorização para nova Certidão de Nascimento.

- Bom dia, a todos, e espero vocês todos no Restaurante! A srta. Secretária do dr. Augusto é, também, minha convidada.

Passados mais ou menos quinze dia da Petição feita pelo Dr. Augusto, Sua Excelência o Dr. Juiz de Direito deu a ela, despacho favorável, o que tornou possível a emissão da nova Certidão de Nascimento do jovem Fidêncio constando o nome de seu pai, o que representou o resgate de sua história de vida e ainda, em ser constituído legal e formalmente, como único herdeiro do Dr. Dilermando que, agora, era o vô mais feliz de Rosário do Sul e da Fronteira.