Desnarigado
Ao acordar, sentiu algo assim estranho. Como é costume toda vez que empregamos nossos melhores esforços na prática de algum bem, mas acabamos percebendo que é o seu oposto mesmo que organiza os resultados.
Ao tocar o buraco abusado, corou, sentiu o enrubescer, de inflexões que iam do medo ao mais sincero e digno ódio. "Como pode haver tamanha surpresa logo onde nossa identidade ali garante sua legitimidade?"
Afinal, o que é um homem sem seu nariz senão um espírito que claudica por aí mendigando por atenção e salvas? Com seu nariz, pelo menos, essas coisas que a alma exige pra ser aceita, ia poder ergue-lo num empinamento social de valor intrínseco e nu de qualquer especulação!
Passou seu dia cortando um dobrado por aqui, ali e acolá, atrás do nariz. Terminou por achá-lo numa casa onde algumas mulheres resolveram, por gosto, ou circunstâncias desfavoráveis, calhar de esfregar suas partes nas glandes de grandes homens e homens maiores ainda, todos apequenados pela ambiguidade social de suas intimidades.
Tentou arguir.
"Mas, então, o que faremos agora? Adianto que a retórica já já termina no imperativo: volta para seu lugar de nascença!"
Então , respondeu o narigão, todo nariz e imponência:
"Vê se podemos com isso?! Agora quem viu que respira por aí sem minha ajuda mesmo assim anseia pela minha limitação na sua cara! É mesmo um caso perdido, esse homem"