A menina de neon

Na escuridão estou eu, pensando em linhas de neon que uma menina de neon poderia deixar ao seguir pelo grande escuro. Essa menina só sabe que o mundo é mundo porque sente na sola dos pés; só sabe que existe chão porque passou por ele, mas não sabe se acima da cabeça existe um limite porque ao esticar os dedos não encosta em nada; só sabe que ela mesma existe porque conhece a solidão. O brilho que escorre dela só começa a cintilar depois de um tempo que ela passou e somente por caminhos que ela não pode voltar; Seu brilho deixa linhas como uma bengala feita de galhos deixaria nas dunas de um deserto , só que feito de puro neon branco que risca a escuridão como um pincel novo riscaria uma tela calosa e escura.

Ela só sabe o quanto andou depois que resolve olhar para trás e, dentre o oceano de breu, enxerga seu pequeno córrego branco trilhado entre as dunas de ébano, subindo e descendo, demonstrando as irregularidades do caminho. Não existe vento nesse mundo, mas quando sonha ela sente o vento contornando-a como uma pequena cachoeira faria a quem quer se aventure a ficar embaixo dela. O sonhar com o vento é a única pista que ela tem que não pertence a esse lugar, quer dizer, a única pista que ela percebe, pois não há espelhos na terra do escuro, nem desses feitos de vidro e nem aqueles feitos de íris, pupilas e bastonetes. Só posso sonhar como tal menina reagiria a ver o proprio brilho e que sonho bonito seria esse! Ela é de neon e iluminaria qualquer vida, mas jamais vai ser capaz de enxergar sua própria luz.

Que mundo sombrio é esse, que não foi feito para humanos, nem os de neon ou aqueles feitos de sonhos, medos e fingimentos. Tudo é tão... Tão... pouco. A menina de neon só sabe que existe porque conhece a solidão, e a solidão só existe porque no meio do breu há uma menina de neon.