O esqueleto suicida

Estava cansado de piadinhas do tipo:

- São os ossos do oficio.

Aos treze anos começou a ganhar formas esqueléticas. Ninguém deu muita atenção, ao menos não era gordo. Foram anos de desnutrição, desde os primeiros meses, aliás, desde a gestação. Sua mãe não fornecia nutrientes necessários, deixando-o desde o nascimento com o tamanho menor que a idade pedia. Uma vez crescido, se é que poderemos colocar assim, sua sina perseguia.

Começou a trabalhar, era só pele e osso, mas ninguém estranhou, afinal. Alguns sugeriram ao chefe um aumento de salário para ele se alimentasse melhor, não resolveu, ele continuava um cabide de roupas andante.

No trabalho certo dia, a pele que recobria os ossos sumiram, todos sabiam porque, mas não podiam falar, nem ele, nem a fome.

Os colegas de escritório estranharam um pouco, mas logo se acostumaram, para ele foi melhor, não precisava mais de alimentos, nem de roupas, muito raramente, usava um calcificante e só. Conseguia economizar bastante, mês a mês, até que comprou uma casa e um carro.

- Pagou os olhos da cara.

Malditos piadistas. Tinha que ignorar este fato, e mais ainda, estar solteiro de novo, parou para pensar mais um pouco, nunca tivera uma namorada, teve até um caso com uma colega de escola, ela nunca soube, ao menos que ele saiba. Nenhuma mulher queria namorar ele, tentou classificados, cartomante e agencias matrimonial, sem sucesso.

Alem da vida e dos anos que lhe arrancaram a carne, os impostos que lhe corroeram as entranhas, e o governo lhe sugado as vísceras, lhe faltava um coração. Só a morte lhe era viável.

Preparou bilhete de despedida e tudo e enfiou uma bala de revolver no ouvido. Nada, ainda estava vivo. Deu um tiro no peito, lhe passou entre as costelas, e nada aconteceu. Jogou-se nos trilhos do trem, e nada. Numa rua movimentada, e nada. Jogou-se do alto de um prédio, e só arranhou um fêmur. Sem mais alternativas, ficou estatelado na calçada, e as pessoas passavam pisando por sobre ele. Estranhamente não sentia nada, além de desprezo, estava ficando invisível.

Voltou ao trabalho, num primeiro instante, todos estranharam, mas logo se acostumaram, só precisavam cuidar o que falavam, não sabiam certo onde ele poderia estar, mas continuava eficiente, só o salário diminuiu, afinal, já não precisava de muita coisa.

J B Ziegler
Enviado por J B Ziegler em 31/12/2007
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