O homem que chutava pedrinhas

Uns anos atrás me aconteceu uma coisa tão incrível que estou até duvidando que foi verdade. Cruzei com Jesus na rua. Não, não foi o Inri Cristo, aquele cara lá de Curitiba. Foi Jesus mesmo, o Cristo, o nazareno, e é por isso que estou duvidando da minha cabeça. Mas foi tão interessante que até deixo pra lá se foi ou não verdade.

Vou contar desde o começo. Aconteceu assim. Fui visitar meu compadre e, enquanto estava na sala aperitivando e papeando, a comadre na cozinha preparava uma lasanha. Chegou Lipinho, meu afilhado, com 6 anos nessa ocasião, foi direto pra mãe e perguntou, puxando o avental dela:

- Mãe, é verdade que Jesus chutava pedras?

- O quê?

- É verdade que Jesus chutava pedras?

- Quem te falou isso?

- O Tio André. Ele escreveu no Facebook.

- Escreveu? - Concentrada na lasanha, a comadre não prestava muita atenção na conversa. - Escreveu o quê?

- Que Jesus chutava pedras. Ele até postou uma foto de Jesus caminhando de sandália num caminho cheio de pedras.

Meu compadre ouviu, parou para prestar atenção na conversa, olhou pra mim segurando o riso.

Eu também achei engraçado, mas ouvindo o menino falar de Jesus senti algo estranho lá no fundo do coração. Fiquei intrigado, peguei o celular, fui no Facebook, localizei o perfil de André e de fato lá estava um poema falando sobre chutar as pedras do caminho. A ilustração não era uma foto, era um desenho representado o famoso nazareno.

Dias depois de ouvir a conversa do Lipinho com sua mãe, eu caminhava pela rua desanimado, cabisbaixo, pensava no monte de problemas que tinha pra resolver, quando vi uma “pedra portuguesa”, dessas de calçar o passeio das ruas. Chutei a pedra uns oito metros para frente. Vinha um homem em sentido contrário e ele parou. A pedra rolou até perto dos seus pés. O homem olhou para mim, olhou para a pedra, sorriu e chutou de volta. Achei simpático o gesto mas não prestei muita atenção na pessoa. Cruzamos, ele deu bom dia, eu respondi “bom dia” e só então percebi que o sujeito não era uma pessoa comum. Depois de uns cinco ou seis passos, virei-me e ele também tinha se virado. Vestia umas roupas de antigamente, brancas, tipo árabe, parecia ter uns 33 anos, cabelo comprido até os ombros, barba curta, estatura baixa, ombros robustos, tez morena, traços semitas, sandálias franciscanas nos pés. Com seu olhar direto nos meus olhos, rosto iluminado pelo sorriso, parecia um anjo de um tipo rude. Olhava pra mim com empatia, seu sorriso me fazia sentir esperança, coragem, disposição renovada para enfrentar as dificuldades, um entendimento sofrido mas sereno do valor da vida apesar das tantas dificuldades, tantas "pedras pelo caminho". Sem mais nem menos, ele desapareceu.

Ele sumiu, evaporou na minha frente, puf! Então uma coisa é certa: ou estava ficando louco, ou vi Jesus na rua, ele chutou uma pedra e sorriu pra mim.

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link da postagem no Facebook:

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Com a devida permissão do autor André Renda, transcrevo o poema na íntegra:

PEDRAS E LÁGRIMAS

28 de dezembro de 2013 às 01:25

Ei você aí... você mesmo!!!

Você já se viu chutando pedras na vida?

Não...não estou falando de adversidades, imprevistos, coisas "negativas", do tal do "balde",

São pedras mesmo....

É... aquelas pedras do reino mineral.

Nunca chutou pedras?

Eu já... muitas.

Já parou para pensar nisto?

Muitos de nós chutamos pedras.

O que ganhamos?

Dores no dedão, caminho livre.

Parece pouco não? Mas é muito...

Conheço alguém muito especial que também chutava pedras.

Normalmente, quando fazia isso, refletia sobre a "intolerância dos homens"

Pedras pequenas, pedras médias... e com sandálias!!!!

Aos poucos até aprendemos a chutar algumas pedras.

Mas assim não parece a mesma coisa.

Bom mesmo é caminhar... chutar por chutar.

E chute sem receio, sem disfarçar.

Sabe que lágrimas também são assim?

Não são? - você nunca chorou?

As lágrimas descem pelo nosso rosto.

Estão ali em muitos momentos das nossas vidas.

E você... o que faz?

Enxuga, seca insistentemente, finge que não estão lá?

Mas estão...

Aquele alguém tão único que chutava pedras...também chorou numa condição humana.

Mas nunca as enxugou...

Deixou ali... a cargo do vento.

Fui aprendendo que o prazer de chutar pedras é o mesmo de uma lágrima.

Chute pedras... deixe as lágrimas.

"Guerreiros da Luz" são assim.

E quem sabe... só quem sabe,

Você será mais feliz.

André Renda - FRC