ESMIUÇADO
Passou a evitar os locais onde estavam gravados os gestos e os sorrisos, cúmplices que a memória não queria ver para esquecer.
Cada buraco da rua, cada falha da mesa da sala de jantar, cada detalhe nas calçadas, no entanto, ainda o assombravam.
Deixou-se então ficar ali no chão, no centro da sala, como cacos esparramados, esperando.
No vaivém das visitas os pedaços foram se extraviando, sem que ninguém juntasse porção por porção e jogasse tudo num vidro de cola.
Ainda está lá, eu o vi; resta tão miudinho, esmiuçado, ao lado de um telefone que nunca mais tocou.