Vida 2.0
- Wes Anderson - declarei.
- Como assim? - Indagou Elin.
- Tudo aqui é claramente artificial - expliquei, enquanto olhava ao redor. - Muito limpo, muito colorido, muito bonito. As coisas não são assim na realidade.
Elin não conseguiu disfarçar a decepção.
- Mas... eu imaginei que vocês gostariam de algo que fosse limpo, colorido, bonito.
- Talvez para olhar por alguns momentos, mas não para morar dentro - avaliei. - Estamos acostumados com imperfeições. Se elas não existem, parece que estamos vivendo num filme de Wes Anderson. Um cenário, não o mundo real.
- E o que você faria? - Questionou Elin.
- Grato pela sua pergunta. Eu adicionaria George Lucas na sua visão.
- George Lucas?
Obviamente, minhas referências cinematográficas não estavam sendo captadas por Elin.
- Um lugar de tecnologia avançada, mas onde as coisas pareçam gastas, sujas, ásperas. Reais.
- Então, mesmo numa realidade artificial, vocês insistem em viver como se estivessem no mundo físico - Ponderou Elin.
- A perfeição cansa - redargui. - O Céu, caso exista, deve ser um lugar imensamente chato. O mundo físico tem dor, morte, doença, mas também beleza. Deixe que nós o adaptemos às nossas necessidades.
Mas para que Elin não se sentisse pessoalmente atingida no seu projeto, ao qual dedicara tanto tempo, sugeri que o apresentasse como alternativa para todos os postulantes a terem suas mentes carregadas no novo sistema de realidade virtual que estava sendo comercializado como "Vida 2.0".
A imensa maioria preferiu a visão George Lucas das coisas, embora tampouco soubessem de quem se tratava.
- [23-10-2023]