UM LINDO CONTO DE NATAL
Manhã de sol e o dia está lindo. As pessoas expressam no rosto a felicidade. Um senhor de baixa estatura, cabelos e barbas totalmente brancos acena para um táxi. Imediatamente o motorista pára e o passageiro embarca. Bom dia, cumprimenta o velhinho ao motorista. Este por sua vez, apenas resmunga e pergunta: - Para onde o senhor vai? o passageiro sorrindo, responde: -Vá em frente meu filho. Vá sempre em frente. O motorista segue em frente. É nítido o estado emocional do motorista que aparenta mau-humor. Percebendo isso, o velhinho começa a conversar com ele. Que dia lindo não acha, amigo? O motorista olha pelo retrovisor e nada responde, segue a viagem dirigindo e resmungando. Passam-se alguns minutos e o motorista novamente pergunta: Já se decidiu para onde vai? o velhinho sorri olhando os olhos do motorista no retrovisor, afagando-o no ombro e responde: - Não se preocupe. Apenas vá em frente.
Mais adiante chegando próximo a uma praça, o velhinho avista um grupo de meninos de rua e pede que o motorista pare. Imediatamente o motorista estaciona e o passageiro desce, indo de encontro ao grupo de crianças, misturando-se entre eles. De longe o motorista apenas observa o desenrolar da cena. O velhinho no centro dos meninos parece contar-lhes histórias pois todos riem e brincam com ele. Parecem velhos amigos. Depois de certo tempo, despede-se das crianças e retorna ao táxi. - Pronto. Podemos seguir em frente. O motorista mais uma vez pergunta. - O senhor vai para onde afinal?Já se decidiu onde quer que eu o leve? mais uma vez o bom velhinho sorri e com brilho no olhar apenas diz: - Meu filho, siga em frente, não se preocupe. O dia está lindo. O motorista põe o carro em movimento. Enquanto dirige, olha pelo retrovisor, tentando entender aquele simpático senhor de barbas e cabelos brancos. Mais adiante, debaixo de um viaduto, um grupo de mendigos divide o pouco que tem de alimento. O velhinho toca no ombro do motorista e pede para que ele pare o carro. Desce e vai de encontro aos mendigos. O motorista estaciona o carro e de longe observa. O velhinho a todos cumprimenta com uma ternura e carinho incomum. Em seguida senta-se entre eles e começa a fazer preces. Todos parecem participar. Fica entre os mendigos conversando e brincando por algum tempo e depois de se despedir de todos um a um, retorna ao carro, falando ao motorista para prosseguir a viagem. Alguns minutos após, o motorista, agora demonstrando estar mais calmo pergunta ao velhinho: - Quem é o senhor afinal? Um pastor, um padre, um hipócrita? Ou quem sabe até mesmo Deus? O velhinho apenas sorri e apontando pela janela do táxi para o mar próximo, comenta: Meu filho, você já viu coisa mais linda que o encontro do céu com o mar? Sabe, passamos a vida toda e não percebemos a beleza que nos cerca. O motorista olha em direção ao mar e fica calado. De repente o velhinho toca no seu ombro e pede que ele volte para o local onde ele embarcara.
Passava do meio dia e o motorista finalmente chega ao local onde o passageiro embarcou. O velhinho desce e diz:- Feliz Natal meu filho. Lembre-se sempre de sorrir para a vida, por mais que ela te pareça ingrata. Em seguida abre um imenso portão de madeira e entra num casarão que mais parece um castelo, e desaparece por trás dos muros. O motorista do táxi, só percebe que o velhinho não havia pago a corrida minutos depois. Resolve então cobrar o valor. Desce do táxi e bate no portão. Após alguns minutos aparece uma senhora aparentando uns cinqüenta anos que pergunta o que o motorista quer. Este conta todo o ocorrido e a mulher, estupefata o convida a entrar. Pede que ele confirme tudo que havia dito e o motorista conta toda a história novamente. A mulher ouve tudo sem acreditar no que escuta. O motorista então, olhando a sala vê em uma das paredes um quadro enorme com a foto de um senhor. Surpreso ele diz:- É ele! É ele! O senhor que pegou o meu táxi é o homem da foto no quadro. A mulher então fala: Não é possível meu senhor. Aquela é a foto do meu pai. E ele faleceu a mais de vinte anos. O sr. deve ter se enganado. Além do mais não entrou ninguém aqui em casa como o sr. está afirmando. Realmente, o meu pai quando vivo, tinha esse hábito de pegar um táxi e rodar a cidade. E nesse passeio, parava sempre para conversar com moradores de rua. O motorista sem falar mais nada, pede desculpas àquela senhora e sai da casa. Entra no carro e começa a dirigir, pensando em tudo aquilo. Um pouco tempo antes do embarque daquele passageiro, ele havia participado de uma discussão de trânsito, onde ofendera alguém e recebera ofensas também. Só agora se dera conta de que o aparecimento daquele estranho passageiro não fora por acaso, pois por causa dele compreendera o que é verdadeiramente o sentido da solidariedade. Então o motorista seguiu adiante sem se importar com a quantia devida pelo velhinho.
* Este texto está no livro "Ponto de Vista" a ser lançado brevemente com artigos, contos e crônicas. É proibido a reprodução parcial ou total. Visite meu site: www.ramos.prosaeverso.net