Alta Velocidade...
É lindo... é muito lindo esse lugar. Não quero, não, não! Não quero acordar! Mas... espere! Não estou dormindo. Estava dirigindo a minha moto e... Não! Não pode ser. Não peguei nenhuma estrada diferente... como... como vim parar aqui? É lindo, é claro, tão colorido e silencioso... não quero acordar! Ahhh! Só mais um pouquinho, mãe! A aula é só no segundo tempo... Deixa eu dormir mais um pouq... Mas, por que você não está brava, mãe?! Por que tem esse sorriso tão luminoso? Por que não está chorando com essa dor, que deve ser dilacerante? Eu sinto a dor, mãe... estou rasgando as suas entranhas e você sorri... Olha isso, que engraçado! Hahaha! Eu berrando, de cabeça pra baixo... e você sorri ainda mais... e o papai, ele chora... que lindo, que quentinho que é estar nos seus braços agora... A mão do papai acariciando meu rostinho... chamando meu nome com orgulho - Fernando! Isso é tão maravilhoso! Não me acorde mamãe, por favor, não me acorde! Eu prometo que vou arrumar o quarto assim que chegar da faculdade... Mas não chore, não chore! Eu sinto, sinto a sua dor de ontem, quando bati a porta do quarto e você só queria saber se eu aceitava um lanche, enquanto jogava videogame. Sinto que você foi triste pro seu quarto e o papai já não estava mais lá... Onde ele estará, mãe? Será que também o magoei? Ele vai voltar, não é? Mas eu não, não quero voltar! Quero ficar pra sempre nesse abraço, mãezinha... Não me acorde, por favor, não me acorde... Hoje é domingo e nós vamos ao parquinho... Não, não... Eu caí do balanço... desmaiei... o papai culpou você... ele sofreu ao ver o meu sangue, você se desesperou... eu sinto, sinto tudo o que passaram, sinto o coração dele batendo apressado quando me pega no colo, sinto as suas mãos geladas, molhadas de suor, quando segura as minhas pernas... quanta dor... quanta dor você sentiu, mamãe... E você sorri esse sorriso luminoso, enche minha mente de paz... Por que, então, quer me acordar, mãe? Agora eu sinto todas as suas dores... de quando o papai foi embora, de tudo o que fiz você passar, de quando você adoeceu... Mas, por que não posso ir para o rio? Por que não devo atravessar o rio, mamãe?! Eu levo você, vamos! Lá pode ser ainda mais bonito, mais tranquilo. Um bom lugar para ficar! Por que está me empurrando, mãe? Por que não me quer do seu lado?! Mamãe, eu não quero... acordar!
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- Larissa, amor! Vamos visitar seus pais? Faz uma semana que não os vemos! - Pergunta Fernando, carinhosamente.
- Saudades da comidinha da sogra, é, Nando? - Ela diz com um leve sorriso.
- É... Às vezes lembro dos meus... e sinto... sinto muito... - Ele responde, reflexivo... sem ter mais nada a dizer...
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Imagem: via Google (Editada)