Pequena dor

Numa casa velha e abandonada, havia uma senhorinha de olhos claros sentada numa cadeira de balanço, olhando pro grande nada a sua frente, em frente a sua esquina. Na mesma esquina, um garoto tem um olhar cheio de dúvidas, sua casa diferente da senhorinha, era grande e cheia de irmãos, cachorros e gatos. Ele parecia ser o único a escorar-se na janela de seu quarto, já que todos os seus irmãos, gatos e cachorros se divertiam brincando em frente a casa. Passa o dia e aquela mesma senhora continua lá, sentada e debilitada. O menino volta para sua janela com o cabelo molhado e de toalha, enquanto sua mãe o secava ele ainda observara a mesma senhorinha. Surge o interesse de conhece-la no outro dia. Ele vai até ela devagarinho e pergunta.

-Olá. Qual sua graça?

A senhora olha exausta e diz.

-Meu nome é Graça. Qual sua graça?

-Não tenho muita graça, mas meu nome é Lindo.

-Ah, parece que nossas mães tiveram um demasiado gosto para péssimos nomes, não?

-Eu não acho meu nome feio, ele reflete a mim. Quando uma pessoa quiser me chamar de feio não poderá, pois meu nome é Lindo e eu sou lindo.

-Tem razão, perdoe a grosseria.

-Não tem problema.

-Me fale querido, o que vieste fazer aqui?

-Eu fiquei curioso...

-Com o que?

-Não sabia quem era você, até agora.

-Mas agora que sabe, o que lhe interessa?

-Pensei que você teria histórias.

-De fato, uma velha como eu tem muitas histórias.

-Poderia me contar uma?

-Bem, sim. Quando eu era mais jovem, um rapaz de boa família foi dado como meu noivo, porém eu o achava feio e grosso. Naquele tempo seus pais que decidiam o casório, e isso bem cedo. Seu nome era Robert, ele era baixo, gordo e tinha cabelos louros, que eram muito lambidos. Eu como uma moça, tinha meu coração que já fora roubado por um belo rapaz, chamado Constantino. Constantino era pobre, mas tinha uma alma doce e gentil, sem contar com sua beleza de tamanha extravagância. Ele me pediu para fugir com ele, pois meu casamento seria na quarta e já era terça. Eu saio da casa de meus pais às sete e meia e desço a minha janela na maior minuciosidade. Fugimos e depois de um bom tempo ele arranja um emprego como pedreiro e logo arrumamos uma pequena casa, só de se ver livre de toda aquela pressão, já seria o bastante para mim. Entretanto, fui tão jovem e tola, que não pensei na hipótese de que algo grave poderia ocorrer. Eu engravidei de Constantino. Eu o contei, parecia feliz, mas no outro dia quando foi trabalhar e ele não voltou a nossa casa. Me vejo sozinha com uma bebê no colo, com ódio e ressentimento de meu marido. Izabela cresce e se torna linda e doce como seu pai. Depois de um tempo, recebi uma carta que deveria ter sido entregue a mim no mesmo dia do sumiço de Constantino, meu marido. Na carta dizia: "Notificamos a senhora Maria Graça dos Santos que seu marido, Constantino Dantas Santos, morre num acidente em deficiência de uma máquina. Pagaremos uma indenização de 20 mil réis." Meu coração se partiu... não pude acreditar que guardei tanto ressentimento do amor de minha vida. Mas isso já fazem 73 anos, e estou morta há 21 anos... já que estamos em 1999. Sinto muito por lhe assustar querido, mas isso me libertou.

A senhora que não era mais uma velha, se torna bela novamente e some em felicidade e risos, ao encontro novamente de seu marido. A criança nem perplexa ficou, pois no meio da história, já estava dormindo em sua cama.

Ágatha Ternurie
Enviado por Ágatha Ternurie em 29/08/2023
Reeditado em 11/03/2024
Código do texto: T7873444
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