Era um homem baixinho, cabelos brancos, beirando  sessenta anos,  olhos azuis, poucos dentes e muito irritado.

Seus dias seguiam permeados pelas palavras inquietas. Trabalhava na Prefeitura

na manutenção da energia elétrica. Tempos dificeis, poucos recursos, poucos conhecimentos técnicos.

Equipe de um  homem só para a manutenção da rede elétrica da cidade toda.

 

O povo sempre preocupado com o bem estar e os serviços de água e eletricidade, embora televisão

e geladeira fossem  elementos para poucos. A vida sorria mesmo assim. Todos se conheciam. Todos se ajudavam,

apesar de pouco acesso às facilidades da vida.

Se eletrodomésticos estavam longe das mãos, imagine um carro na garagem!

 

As crianças podiam caminhar sozinhas pela rua de casa até a escola. Não existia a tristeza da insegurança dos dias atuais.

 

Num desses dias, a filha do senhor eletricista seguia para as aulas, feliz ao encontrar o pai no alto de uma escada, pendurado no poste, às turras com os fios sem fim. Como sempre, indignado...  falava sozinho, como se os anjos do céu pudessem  chegar para ajudá-lo  naquele confim.

 

Ao avistar o pai, feliz,  a menina gritou em alto e bom som..."bença, pai". O pai não respondeu. A menina repetiu..."bença pai"... e nada de resposta. O pai não respondeu. Assim, outras vezes repetiu..."bença, pai!". 

De repente, o irritadiço senhor, olha para a filha e diz..."Deus te abençoe "mardiçuada", vá pros quintos dos infernos."

 

O céu não sorriu.

Os anjos não aplaudiram.

Ouvidos moucos não se emocionaram.

E a menina ... seguiu!

Feliz?... não  sei!

 

 

 

 

 

foto by Zaciss