Exórdio

Capítulo de um dos meus livros "Metamorfose" postado do Clube de autores para leitura como Frank P Andrew.

Um pouco mais de um ano, se tanto, depois de o retorno de Sô-nia do Canadá pilotando o gigantesco helicóptero Colossos:

— Acorde senhor padre, estamos quase chegando à cidade de Comendador Levy Gasparian, o nosso ponto final.

— Obrigado motorista. . . — disse Peter Farrow ao senhor de uns sessenta anos de cabelos grisalhos que dirigia o ônibus depois de acordado. Bocejando bastante friccionou os olhos de mãos congeladas pelo tempo chuvoso e frio que perdurou por todo o percurso —, só que ainda eu não sou padre, mas falta pouco, sabe! Sou apenas um seminarista. Em oito meses mais ou menos termino a Faculdade de Teologia em Miami.

O filho de Michele Farrow, a amiga de Sônia, era quem con-versava com o motorista do ônibus. A viagem estava sendo de uma chatice sem limites. Ele veio ao Brasil para participar de um seminário eclesiástico na Catedral da cidade de Santos no litoral paulista. Aproveitando o recesso de uns quinze dias por motivo que se referia à vinda de um Cardeal do Vaticano de Roma, recomendado pelo próprio Papa para ministrar um semi-nário mais profundo sobre a religião católica. Devido à demora de sua chegada, Peter resolveu ir visitar a família Garcia San-ches, exatamente na cidade de Comendador Levy Gasparian para fazer-lhes uma agradável surpresa.

— Ah, sim, sim. Não faz mal, para mim padre ou seminarista ou coroinha bah, que sei eu disso, é a mesmíssima coisa, não entendo nada dessa meleca, mesmo — dizia o motorista sem ligar muito para o que Peter lhe comunicara de ainda não ser padre.

Continuava de olhos fixos na estrada.

— Poderia esclarecer-me uma coisinha motorista, como é que a gente consegue chegar ao Camping Sigma?

— Escuta aqui, senhor padre, o Camping Sigma é um bocado longe da rodoviária e do centro da cidade, é também um tanto difícil e demorado para se chegar lá. O caminho é bem ruim e, tem ainda mais uma coisa, não há condução da municipalidade para o interior do camping. Terá de ir a pé seguindo a margem do Rio Paraibuna. Senhor padre, sabe que a nascente desse rio. . . — o motorista continuava parolando sem se importar se Peter desejava saber dessas coisas ou não —, dá-se no município de Antônio Carlos nas Minas Gerais e seus principais afluentes são os rios, Peixe, Cágado e o Preto antes de desaguar no Rio Paraí-ba do Sul próximo à cidade de Três Rios, no Estado do Rio de Janeiro.

— Senhor, isto para mim é novidade, em Miami, onde eu moro tudo é plano e quase ao nível do mar sem tantos rios as-sim, todavia fico-lhe muito grato por toda esta conversa, ela está tornando a minha viagem um pouco mais agradável e instrutiva, estou até me esquecendo do mal-estar que estes bancos propor-cionam depois de tantas horas por cima deles; um verdadeiro tormento!

Peter encarando com sobriedade o motorista do ônibus, se bem que de bancos não tão desconfortável como o que aprego-ou, puxava da sua língua a fim de ouvir mais histórias sobre lu-gar onde estava se dirigindo: quanto mais coisa soubesse da ci-dade que iria visitar, melhor seria para ele, aumentaria ainda mais o seu cabedal intelectual e de o de conhecimentos gerais.

— Senhor padre — o motorista começava de novo a falar sem se importar nenhum pouco de que o chamara novamente de padre —, aconselho-o primeiro a passar a noite na cidade e ir para o camping dos seus amigos pela parte da manhã. Além do mais, com a chuva forte que está caindo, acho que não lhe vai fazer muito bem caminhar pelas bandas do Rio Paraibuna à noi-te. Pelo que conheço a cheia deve encontrar-se medonhamente embriagadora.

O chofer do ônibus continuava explicando em sossego assun-tos referentes à bela região de Comendador Levy Gasparian e a própria cidade em Si. Explicou-lhe onde ficavam os principais pontos turísticos, da prática de esportes radicais como o trecking, rapel, rafting e montanhismo, assim como o luxuoso camping e até da pesca recreativa. Contou-lhe sobre uma casa chamada Casa do Registro e da Igreja Nossa Senhora de Montserrat, relí-quias da história do Brasil colonial daquela região, e também do Cemitério dos Barões. Contou-lhe de que se podia praticar ca-valgada e tomar banhos de cachoeira. Disse também de que o Museu Rodoviário teve a sua construção datada de 1860 em estilo chalé francês, com estrutura de madeira e alvenaria com tijolos maciços e telhado com folhas de metal. Explicou de que, a Pedra de Paraibuna (morro) ao lado das corredeiras do Rio Paraibuna era de formação rochosa em granito de novecentos e um pouco mais de metros de altura. Contou-lhe, ainda, de que, o Prédio do Colégio Coronel Antônio Peçanha, situado no coração da cidade de Comendador Levy Gasparian era de construção da segunda metade do século XIX em estilo neoclássico. Ainda disse mais; contou de que as corredeiras do Rio Paraibuna são internacionalmente conhecidas e, de que, o início da descida das corredeiras em Comendador Levy Gasparian se dava no interior do bem afamado Camping Sigma, com o término das corredeiras na cidade de Três Rios num percurso de uns vinte e tantos qui-lômetros, alternando do remanso as corredeiras bravas. Disse ainda, de que, elas eram as mais tradicionais do Brasil e, ainda, de que, o melhor período para a descida pelo rio era no verão, quando o volume d’água aumenta com as chuvas.

Peter Farrow era o único passageiro que se encontrava no ônibus, todos os demais tinham apeado nas cidades ultrapassa-das por eles, e a viagem havia-se tornado cansativa, monótona e lenta por causa da chuva incessante desde a saída da rodoviária da cidade de São Paulo.

— Está vendo, senhor padre, ali adiante se encontra à cidade de Comendador Levy Gasparian, já dá para vê-la desde onde nós nos encontramos.

— Sim, sim, parece ser bem atraente; bem interiorana, mes-mo — comentou Peter.

— Ela é bastante bonita! — afiançou o motorista sem volver a cabeça para olhá-lo, estava mais do que atento à estrada enla-meada, mesmo que em bom estado de conservação, contudo, escorregadia por causa da chuva forte que não lhes dera trégua alguma desde um pouco depois do início da viagem.

— O nosso ponto final é bem no centro da cidade. Na parte alta.

— Tem muitas nuvens negras, só dá para ver alguns vultos das construções mais altas entre às luzes da iluminação pública.

— Não tem importância, faça o seguinte: depois de descan-sar em alguma pensão ou hotel, pela manhã, pergunte como se faz para pegar o caminho das pedras. Daí em diante é só seguir por uns doze quilômetros mais ou menos. Não dá para perder-se, pois o caminho acompanha sempre o Rio Paraibuna. Só que, repito, não faça esse trajeto à noite, é muito perigoso.

— Eu lhe agradeço de novo senhor motorista, mas estou curioso por uma coisa, poderia explicar?

— Mas é claro senhor padre, pode perguntar, assim que aca-be toda esta sequência de curvas, chegaremos à cidade e a esta-ção rodoviária com sorte em três ou quatro minutos.

— Como é que a família faz para chegar ao centro do cam-ping. Quero dizer: como é que eles conseguem chegar até o camping se, como o senhor bem apregoou não há estradas para chegar-se até ele?

— Gente rica, senhor padre. Gente muito rica. Só vivem de helicóptero pra lá e pra cá em qualquer dia e hora chuva ou Sol. Dentro do camping há estradas sim, mas elas são íngremes de terra-batida e de pedregulhos, somente usados pelos hóspedes para os passeios pela montanha ou pelos guardas da segurança interna nas suas rondas em carros elétricos. A antiga estrada que levava as pessoas ao interior do camping foi fechada já faz mui-to tempo. Apenas é aberta em casos muito especiais, o que nun-ca mais ocorreu. Contudo, pensando melhor, não o aconselho a fazer o caminho que lhe indiquei, o das pedras, a subida da mon-tanha até a mansão dos proprietários é deveras desgastante e, sinceramente, duvido que o senhor consiga concluir o trajeto a pé, não acho que tenha folego para tal proeza.

— Então os donos devem ter heliportos na cidade e no cam-ping.

— Eles têm um monte deles por todos os lugares. Alguns no topo da montanha, outros no sopé dela e ainda outros ao lado da mansão dos proprietários no meio do caminho e mais um monte de helicópteros nos escritórios da companhia de os mesmos no centro da cidade.

O motorista que ia falando a viagem toda sem se cansar, àquela hora já apresentava cara de estafa, ao tempo em que, apertava o botão do reservatório de água com detergente neutro para esguicha-la nos para-brisas do ônibus a fim de retirar os respingos da chuva e lama da estrada.

— Então eu posso ir de helicóptero — disse-lhe Peter, reso-luto, mesmo que, cansadíssimo.

— Só se você for convidado por eles ou se for um turista para passar as férias por lá. . . Por acaso você é um de os dois felizardos?

— Pois é motorista, posso afiançar-lhe de que sou amigo da família, mas tenho certeza absoluta que não estão esperando a minha visita. Vou fazer-lhes uma surpresa.

— Hã, entendi! — respingou o chofer com indiferença de-pois de dar uma boa acelerada no ônibus devido à última subidi-nha que surgiu a sua frente.

— Em um minuto mais chegaremos sãos e salvos à estação rodoviária de Comendador Levi Gasparian. — Informou o mo-torista rindo bastante pela brincadeirinha que fizera.

Ao chegarem:

— Muito obrigado por sua gentileza para comigo e pela aula de geografia e história, senhor motorista, posso saber o seu no-me? — disse Peter depois de o ônibus estacionado antes de des-cer dele com o corpo todo dolorido.

— Alcir, às suas ordens. . . — desabafou sorridente, contudo, também demostrava imenso cansaço.

Após o agradecimento e o cumprimento habitual de mãos, Peter Farrow foi buscar a sua bagagem que não era muita no maleiro do ônibus. Levava com ele apenas uma pequena mala de mão e uma mochila de lona e de couro marrom. Levantando o colarinho da japona, em meio à chuva, foi à procura de um lugar para passar a noite.

No dia seguinte lá pelas dez e trinta, descansado da torturan-te e longa viagem, Peter quase foi ao camping da amiga Sônia pelo caminho das pedras às margens do Rio Paraibuna, como o motorista contara-lhe, queria sentir a pujante natureza do lugar. Tudo o que via do Brasil até aqueles momentos era coisa total-mente diferente da cidade de Miami, espetaculoso por demais, mas não seguiu pelo caminho das pedras, teve uma visão repen-tina e infundada para que não fizesse isso. Sendo assim, não lhe coube alternativa alguma senão dirigir-se aos escritórios da famí-lia de Sônia não muito longe do ponto da cidade onde ele se encontrava naqueles exatos momentos.

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— Aguarde um pouco sentado naquela poltrona enquanto entro em contato com a Sra. Sônia, senhor padre. . . — Silvana, a se-cretária particular do senhor Santoro, indicou-lhe a poltrona com um reservado aceno de cabeça.

— Avise-a de que sou Peter Farrow de Miami, senhorita. . . — desta vez Peter não se importou nem respondeu de que ele não era padre e sim seminarista, estava cansado de tanto repeti-lo.

Em seguida.

— Ponha-o imediatamente ao telefone, Silvana. . .

— Senhor padre, a patroa deseja falar com o senhor, imedia-tamente — disse Silvana esticando a mão para passar-lhe o tele-fone.

Peter levantando-se com rapidez de onde estava acomodado, apanhou-o suspirando forte.

— Sônia sou eu, Peter. . .

— Seu padre filho de uma “santa” filha de mãe puta, porque não me avisou de que viria, eu iria busca-lo no aeroporto ou aonde quer que fosse num estalejar de dedos. Oh. . ., mas que saudades suas. . . Peter! Oh! Peter. . . Peter. . .

— Eu cheguei de São Paulo a noite passada, Sônia. Estava com uma comitiva de religiosos na cidade de Santos quando houve uma mudança de última hora na programação, tínhamos de esperar a chegada de um Cardeal de Roma para a realização de um seminário mais aprofundado sobre a religião católica, sendo assim, como a sua chegada a Santos se daria em doze ou quinze dias eu. . .

— Você resolveu visitar-me, não foi? Não sai daí que eu vou busca-lo, mas é para agorinha mesmo! — em menos de meia-hora Peter já estava instalado na mansão.

Quando se voa tudo se torna mais rápido.

Sônia encontrava-se sozinha na mansão do camping, Santoro estava no galpão dando as últimas ordens aos empregados para que quando começassem a chegar os hospedes, pois, a tempora-da de eventos começaria em questão de semanas, tudo deveria estar nos seus conformes.

— Minhas filhas estão na cidade vagueando com algumas amigas do colégio de freiras que elas frequentam, mas logo, logo elas chegam. Foram para lá no helicóptero de dois lugares e, Santoro está nas margens do rio providenciando os últimos reto-ques nos barcos e nos equipamentos que trouxe desde Miami para que tudo se torne perfeito na temporada de férias que, ine-xoravelmente se aproxima. . . — interrompendo abruptamente o que, a seguir pretendia dizer, depois de olhar para o relógio digi-tal de parede no outro lado do enorme salão da mansão, bastan-te alegre continuou com a conversa: —, em cinquenta minutos mais ou menos todos eles chegarão para o almoço. Contudo, como eu estou com muita sede, e você também deve estar: Jaci-ra. . . — chamou alto para que a funcionária a ouvisse desde onde ela se encontrasse —, traga imediatamente gelo e a garrafa de uísque de dois litros que os turistas escoceses nos deram de presente o ano passado que está no nosso quarto. Também gos-taria que trouxesse cortado em quadradinhos um pouquinho do salame Alemão junto com queijo, o parmesão Italiano também em pedaços pequenos. Não muito porque o almoço está batendo à nossa porta — ao terminar de dar as ordens, tornou a fitar com carinho o amigo Peter.

— Agora somos apenas nós dois em casa, os empregados não nos perturbarão de modo algum, todos estão de serviço espalha-dos por aí; dá-me a tua mão, mas que saudades, oh, Peter! . . . — Sônia ia falando e guiando-o pelas mãos até a enorme mesa que havia no centro do cinematográfico de o principal salão de visitas sentando-se ao seu lado ainda de mãos dadas. — Agora me conta, vai, vai, me conta me conta como está se virando a minha adorada amiga Michele na vossa enorme e luxuosa ilha?

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Na hora do almoço como Sônia lhe havia dito, todos eles esta-vam reunidos na varanda, em volta da enorme mesa construída com os próprios pinheiros do camping, coisa bem legal e bastan-te original. Depois de o Peter apresentado, contentes por terem-no conhecido, pois Sônia não lhes dava trégua. Nunca parava de contar a família desde que chegara do Canadá as suas aventuras, principalmente as tidas com Peter na mansão da ilha e no iate particular dele.

O almoço servido foi de o trivial mineiro, arroz, feijão, coste-linha de porco frita no azeite com ovos estrelados, batatas em rodelas e bananas fritas bem douradinhas, couve refogada na manteiga com pedaços de bacon, salada de agrião, farofa feita de mandioca à mineira e sobremesa de sorvete de creme de ovos sabor baunilha. Havia também o vinho branco Ludwig Bleeker, alemão, seco bem gelado e, de quebra, refrescos naturais de pi-tanga, morangos e de jabuticaba. O dia estava bastante quente e, Peter adorou comer coisa tão simples, elogiando sem prece-dentes o que fora servido na refeição.

— Eu nunca na vida comi nada de tão delicioso nem tanto assim. . . uma verdadeira maravilha!

— Esta comida é trivial aqui no Brasil — observou Santoro.

Terminado o repasto, Santoro, Sônia e Peter, continuaram sentados na varanda. Por ali corria uma brisa suave e fresca de-vido ao arvoredo frondoso entorno de toda a mansão. As gê-meas saíram para passear pelo camping nas suas velhas bicicle-tas de pneu balão com cestinha de palha na frente do guidom na esperança de colherem belas amoras para a sobremesa do jantar e, para pedirem às cozinheiras que lhes fizessem uma magnífica torta de amoras com bastante creme chantilly.

— Sônia vá buscar para nós o conhaque espanhol que temos no nosso quarto e as taças de cristal bojudas. Na volta peça para que alguém nos traga um bule de café, e de que, ele esteja bem quente; ah, sim, também bastante forte.

Em minutos tudo estava servido.

A conversa rolava às mil maravilhas aos tragos de conhaque e de cafés. Às vezes, Santoro adicionava certa quantidade de conhaque as suas doses de café. A certa altura da conversa, Sô-nia exigiu:

— Peter ponha um short uma camiseta regatas e um par de chinelos de dedo. Se você não tiver, Santoro empresta os dele, o tamanho de vocês é quase o mesmo. Maridinho, você não se importa nadinha com isso, não é querido?

— E porque eu deveria! — ao o concordar brindou-se com belas baforadas do seu charuto tipo Havana fabricado no Brasil por um amigo seu dono de uma pequena fábrica, mas em emer-gente ascensão, entre os sorvos do café e do conhaque espanhol.

— Está certo, obrigado, amor. Vou pedir para que a Jacira vá ao nosso quarto apanhar as roupas. Peter, quando você estiver trocado iremos passear de helicóptero pela cidade e redondezas para que conheças a boniteza da região e toda a cidade de Co-mendador Levy Gasparian desde cima de tudo; desde o ar. Em seguida conhecerás o Mirante do Céu, o ponto mais alto da nos-sa região com uns novecentos ou mais metros de altura e, final-mente pela tardinha o Clube Campestre Ochoa Verdecci. Vamos nos esbaldar nas suas piscinas enormes de água fria e quente, termal, para mais tarde saborear umas belas caipirinhas de aba-caxi, especialidade do bar do clube. Aí sim, iremos galopar um pouco pelos verdes campos do Ochoa Verdecci até escurecer. O Rio Paraibuna você o conhecerá e sentirá a sua pujança andando de caiaque ou de barcos de borracha com as meninas e eu mes-ma quase no seu colo amanhã ou depois.

O dia esteve estafante para Peter, não acostumado a tanto agito. Com a chegada do anoitecer deu-se o jantar digno de Ma-rajás. Uma iguaria feita de vitela estava sendo preparada à beira do caramanchão da mansão por um churrasqueiro gaúcho espe-cialista em carnes de todos os tipos contratado para aquela noi-te. Fartaram-se até não mais poder, beberam vinho, champanhe, assistiram danças gaúchas realizada por duas parelhas típicas de bombachas de botas e boleadeiras. Também se deliciaram com a torta de amoras colhidas pelas filhas e preparada pelas doceiras da mansão.

Divertiram-se à beça e todos foram deitar-se um pouco de-pois de a meia-noite. Santoro e Sônia deveriam ir para os escri-tórios no centro da cidade logo depois do café matinal servido mais cedo e fora de hora. As irmãs gêmeas seriam as que teriam a incumbência de fazer sala ao ilustre visitante. Santoro fez questão de que lhes mostrassem o mais que pudessem de tudo de o bonito que o Camping Sigma exibia aos turistas que por lá se hospedavam. Ainda ficou agendada uma visita à cidade do Rio de Janeiro a fim de mostrarem-lhe suas belezas antes do seu retorno a cidade de Santos, para em seguida, ao término do se-minário rumar para casa; para Miami.

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Uma bela manhã vários dias após de a chegada do Peter ao Camping Sigma:

— Sophia, gostaria muito de que você viesse comigo, é o meu desejo mostrar a você uma coisa, e já está mais do que na hora de você ficar sabendo do que se trata.

Sabrina, a irmã gêmea de Sophia, na parte da manhã depois do jantar com o ilustre amigo Peter e família, durante o café da manhã habitual depois de os pais terem voado para os escritó-rios da empresa, fez-lhe o convite e, era mais uma ordem do que qualquer outra coisa.

— E do que se trata? Cadê o Peter, onde é que ele se encon-tra? — perguntou Sophia bastante curiosa. Não sabia do para-deiro do Peter por chegar por último para servir-se da refeição matinal.

— E um negócio muito bacana que faz tempo que descobri e nunca tive coragem em mostra-lo a você. Além de mim ninguém mais sabe o que desejo mostrar a você, nem mesmo o lugar onde isso fica. Vou leva-la para que você o conheça se fizeres o jura-mento de nunca revelar nada do que mostrarei a você nem de o absurdo de coisas que irás ver a mais ninguém! — Sabrina falava no maior dos suspenses sem responder à pergunta da irmã sobre o amigo Peter.

— Como posso prometer alguma coisa se neste exato mo-mento nem imagino o que possa vir a ser o que você está me contando — disse Sophia em voz alta, contudo, o interior do seu ser remoía-se de curiosidade.

— Está bem eu vou mostra-lo, mas repito, tens de ficar de bico fechado. É um troço muito louco, assim como também muito bacana.

— Anda logo, maninha, me mostra logo essa porra, eu juro não dizer a ninguém o que você vai me revelar — a safadinha da Sophia expressara-se de dedos e mãos cruzadas às costas. Por instantes, esquecera-se do Peter devido à adrenalina pungente em seu ser aqueles minutos. Ah! Jovem e terna curiosidade.

Acriançada. . .

— Digo e repito, e é muito sério, maninha, se você contar ou revelar o lugar para alguém mais, coisa de muito ruim pode acontecer com a gente. . . — Sabrina adorava deixar sua irmã assustada por qualquer motivo.

Desde pequenina vivia perpetrando isso.

— Já estás me deixando outra vez com medo — retrucou Sophia de olhos arregalados cheios de adrenalina. Tornaram-se vermelhos pela pressão ocular devido a tanta excitação.

— Está bem, vamos andando, maninha, mas fique sabendo que é um pouquinho longe daqui, mas também bem perto, por sinal.

Sabrina conversava de voz à solta, deixando a sua irmã no maior dos suspenses.

— “Longe daqui, mas também bem perto, por sinal, que coi-sa mais estúpida”, acabou pensando. A tonta da Sophia, não entendia nada de nada daquela merreca de conversa, como tam-bém um outro alguém a plena consciência não o teria entendido. — Está tudo bem, Sabrina, vai andando que eu sigo você. “Oh, troço complicado; longe, mas perto daqui. . . que loucura eu, hein. . .”. — Sophia não parava de pensar besteiras enquanto caminhavam.

Mas para onde?

O que significava para Sabrina “longe, mas perto daqui”?

— Eu já tenho tudo preparadinho e nos conformes desde quando me levantei de madrugada — revelou Sabrina contentís-sima da vida —, siga-me até o heliporto, Peter já se encontra por lá esperando a gente, tinha-o convidado antes de falar com você. Ele também se levantou cedo devido a curiosidade: o “coitado” nunca esteve tão excitado, agitado sei lá eu, na vida como aqui com a gente no Brasil.

— Oh, tinha-me esquecido do Peter, maninha. Diga-me uma coisa, se é um segredo que não se pode revelar a ninguém, o que nós vamos fazer nesse lugar com o Peter? — indagou Sophia. Começava a ficar com mais medo da irmã sem saber ao certo por qual razão.

— Vamos voar no nosso helicóptero de dois lugares e você sentará no colo do Peter enquanto eu piloto a máquina. — Sa-brina ia falando sem novamente responder à pergunta feita pela irmã.

— Tu tá é doente da cabeça, o papai mata a gente se fizer-mos isso, voar com três pessoas no pequeno helicóptero de dois lugares!

— Não será no dia de hoje que ele fará isso, maninha, todos na cidade estão alvoroçados. A polícia está fazendo a reconsti-tuição de um crime ocorrido dentro do camping perto dos muros e o rio na divisa dos arrabaldes da cidade, no exato lugar onde os caras da segurança do papai encontraram o corpo mutilado do filho do Secretário de Ação Social da Prefeitura de Levy e, isso já faz bastante tempo: era o Francisco Botelho.

— Como é que você sabe dessas coisas? — perguntou So-phia, continuava assustando-se com a sua irmã.

— Ouvi o papai falar dessa meleca ao telefone com alguém antes de ele sair logo cedo com a mamãe. Mais tarde, desde os escritórios no centro da cidade eles irão até lá. Pousarão no heli-porto ao lado do teleférico e irão de carro elétrico até o lugar da morte do Botelho. O papai quer acompanhar a reconstituição do crime pessoalmente. Vamos andando sua tonta vai ser legal, muito legal! Tenho certeza absoluta de que você vai adorar o que irá ver! — ao dizer-lhe isso, saiu em disparada na direção do heliporto escadas acima. Sendo assim, Sophia não teve outro jeito a não ser sair correndo atrás da irmã.

Quinze minutos depois de despegado o helicóptero do chão do camping, na maior das espertezas, Sabrina aterrissava a pe-quena aeronave no pátio dos fundos da igreja do Colégio Sagra-do Coração de Maria da Purificação por cima de um danado matagal. O hélice do pequeno helicóptero abrira-lhes uma clarei-ra. Bastante longe de onde se encontravam, podiam ver as copas do pomar aonde em tempos idos encontraram um rapaz assassi-nado e mumificado.

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Os agentes da lei vindos do Rio e de São Paulo, assim como os poucos cientistas que ainda se encontravam no colégio sem le-varem a cabo o sucesso pretendido pelo cansaço e a monotonia de o lugar onde se encontravam, pois todos eles trabalhavam e residiam em capitais de intenso movimento, no maior dos frene-sis ficaram displicentes por demais. Devido a esse e a outros fatores não se deram conta do pouso da pequena aeronave nas redondezas onde ainda que contra vontade permaneciam aquar-telados. Estavam mais preocupados em chegarem logo ao centro da teia de aranha misteriosa que envolvia aquelas mortes, para se mandarem rapidinho daquele lugar. Nenhum homem de a cidade grande gostou de Comendador Levy Gasparian. Acha-ram-na pacata demais. Pois é, deveriam ter chegado alguns dias antes, quando os crimes aconteciam um atrás do outro sem pa-rar, para terem ciência do que é ser uma cidade pacata. A nova horda de esportistas e de turistas ainda não tinham chegado de suas cidades para agitar o lugar. Os senhores doutores e os da lei escaparam numa boa da agitação turística, pois logo, logo desis-tiram de tudo de vez, pois nada mais era importante para eles naquela cidade. Mas nada mesmo, pois não houve mais mortes ou desaparecimentos estranhos em Comendador Levy Gasparian depois da morte do “bom” doutor Vladimir.

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— O que é que nós estamos fazendo exatamente aqui no meio deste matagal? — perscrutou Sophia, perplexa. Continuava sem entender ação tão estranha da irmã.

— Ora bolas, mana deixa de ser tão piegas e ajuda-me a des-carregar nossas mochilas com as tralhas que separei para que possamos explorar um túnel e, no seu término, uma linda caver-na. Contudo, vamos ter que percorrer muito chão antes de che-garmos até a própria caverna. . .

Se Sophia se encontrava embasbacada de vez com tanto mis-tério por parte da irmã, o que se ajuizaria do Peter que as acom-panhava tenso sem abrir a boca uma única vez que fosse.

— É, maninha, vê-se que hoje tirastes a manhã para me sur-preender. Aonde é que está a minha mochila?

— Desçam os dois do helicóptero, ela está atrás do assento junto com a dele. — Depois de a resposta seca, com certo ar de criancice na face, a parcos sorrisos, olhou fixamente a irmã e o Peter descerem helicóptero. — Gente, vamos andando, é por aqui, sigam-me. Antes de entrar na igreja e depois no túnel que afirmei que existe, vocês irão ver com os próprios olhos, vou ligar para o escritório do papai para que venham buscar o heli-cóptero para leva-lo de volta ao camping, dentro do túnel pro-vavelmente não será possível captar o sinal da antena da empre-sa de telefonia. E já que não mais retornaremos a este lugar.

Todas as entradas e saídas da igreja, assim como as vidraças multicores com pinturas religiosas sobre o vidro depois de a des-coberta da irmã Ivani empalada e crucificada na porta de entra-da, além de o achado do pingente da Madre Superiora numa de suas torres, a mando do tenente Ozias pela ordem do major Ar-mindo, foram lacradas. Serviço realizado com grossas chapas de madeira compensada para que ninguém mais pudesse entrar e destruir evidências a respeito de achados tão preciosos. Lugar que, os doutores paulistas e cariocas já tinham investigado, con-tudo, resolveram por bem manter tudo selado como o haviam encontrado, para, por se acaso, necessitassem passar outro pente fino mais adiante.

Sabrina guiou a irmã e o Peter para que entrassem por uma das muitas grades de ferro de forma retangular de pouco mais de metro e meio que servia de arejamento à igreja através do enor-me porão. O lugar por onde Sabrina sempre entrava na igreja, encontrava-se num dos cantos nos fundos do terreno onde so-mente havia mato alto. Sabrina puxou a grade facilmente com as mãos deixando-a de lado no chão; a grade já estava solta. Sabri-na toda vez que ia para o túnel deixava-a apenas encostada para que ninguém notasse de que não se encontrava fixa no lugar. A seguir, na maior facilidade, puseram as mochilas para dentro do vão onde instantes antes havia a grade, pondo-se para dentro eles mesmos na maior rapidez. Sabrina sabia muito bem o que estava fazendo, pois por muitas e muitas e muitas vezes realizou essa proeza, devido à igreja permanecer quase sempre de portas trancadas a chave. Sabrina nunca se esquecia de encaixar a grade no seu devido lugar quando já dentro do porão.

— Antes de penetrarmos mais para o fundo do porão e a escuridão nos cegue, vamos sacar das mochilas as nossas lanter-nas. Você a sua eu a minha e o Peter a dele. — Explicou Sabrina à plena ciência.

Em cada mochila havia duas lanternas de oito pilhas de luz florescente, várias lâmpadas de reserva por se acaso alguma das que tivessem nas mãos queimasse. Seis pares de pilhas de dupla carga, uma garrafa d’água de meio litro, dois lanches de pernil defumado para que não se estragassem no caminho, algumas frutas secas, chave-de-fenda, alicate, estojo de primeiros socor-ros, dois sinalizadores e um agasalho leve de lã para vestir pôr se acaso sentissem um pouco de frio durante a amalucada jornada.

— Vamos adiante até aqueles três degraus de pedra — ob-servou Sabrina, iluminando-os com sua lanterna. — Foi fácil a chegada até eles. À altura do teto era quase da altura das irmãs, apenas o Peter teve de agachar-se um pouquinho mais.

Galgados os três degraus, um alçapão com tampa de madeira de lei surgiu-lhes a frente e quatro mãos empurraram-no para cima e para um dos lados:

Atravessaram-no.

Pronto, já se encontravam no interior da igreja por debaixo do altar-mor: coisa bem fácil de se fazer. Antes de eles saírem de debaixo do altar, Sabrina recolocou a tampa do alçapão no seu devido lugar com cuidado para que ficasse novamente invisível desde o interior da igreja. O encaixe era perfeito e acompanhava o sentido das taboas do assoalho do altar. Ao saírem debaixo dele de lanternas acessas nas mãos, a total escuridão afastava-se um pouco deles: a luz forte das lanternas permitia que todos fossem em frente. Pelo menos enquanto eles ali permanecessem de lanternas acessas.

— Sabrina. . . — chamou Sophia, continuava receosa, mas com o que poderia ser? — tu tá sabendo direito o que tu tá fa-zendo?

— Vai-te catar maninha, se eu não soubesse como é que terí-amos entrado na igreja, por obra do Demo?

— Cretina, você adora me deixar com medo a toda hora, né!

— Vamos abandonar este papo furado, sigam-me. . . — re-clamou Sabrina e seguiu em frente na direção do facho de luz criado por sua lanterna.

O silêncio dentro da igreja era sinistro, assim como a escuri-dão total que as duas irmãs e o Peter sentiram na pele e no san-gue quando entraram na igreja por debaixo do altar antes de acenderem as lanternas. Com as mochilas nas costas, os dois medrosos foram em perseguição à Sabrina. O que mais Sophia e Peter poderiam ter feito. Retornar por onde entraram para pegar o helicóptero no pátio e voltar ao camping sem a irmã. O que diriam ao seu pai, mas, e se o helicóptero já tivesse sido levado pelos funcionários da empresa? Sophia se martirizava silencio-samente.

Deixando o altar-mor para trás, Sabrina, iluminando os seus próprios passos abriu caminho na escuridão até alcançar pelo corredor central a porta de entrada da igreja bloqueada pelos tabiques. Sabrina dando um giro de quarenta e cinco graus à direita seguiu com lerdeza acompanhando a primeira fileira de bancos na direção da entrada e de a subida a um dos campaná-rios, seguida sempre de perto pelos seus acompanhantes mais do que assustados. Sophia e Peter iluminavam os mesmos pontos de luz da lanterna de Sabrina em pleno silêncio, quando:

— Já estamos quase chegando, em dois minutos mais ou me-nos penetraremos no túnel que lhes falei — disse Sabrina que-brando o monótono nada de nada no meio da escuridão. Ao dirigir o feixe de luz da sua lanterna para o alto da igreja, um bando de enormes morcegos voou numa agitada disparada, mas para onde?

— Como é que esses morcegos conseguem entrar e sair daqui se está tudo lacrado? — perguntou Sophia, agora sim aterroriza-da de vez e, de novo, à cabeça veio-lhe o pensamento de sair chispando pelo lugar por onde eles entraram.

— A entrada da caverna encontra-se logo ali na nossa frente — observou Sabrina indicando o lugar com um sutil aceno de cabeça.

Sophia permanecia em silêncio de respiração ofegante, não conseguia ver entrada de caverna coisa nenhuma. Tudo para ela era muito estranho e funesto. A ideia que a fazia sentir-se ate-morizada com a irmã mantinha-se fremente em sua mente, prin-cipalmente no seu pequeno, mas bondoso coração ao contrário de o da sua irmã.

— Estás vendo esta porta, ela se move para os dois lados, veja — disse e a movimentou violentamente com uma das mãos —, contudo, reparem bem, junto as enormes dobradiças há uma espécie de trilho.

— Ele é quase invisível — exprimiu Sophia, cética de que aquele troço fosse realmente um trilho.

— Exato, contudo, têm uma única finalidade, vejam! — Sa-brina com a chave-de-fenda curta de ponta larga que trouxera na mochila, a enfiou num minúsculo rasgo que havia na parte de cima de um tipo de fechadura e maçaneta. Ao gira-la cinco ve-zes à direita e quatro vezes a esquerda, explicou-lhes a seguir: — agora é apenas uma questão de instantes. — Ao retirar a chave-de-fenda de onde por instantes permanecera encaixada, aos pou-cos a porta foi se elevando até chegar ao seu batente, e isso acompanhada de um leve zunido de motor síncrono-elétrico movido a baterias. Quando paralela ao batente e já parada, Sa-brina se manifestou mais uma vez.

— Sinta a mágica, irmãzinha — aos pés dos três aventurei-ros, um alçapão parecido àquele por onde eles entraram na igre-ja, afastava-se sozinho para um dos lados. — Sigamos em frente, vamos descer — intimou Sabrina, sapiente —, nós vamos descer por uns duzentos degraus; ao final deles encontraremos o nosso pretenso túnel. O primeiro deles.

Ao irem pisando no primeiro segundo e terceiro degrau, o peso de todos eles, fez com que o alçapão fosse retornando a sua origem e, de que, a porta descesse e se tornasse novamente a porta vaivém que Sabrina de início havia revelado a irmã e ao Peter. Ao chegarem ao fim da escadaria esculpida no próprio granito da montanha embaixo da igreja, Sabrina, com o isqueiro que também trouxera na mochila, aproximando-o a um apetre-cho parecido a pia de água benta ou batismal de igreja, acendeu o líquido que por lá se encontrava. Imediatamente uma régua de chamas subiu pela parede até atingir uma canaleta de pedras grudada umas às outras quase na altura do teto que, ao incendi-ar-se, iluminou o ambiente, um corredor, ou melhor, um largo e comprido túnel no formato de um paralelepípedo regular. A se-guir, Sabrina repetiu o mesmo trabalho no outro lado da parede. Sophia e Peter continuavam calados, contudo, Sophia ainda se mantinha cismada.

— “Como é que Sabrina sabe tão bem de todas estas coisas”, arrazoou Sophia encucada.

— Eu já te disse isso lá em casa, maninha sei de tudo porque eu o descobri e estive por aqui por vezes que já perdi a conta. E isso, alguns anos após a nossa chegada ao colégio, quando ainda pequenina. — Sabrina adivinhou os pensamentos da irmã, no entanto, não lhe revelou a origem de o seu saber. — Vão pres-tando bastante atenção em tudo o que for sendo iluminado pelas chamas das canaletas e deixem de serem tão medrosos — tornou a recriminar a, a mais do que assustada irmã. Já quanto ao Peter, nem se diga. — Tudo o que vocês irão ver daqui pra frente não foi feito pelo homem a não ser a disfarçada entrada da igreja para o túnel e as escadas de pedra por onde nós passamos e, por quem ou de o porquê, eu não tenho a mínima ideia, assim como também eu não quero nem saber. Morou na filosofia querida irmã? — Bem-falante, ia descrevendo o que de impressionante se via no começo do túnel com calculada frieza. — Eu mesma ainda não compreendo o assunto muito bem, mas cada dia que aqui permaneço por várias horas, a luz da sabedoria aprofunda-se no meu ser com mais e mais intensidade abrasando-me o cé-rebro. . . bah. . .! — Após o comentário que era mais um desaba-fo do que outra coisa tentou desatar o próprio comentário pro-porcionando-se uma pausa, mas para o quê: bem, apenas ela própria, a Sabrina sabia disso. — Gente, por enquanto nós já podemos desligar as lanternas. — Observou Sabrina suavizando suas palavras —, teremos um pouco mais de vinte minutos de luz produzida pelas chamas das canaletas acima de nossas cabe-ças. Depois elas se apagarão e, novo combustível será reposto automaticamente nas pias pronto para ser aceso novamente as-sim que necessitemos de mais luz. Há pias de espaço em espaço para serem acesas por todo o longo percurso. As canaletas se estendem por vários quilômetros. A partir do seu fim, é que, teremos que acender as nossas lanternas novamente, pois por mais um longo trecho a escuridão será total. Sophia, Peter, ou-çam-me, as paredes até o término da luz das chamas das canale-tas formam um tipo de cemitério vertical com milhares de gave-tas com corpos de seres de outro mundo, hibernando, mumifica-dos ou mortos, hã, tal vez seja isso mesmo? Sei lá, eu? Antes que pergunte, digo-te, maninha, ainda não me forneceram a in-formação de quem eles foram ou são e, de o porquê se encon-tram enclausurados nestas urnas. Entretanto, uma força e uma vidência inexplicavelmente maravilhosa mesmo, como eu disse antes, cada vez que penetro na caverna que logo mais irão ver, ou mesmo quando caminho pelo túnel, aos poucos sou presen-teada por um poder que, ainda não tenho permissão para mos-tra-lo a você irmãzinha. Podem olhar as urnas à vontade, quan-do se chega a certa distância da gaveta que se vai olhar, ela fica transparente e iluminada. E digo ainda mais, porque elas estão aqui, também ainda não sei. Na caverna há milhares de coisas muito estranhas de escrita mais estranha ainda. Peças que um diretor de museu natural adoraria possuir para revela-las ao mundo inteiro no intuito de ficar milionário. Na minha primeira visita a caverna, me deparei com uma espécie de livro negro que, em realidade não se trata de nenhum livro. Apenas me pa-receu que ele fosse isso. Soube disso depois de levantar o que imaginei ser a capa e olhar para dentro. Foi aí que senti um troço esquisito, um tipo de lufada morna de ar sem cheiro algum, o suficiente para que uma espécie de possessão me abarcasse o espírito: foi como se fosse. . . como se fosse uma aura ao contrá-rio; alguma coisa penetrou em mim por minhas narinas até se chocar com o cérebro cingindo meus miolos. Que sabia eu. Con-tudo ainda continuo sem saber ao certo, por enquanto!

Afirmava Sabrina.

Sophia, curiosa, chegou para mais perto de um dos cubículos para xeretar. Olhou-o se iluminou e, lá estava o que se parecia ao corpo nu de um clone humano do sexo feminino de cabeça um tanto triangular sem orelhas. Os braços e as mãos eram se-melhantes às mãos humanas também com cinco dedos, mas de pés parecidos aos pés dos patos.

— Nossa que coisa mais ridícula, porque os olhos redondos e enormes são projetados para fora da face?

— Como eu já disse maninha, eu não tenho a mínima ideia disso, por enquanto, repito! Quem sabe algum dia eu chegue a descobrir quem são esses seres, o que queriam de nós e de onde eles vieram. Um dia tal vez eu chegue a sabê-lo? Basta de con-versa tão desnecessária, vamos começar a nossa caminhada, ainda temos um longo trecho a percorrer.

Depois de uma longa caminhada seguindo as canaletas ilumi-nadas pela luz das chamas e, dos milhares de urnas, chegaram ao fim do túnel onde as mesmas canaletas que lhes serviu de luz durante o trajeto, encerravam a sua função. Adiante de onde eles se encontravam, só havia escuridão.

Os três jovens tornaram a acender suas lanternas.

— Eu tomo a frente, o túnel é em descida bastante acentua-da, mas sem obstáculo algum, não se preocupem com o chão, ele não é escorregadio.

O túnel de uma circunferência perfeita possuía uma estreita passarela rugosa que se movia magneticamente para frente numa lentidão estonteante sem tocar o que devia ser o chão da circun-ferência do próprio túnel. O impressionante era que, o túnel não apresentava uma única curva sequer até sua chegada à gruta como Sabrina lhes comunicou quando chegaram ao fim do ca-minho iluminado pelas canaletas. O túnel estava construído numa total linha reta e, desde onde ele começa, ou seja, debaixo da igreja do colégio das freiras até sua metade era sempre em descida e, de que, mais adiante, continuava em subida até a gru-ta descrita por Sabrina no interior das terras do Camping Sigma entre montanhas e vales.

— Maninha, será que eu estou ficando biruta, porque o chão está se movendo? — perguntou Sophia assustada. Em realidade, o medo, não se ausentava dela de jeito nenhum, mas do que poderia vir a ser essa ansiedade medrosa e irracional? Ah! Esse sentimento cada vez mais a atacava como se fosse uma psicopá-tica insolência.

— Não esquenta a moringa, maninha, digamos que, se trata de uma espécie de esteira rolante. Um tipo de tapete voador das famosas histórias das Mil e Uma Noites. Vamos subindo nele, como disse antes, a minha pessoa continua indo a frente.

As paredes apresentavam-se mais lisas do que o vidro cheio de símbolos esquisitos, sendo que, alguns se pareciam a letras gregas: apenas se pareciam. Um pouco mais de quarenta minutos de rodagem pelo que imaginaram ser o tapete mágico das lendá-rias estórias Das Mil e Uma Noites contadas pela recém-casada Sheherazade com o rei Shariar na antiga Pérsia. Sophia observou que, logo adiante deles bem acima de suas cabeças depois de rodarem por tempo indefinível, alguma coisa piscava oferecendo um tipo de luz alaranjada e suave a uma pequena porção do tú-nel na parte de cima.

— Logo ali adiante. . . — observou Sabrina tocando o ombro da irmã com um pouco mais de força para que ela prestasse mais atenção as suas palavras —, existe um mundo diferente dentro do nosso próprio mundo. Você vai se admirar, mas vê se não se assusta ainda mais, hem!

Sabrina tinha razão, depois de ultrapassarem os animaizinhos pisca-piscas em forma de estrelas pendurados no teto por fios parecidos aos fios tecidos pelas aranhas, o túnel a cada metro percorrido pela esteira, magistralmente se alargava mais, mais e mais. Um espetáculo de enorme grandiosidade, aos poucos ia surgindo à frente deles.

— Já podem desligar as lanternas, Sophia, Peter, daqui por diante haverá iluminação natural suficiente, e até demais, já irão ver. Em lá chegando poderemos descansar um pouco, lanchar e hidratar-nos.

Aos poucos o túnel ia transformando-se numa gigantesca caverna artificial de iluminação própria parecida à luz solar, mas sem o seu escaldante calor. Quanto mais iam deslizando pela esteira sempre em frente, mais larga a gruta se tornava. Mais adiante deles, a uns trezentos ou quatrocentos metros, tal vez até um pouquinho mais, um vale profundo majestoso e largo, tão largo que não podia ver-se o outro lado, apresentou-se ante eles exibindo um caudaloso rio subterrâneo de águas lumines-cente aparentemente radioativa. O engraçado era que, o túnel por onde deslizaram pela esteira rolante por quase uma hora se alargou excepcionalmente. Contudo, a esteira seguiu em frente como se fosse uma ponte natural até alcançar o outro lado do gigantismo de coisas presente ante os olhos da moçada, voltan-do a ser o mesmo túnel circular daquele ponto em diante até a chegada à dita caverna no interior do Camping Sigma, insisten-temente apregoado por Sabrina.

— Nossa quem foi que fez tudo isso? — discursou Sophia, surpresa. Peter por sua vez olhava para as irmãs, perplexo. Tre-mia num misto de excitação e medo, contudo continuava sem dizer uma única palavra.

— Provavelmente foram os seres que vimos nas urnas ao penetrarmos no primeiro túnel — à Sabrina não lhe coube à sur-presa, pois visitava essas bandas muitas e muitas vezes e, pelo jeito ela já sabia bastantes coisas de tudo o que os acompanhan-tes, por primeira vez iam vendo admirados. Coisas estranhas por demais:

Muito estranhas, mesmo.

Aos olhos de Sophia e aos de Peter, tudo aquilo era maravi-lhoso. Extasiaram-se ao ver uma infinidade de animais estranhos e engraçados e, o mais pilhérico, era por que todos eles possuí-am a mesma luz própria esverdeada da água do rio: tudo por lá tinha a fosforescência dos materiais radioativos, mas não era exatamente isso o que possuíam: radiação. Nada disso existia naquele incomum ambiente, uma tremenda maravilha inexisten-te na própria natureza terrena fora daquele antro espetaculoso baixo terra.

Observaram dezenas de aves meio-morcego-meio-águia. Santo Cristo! Meio-coruja-meio-carcará, oh, quanta coisa ridícu-la. Surpreenderam-se também com um bicho meio-pelicano-meio-cegonha, meio mais o quê? E ainda havia mais, viram um animal com o tronco de uma bela mulher com cauda de serpente e, em lugar dos braços as asas das águias cabeça branca ameri-cana. Ainda outro de corpo de uma espécie de cavalo com asas de condor metade leão, um cão com três cabeças, outros com o corpo de serpente e sete cabeças. Outros, ainda, com o corpo metade gente e metade bode. Arregalaram mais a vista ao verem um animal com cabeça de touro e corpo de homem e, por aí ia caminhando a coisa toda. Viram animais parecidos a ursos com cabeça de gente, a onças com asas, gatos com pernas de gente, um animal que parecia ser um filhote de dragão soltando fumaça e fogo pelas ventas e boca. Abelhas de cores estranhas, assim como enormes moscas de raias no abdômen nas cores metálico-azul ou alaranjado, tudo fosforescente. Cobras gigantescas com várias cabeças, peixes com braços ao invés nadadeiras entre ou-tras tantas e tantas aberrações muito além da natureza de a pró-pria Terra.

— Vamos sentar-nos para descansar um pouco e lanchar — disse Sabrina cutucando a irmã nas costelas tirando-a do maras-mo que se encontrava apreciando a grandiosa montanha de con-trassensos de criaturas não naturais da crosta terrestre.

— Sim, claro, um lanche, hum-hummm, estou esfomeada, claro, claro. . . vamos lá. . .

— Ei maninha acorda. . . — resmungou Sabrina antes de sentar-se numa espécie de cogumelo cinza com bolinhas pretas e vermelhas da altura de uma cadeira comum. Sophia e Peter fize-ram o mesmo em dois de os muitos que os cercavam pintados de bolinhas coloridas.

— “Até que estas extravagâncias parecidas aos cogumelos são bem macias”, disse Sophia em pensamentos. Encontrava-se extasiada e bastante calma. Por fim em verdade “verdeira” con-seguiu realizar tal proeza:

Sossegar o espírito.

Findo o bem-vindo lanche, saciada a sede e descansados, seguiram rumo a tal gruta dentro do camping sem nenhum outro empecilho ou coisa para admirarem pela esteira rolante, ou me-lhor, dizendo, para admirarem somente os hieróglifos esquisitos pintados nas paredes e no teto entorno da rapaziada na subida até a caverna dentro do camping.

O fim da grandiosa empreitada.

— Em quarenta ou cinquenta minutos mais, chegaremos à caverna que há numa das montanhas dentro do nosso camping — explicou Sabrina na certeza no que dizia —, daqui para fren-te, continuaremos em subida também em linha reta — emendou fazendo gracinhas sobre o fato —, acendam novamente as lan-ternas.

Aos “aventureiros”, Sophia e Peter, os minutos não passa-vam tão rápido como o desejado.

Ao fim:

Ufa! Finalmente chegaram à caverna existente numa das montanhas e vale no interior do Camping Sigma. Era de estra-nhar de que ninguém mais soubesse da sua existência. Porém, tudo o que girava entorno das irmãs gêmeas desde que nasceram era estranho por demais. Sophia ficou por tempo inimaginável observando e apalpando tudo o que de coisas abstratas e bizar-ras por lá existia. Sentia-se maravilhada por tanta, para ela, apra-zíveis novidades, até que, de súbito:

— Sophia. . . — foi dizendo alto sua irmã.

Sophia continuava distraidíssima vendo o montão de coisas interessantes do interior da caverna, contudo, totalmente irreco-nhecíveis para ela.

— Sim!

Respondeu sem flexão alguma na voz.

— Vou ver se tudo está nos conformes para sairmos da gruta, já está ficando um pouco tarde e, tomara que não esteja cho-vendo muito, papai deve estar preocupado pela nossa demora em voltar para casa, e por fim, teremos que aturar mais um tro-nar, maninha estamos de volta sem o helicóptero. Papai vai in-terrogar-nos até a exaustão para saber como conseguimos chegar à mansão do camping desde a cidade a pé!

— Nós diremos a ele que viemos pelo caminho das pedras: de que o Peter, de tanto ouvir falar desse lugar, quis conhece-lo e nós o mostramos a ele: fácil, né! — disse Sophia sem entender direito porque dissera tudo àquilo à irmã.

Coisa fantástica e bastante espirituosa.

A gruta encontra-se encravada no sopé de um desfiladeiro escondido entre duas colinas gêmeas em meio à mata natural ainda intacta (nativa). Um regato navegava silencioso um pouco mais abaixo da entrada da gruta de largura e profundidade relati-vamente baixo no vale chamado de Vale Esperança.

Sophia, ao revirar uma pequena entrada cavada na rocha cheia de teia de aranhas, impossível de se ver o que havia por detrás da teia, bem ao fundo perto do túnel por aonde eles pene-traram na gruta, ao fuçar o espaço onde se encontrava a teia de aranha, encontrou a espécie de livro que a irmã contara que há tempos descobrira, sabe-se lá quando isso houvera acontecido. Contudo, essa espécie de livro se apresentava na cor branca. Nisso Sabrina já estava de volta da sua vistoria para que se mandassem da gruta o mais rápido que pudessem. A escuridão valentemente se preparava com ânsia austera na sua faceira “fa-ce”. Oh. . .! Logo, logo uma vez mais o Sol olharia por poucos minutos para sua eterna amada, a Lua.

Não mais chovia, apenas garoava um pouco.

Sabrina ao ver nas mãos da irmã a espécie de livro que ela mesma encontrara na primeira vez que se fizera presente na ca-verna, só que na cor branca, foi logo soltando a língua, furiosa.

— Onde foi que você achou esta espécie de livro?

— Ali naquele buraco na parede bem na boca do túnel por onde nós acabamos de entrar. — Mostrando o lugar com um aceno de cabeça para o seu lado direito.

— Engraçado, esse buraco nunca esteve aí, mas não mesmo. Conheço esta caverna como a palma da minha mão. — Sabrina falava com certa apreensão e certo tipo de raiva na voz pela surpreendente descoberta da irmã. Sabrina não estava preparada para tal acontecimento, mas é ela, a Sophia? — Parece ser o mesmo tipo de livro que eu encontrei na primeira vez que aqui estive só que o meu é negro, vou mostra-lo a vocês.

Pousando o que parecia ser um livro na cor negra numa espé-cie de altar feito de rocha magmática granular, de profundidade, caracterizada essencialmente por quartzo e por feldspato alcali-no existente no meio do enorme salão da caverna de paredes do mesmo material de o altar, abriu-o para que os acompanhantes pudessem vê-lo.

No mesmo instante, fez-se um silêncio de morte. Os ouvidos de todos zuniram e se taparam como se estivessem congestiona-dos por cera criada e encerrada nos ouvidos nunca limpos; foi uma imediata e total falta de sons. Foi um total vazio de tudo ou de nada ao redor e no interior deles todos que, os desnorteou por completo ao ponto de, quase caírem ao chão como se uma terrível crise de labirintite os tivesse agredido a invulgar insolên-cia. Olharam-se assustados.

Deus! . . .

Puderam imaginar e mais nada.

A seguir, sem avisos ou quaisquer preparativos, sem dar tem-po a nada ou a ninguém, coisa malfazeja de raios e trovões as pencas começaram a cair sobre a cidade e por toda a redondeza de Comendador Levy Gasparian, assim como dentro da caverna onde os jovens se encontravam enfurnados. E havia ainda mais, a mesmíssima coisa acontecia em todas as propriedades da famí-lia das irmãs gêmeas, na cidade ou no próprio Camping Sigma. De onde surgiu tanta ira e tão der repente? Esse fato, as pessoas da região de Comendador Levy Gasparian, os sobreviventes de o que estava acontecendo, nunca iriam sabê-lo.

Mas nunca mesmo.

Minutos depois de os raios e de os trovões surgidos do nada, as paredes e o chão da gruta onde os três jovens se encontravam começaram a vibrar violentamente.

Que loucura.

O único ponto de apoio da rapaziada que balançavam de corpo inteiro era o altar de pedra onde Sabrina pusera a espécie de livro negro minutos antes. Em total desassossego, agoniados tentaram apoiar as mãos no pequeno altar.

Tudo em vão.

— Vamos sumir já daqui; sair deste maldito buraco. . .

Avaliaram Peter e Sophia ao mesmo tempo, contudo, não puderam mais fazê-lo. Um pujante tremor de terra de 9 graus da escala Richter, assolou por completo toda a região entorno da cidade de Comendador Levy Gasparian.

Com ruídos ensurdecedores, o teto e as paredes da gruta iam desmanchando-se aos poucos como se manteiga, ao calor se derretendo fosse. Dava a impressão de que, tudo aquilo parecia areia escorrendo pelos dedos de uma mão fechada, enquanto que, uma cratera enorme ia abrindo-se no chão da caverna por debaixo do altar onde se encontrava o tal livro negro engolindo tudo e a todos para o centro da Terra. Nem tiveram a chance de emitir um só gemido ou um único grito de pedido de socorro que fosse. Nem mesmo um “ai” de horror, se quer.

No Camping Sigma, nem poderia ser diferente, ali acontecia à mesmíssima coisa assim como em toda a cidade de Comendador Levy Gasparian. Tudo estava sendo engolido aos poucos pelos rasgões surgidos no chão por todos os cantos imagináveis ou inimagináveis. Os raios continuavam caindo vindos do nada, pois o céu àquela altura desaparecera por completo do Zênite no meio das nuvens negras carregadas de pura eletricidade. Pura energia inverossímil cheia de maldades.

Pela água gelada e do pesado granizo. . . nem o colégio das freiras ou mesmo a sua igreja resistiu à malevolência da crosta terrestre e a dos mágicos raios vindos do Além. Em poucos mi-nutos quase nada mais restava em pé em toda a região de Co-mendador Levy Gasparian, assim como no próprio Camping Sigma. Os tremores do terrível terremoto irmanado aos raios que, aonde caíam abocanhavam, rasgavam e incendiavam tudo o que, as “lanças” abarrotadas de eletricidade, tocassem. Porém, como por mágica ou por um ato de “Bondade” Celeste, o de o terrível quase apocalipse antinatural acontecido desapareceu. Simples assim! Por que de repente? Para a salvação de poucas almas? De as que merecessem a salvação Eterna. E as que não pudessem salvar-se, bah, essas vão espiar seus pecados no In-ferno. Mas, essa tal “bondade” para algumas almas e para outras não, veio de parte de quem, d’onde ou de o porquê depois de um desastre monstruoso desses?

Como explicar o inexplicável?

O surpreendente total silêncio deu-se mais uma vez. De o mesmo jeitinho que tudo o que foi de ruim surgiu do nada e de repente, também desaparecia de vez num outro repentino e total vazio: minutos e minutos de um silêncio macabro. A seguir, os primeiros gritos de dor, de pavor e de socorro, se ouviam por toda parte fortes. . . doídos. . . detestáveis. . . bah! Como essa insana traição da natureza pôde acontecer tão repentinamente?

— Porque tamanha violência Divina. . . ou não? — indaga-vam-se as pessoas que em tempo razoável após o desapareci-mento do terrível cataclismo aos poucos iam chegando apressa-das à cidade de Comendador Levy Gasparian para socorrer os sobreviventes e, ou os feridos que por ventura ainda fossem encontrados.

O extraordinário da triste cena, foi de que, tal acontecimento deveria ser investigado a sério pela União para se saber por qual motivo a catástrofe não tinha sido detectada pela rede sismográ-fica de os observatórios nacionais situados nas regiões Sul e Su-deste.

A limpeza e desobstrução dos destroços da cidade levou vá-rios e vários meses para a sua quase conclusão; muitos meses, mesmo. Os sobreviventes que tinham parentes em outras partes preferiram mandar-se do local da tragédia para nunca mais voltar ao Inferno que se lhes abrira sob os pés. Os que não puderam fazê-lo pelos mais diferentes motivos, até que, começasse a re-construção das novas casas e edifícios, deveriam continuar abri-gados nas enormes tendas de campanha montadas às pressas pelo exército brasileiro da segunda região com alguma mordomia dentro de as mesmas tendas. Fogões, geladeiras a gás, armários de aço para estocarem os mantimentos doados pelas autorida-des, além de também, receberem a ajuda de milhares de civis, melindrados com o acontecido, assim como roupas beliches e camas, entre as demais coisas de uso pessoal e diário. A ajuda humanitária chegava a todo o momento, o que veio a ser, pelo menos, um grande alívio para a sofrida população de Comenda-dor Levy Gasparian: de os que conseguiram sobreviver ao cata-clismo.

Os mantimentos, a água e os agasalhos, enfim, de tudo o que pudessem imaginar nunca lhes faltou depois de a catástrofe acontecida. Tudo vinha em caminhões, em ônibus ou em carros trazidos por civis, pelas ONGS ou por várias organizações hu-manitárias. Também chegava ajuda dos países vizinhos. Uma das coisas para se admirar foi, de que, o helicóptero Colossos encontrava-se intacto dentro do seu hangar. Nenhuma parede ou telhado onde permanecia abrigado rachou e, ou desmoronou sobre a bela máquina voadora, contudo, somente onde perma-necia em repouso, assim como na pista de decolagem e pouso especialmente construída para o seu uso.

A mesma sorte não aconteceu com o Camping Sigma nem a família Garcia Sanches, o casal faleceu esmagado sob as lajes da grandiosa mansão, assim como, também houve poucos sobrevi-ventes onde ou no que, um dia existiu um belo lugar para o tu-rismo e relax.

Frank P Andrew

fpandrew@msn.com

Frank P Andrew
Enviado por Frank P Andrew em 28/08/2023
Reeditado em 29/08/2023
Código do texto: T7872208
Classificação de conteúdo: seguro
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