A morte nos ampara
Numa tempestade demasiadamente demorada, parou um ser alto, grande e magro em frente a uma porta. Toca a campainha.
-Olá, posso te ajudar?
-...
Está tudo bem?
-...
-O senhor ou a senhora é mudo(a)?
-...
-Quer entrar?
-...
-Posso saber o que o senhor(a) quer? Pois bem vou me retirar, com liçen...
-Eu trago uma notícia.
-Que seria?
-A morte chega para todos, mas ninguém quer ir até ela.
-Eu trago a dor, alegria, renascimento e a transformação.
-O que você traz para mim?
Perguntou o ser.
Um grande silêncio invadiu a varanda, e as perguntas cessaram por ali mesmo. Quem seria aquele ser que não possui gênero, que não é homem e nem mulher. Ela mesma a morte.
-Por favor não me leve! Eu não posso ir embora! Sou tão jovem!
-Você me chamou e eu vim
-Quem é você!? O que é você!?
-Você sabe quem eu sou. Eu sou o contrário da vida, o fim dos ciclos e o fim de tudo. Sou tudo aquilo que você ainda não conhece.
-Por favor! Eu não pertenço a você!
-Você não pertence a nada e nem a ninguém. Diante de tanta grandeza você é somente um grão de nada, você não é nada.
-Mas não pode ser agora, essa não é a hora!
-Não existe hora para mim, mas existiram muitas horas para que você pudesse viver, mesmo sendo nada teve tudo para sentir, sorrir e existir... como pode ser nada e exigir tanto.
-Não pode ser...
-Não se preocupe, depois da vida, há muitas coisas a sua espera, há muito espaço para você se sentir grande e bela.
Uma grande luz cobre tudo, e lá se vai mais um ser atormentado pela dor e pelo esquecimento de seu próprio viés.
-La mort est la seule certitude, de tout sont les incertitudes et nous sommes le doute.