Sonho - As Engrenagens da Locomotiva

O barulho ensurdecedor da locomotiva tirou o garoto de seu sono pesado, olhou para os lados tentando entender como havia parado ali, apenas seus braços fortemente amarrados o impediam de cair nos trilhos que se moviam assustadoramente rápido abaixo de si. Não sabia para onde estava indo, um desespero súbito tomou conta dele, com força mordia as grossas cordas que o prendiam ao trem, sem sucesso forçou-se a continuar até que a corda de seu braço esquerdo cedesse.

Quando a corda arrebentou quase perdeu o equilíbrio, por pouco não caiu para a morte certa, com punho firme agarrou-se, precisava soltar o outro braço e sair daquele lugar, não sabia se alguém estaria esperando-o quando o trem parasse e não conseguia lembrar de qualquer rosto conhecido. Com esforço liberou seu outro braço, de lado observava os trilhos girando e se movendo com uma náusea chata e entorpecente, tinha que esperar o momento certo para se soltar, mas quanto mais pensava nisso mais o medo tomava conta.

Tentou ver se havia alguma curva, mas a frente baixa do trem impossibilitava a visão, com um longo suspiro soltou as barras que o mantinham preso a locomotiva, encolheu os membros receoso e fechou os olhos com força, apenas ouvia o barulho das engrenagens girando ao seu redor como uma orquestra de percussão.

Ao ouvir o barulho diminuir, levantou-se, mesmo meio tonto observou o trem subir um pequeno morro. Sua cabeça girava tanto que ao tentar se distanciar tropeçou nos trilhos e caiu em uma valeta, só agora percebia o quão machucadas estavam suas pernas, as panturrilhas esfoladas do impacto dos trilhos estavam em carne viva, a cada passo mais sangue escorria e maior era a dor.

Com dificuldade rastejou para fora da valeta, agarrou-se em uma cerca de madeira e observou os arredores, um enorme campo de trigo dava lugar a uma floresta e em meio as árvores, erguia-se um velho galpão enferrujado.

Assim que sentiu os primeiros pingos de chuva foi até lá, mesmo não sendo muito longe era difícil caminhar naquela situação. Tentou abrir as pesadas portas, mas sem sucesso, os braços ainda roxos eram quase inúteis. Apoiou todo seu peso sobre as portas, que cederam e o derrubaram em um chão duro de madeira coberto de fios feno.

O lugar caia aos pedaços, mofo cobria o alto das paredes e a madeira putrefata em alguns lugares exibia uma clara imagem da floresta do lado de fora permitindo que o vento frio entrasse e lhe gelasse os ossos.

Andou lentamente até o fundo daquele galpão e aninhou-se em um monte de feno. Algumas gotas caiam sobre seu rosto, mas o cansaço e a ansiedade eram tantos que tomavam conta de seus pensamentos e nada mais daquilo importava.

Com um último suspiro fechou os olhos, sem saber se algum dia iria acordar...

DIANA FLORES PELLIN
Enviado por DIANA FLORES PELLIN em 03/08/2023
Código do texto: T7852427
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