BANDEIRA DOIS

Ednéia era uma mulher sozinha num relacionamento infeliz e inconstante. Se sentia invisível, uma sombra, somente uma necessidade para horas necessárias.

Sabia ser uma mulher bonita, mas a aos olhos do seu companheiro não se sentia atraente. Se enfeitava, perfumava, armava sua mulher de toda flor, nobreza e desejo, mas não era a perdida que o satisfazia.

Se olhava no espelho, pois só assim sentia o prazer que poderia ter daquele que mostrava a mulher que pulsava por um homem imaginário que a satisfizesse nos seus mais íntimos segredos.

Sentia que o homem que estava dentro daquela casa, tão ausente, não havia permitido a intimidade que os fariam unidos, pele, desejo, sentimento. Ele havia se fechado no seu mundo pequeno em que usava as mulheres para satisfazer somente ao seu ego, como se elas existissem para serem usadas e esborradas pelo seu líquido cheio de química sem amor.

Em seus momentos de revolta o via como um nada, como um verme doentio, cheio de defeitos, incapaz de ser, dar, doar, amar de verdade, numa insensatez vergonhosa de um macho fraco, ignorante, incapaz de enxergar a grandeza de uma mulher, seja ela a da casa ou a da rua.

Aí vinha a doença dele, e ela se permitia a ficar a seu lado por questões humanitárias.

Sentia como se ele nunca tivesse amado ninguém, porque se amasse de verdade, não a prenderia debaixo de um teto, daria a liberdade e iria viver o que realmente o satisfazia, a sua fraqueza doentia e cruel de macho mentiroso, falso e perdido.

Ednéia se olhava, admirava, questionava, relutava e o tempo passando.

Ela, uma mulher só, poderia sair disso, largar tudo, mas, o que construíram, os bens, ele não abriria mão de nada, precisava da coragem ou da justiça, a dos homens ou da Divina para sair dessa solidão a dois.

Ana Amelia Guimarães
Enviado por Ana Amelia Guimarães em 04/07/2023
Código do texto: T7828932
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