Botinas de Bonifácio

A ideia era inusitada e cheirava a promissora: minerar esmeraldas em Santa Terezinha de Goiás. E foi sob esse ânimo que meu colega Laranjeira me convidou ao seu apartamento, na Asa Sul, para conhecer o geólogo Bonifácio, de quem se aproximara por alguma razão que nem cheguei a especular. A vida tem suas surpresas e nos convém fazer as escolhas. As mais certas, de preferência.

Já tínhamos ambos concluído nosso primeiro périplo

pelo exterior e, embora salvados nossos caraminguás, de forma tácita, pelo menos, convínhamos que não se faz fortuna na diplomacia.

As gravatas, por exemplo, andavam custando os olhos da cara…e nada estava a indicar que aquele no górdio deixaria de ser asfixiante nos anos vindouros.

Acho que tivemos uns bons três encontros sob a batuta do surpreendente geo-guru. A cada ocasião, Bonifácio ia dando as coordenadas, com o faro e a pertinácia de quem sabia cercar a franga. Chegamos até a estimar o custo de um trator, que seria peça imprescindível na movimentação de solos. Outros implementos, claramente, seriam necessários. Até mesmo botinas, semelhantes à de Bonifácio.

Mas justamente foi nelas que o plano esbarrou: a Senhora de Laranjeira, vetou, peremptoriamente, aquela incongruência informal rangendo despudoradamente em seus lustrosos tacos de peroba.

E Santa Terezinha o milagre, quero crer, simplesmente adiou.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 18/06/2023
Reeditado em 03/10/2023
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