Primípara idosa...
...era assim, parte do índice daquele telegrama à Secretaria de Estado das Relações Exteriores (para nós, a SERE), que solicitava autorização e correspondentes recursos para o deslocamento da Assistente de Chancelaria Ivonete, de Varsóvia a Brasília para dar à luz seu bebê, fruto de sua união com o congolês-zairense Kassange. E o corpo do telegrama, esmiuçando, explicava o resto:
A Polônia, naquela primeira metade dos anos de oitenta vivia o caos da insatisfação popular e do desabastecimento, que se agravara, a ponto de faltar algodão e mesmo papel higiênico nos hospitais. E os estrangeiros, mesmo se em missão oficial no país não eram tratados equanimamente na distribuição ou no acesso ao miserê que não só distinguia cor dos olhos ou da etnia.
E a SERE se convenceu, liberando passagens para a gestante e seu companheiro. O que não me alcançou saber foi se a originalidade formal do referido índice pesara mais na decisão do que uma mensagem também telegráfica, mas particular, do então Chefe do Posto, Embaixador Armindo Cadaxa, gestionando pelo pedido. Ambas mensagens, inobstante, certamente redigidas por meu colega de profissão, mais antigo e portanto meu superior hierárquico, René, que mas mostrou, a posteriori, orgulhoso daquele fait-accompli...
Como pretenso latinista de meia-tigela entendi bem o título, e ainda com mais ênfase, aplaudi o colega, que nem havia passado pelo seminário como eu. O que lamentei, contudo, foi que um ano antes, quando eu já estava lotado em Varsóvia e ele ainda em Kingston, na Jamaica, servindo então com o mesmo Embaixador Cadaxa, não ter podido contar com a sua habilidade redacional para encaminhar semelhante pedido em favor de Lina, minha mulher, indonésia, grávida de nossa filha única Jolie. Só que, embora também primípara, Lina tinha a metade dos anos de Ivonete...o que na oportunidade, deu azo à SERE de acenar com um deslocamento até a Suíça, notoriamente dotada de melhores recursos médicos, entretanto, sem a perspectiva do calor humano que Lina receberia em Jacarta. E numa hora daquelas avó conta mais que hospitais...