Palavras por conta e risco.

Faça um texto para ninguém, para o gosto permanecer intocável. As palavras que sem um destino ficam atrapalhadas serão, por fim, libertas de nossos superficiais julgamentos. A maçã poderá ser cenoura e a fome poderá ser alimento. A morte poderá se disfarçar de vida e a traição será sua melhor amiga. Palavras ao vento, filhas do caos, corresponderão a si mesmas, significando o que o momento diga. Abençoado aquele que estiver no caminho, mas apenas se tiver olhos e ouvidos atentos, porque essas palavras são invisíveis para aqueles que pensam demais. Mente vazia é a condição para sua leitura que, se lograda, desperta a alma. É um risco de vida saboreá-las, principalmente para aqueles que buscam o belo, pois sem as amarras, as palavras mais doces são as mais amargas, inclusive venenosas. É preciso estar disposto a se entregar ao abismo para ler e viver essas palavras. O perigo maior mesmo fica para aquele que logrou escrever para ninguém, o que é um desafio homérico, pois este, desprovido de apego, fica só, tendo que lidar com suas sombras, pois o fruto das palavras livres é a verdade, e este é o maior obstáculo para aquele que aceita este desafio. O primeiro monstro que surge em seu interior é a própria morte, o segundo é o infinito e o terceiro, só quem escrever saberá. Fato é, que nas duas pontas da corda, temos dois desesperados, aquele que jogou palavras para ninguém e o ninguém. Pobres criaturas que não entendem que, no fim, são as próprias palavras, são criação das mesmas e, em sua ilusão de existir, sofrem e choram. O verbo mesmo os criou e agora, diante da morte, eles também se tornam palavras criadoras de mundos. Entre tantos perigos que enfrentamos até aqui, aceite um conselho de amigo: não olhe para trás agora. Talvez vá sentir uma suave respiração em seu pescoço ou um olhar furtivo no seu canto de visão. Repito, não olhe para trás, pois o que você passará por chegar até aqui é apenas um entendimento. Essa presença é apenas o seu outro eu, de outros mundos com outras histórias, o reflexo de cada decisão não tomada que gerou um mundo próprio. Sei que está com medo, mas confie nas palavras. Estas palavras que estão aqui foram você mesmo que criou em outro plano. Quem está atrás? É sua própria criação. Por isso, controle o medo e saiba que caso seu destino seja a morte, ela foi criada por você mesmo e que, provavelmente, ela só é o amor usando outra roupa.

montezyin
Enviado por montezyin em 07/05/2023
Código do texto: T7781944
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