O VELHO ESQUÁLIDO DE TEZ AMARELADA
Naquela manhã fria e chuvosa, um homem velho e esquálido de tez amarelada que demonstrava claramente a vigência de uma dor que lhe causava grande sofrimento, entrou em um bar e pediu uma cerveja.
Andava trêmulo e devagar como se contasse os passos. Se alguém o estivesse observando, diria que ele tinha o sinistro aspecto doentio de um strigoi.
Ficou ali por horas, sentado em uma mesa de frente para a rua. Era certo que sua mente doentia maquinava alguma coisa, quem sabe talvez um crime de morte. A sua tristeza intrínseca estampava-se nos seus olhos azuis avermelhados.
Quem tivesse o dom de ler mentes, certamente iria despencar dentro do poço obscuro de seus pensamentos. Saberia que lhe martelava a certeza de que sua mulher o estava traindo, embora ele mesmo não aparentasse ser vítima de um abominável adultério. É provável e certo para um homem que não exista dor maior do que essa.
Logo chegaram os jornais com a notícia fatídica. O bar tornou-se um burburinho só. Debatia-se nas mesas o assunto do dia. Um casal teria sido atacado brutalmente na noite anterior em um quarto de hotel que ficava bem ao lado daquele mesmo bar. Os corpos estavam estrangulados em cima da cama e aparentava, segundo a polícia, que teria sido um crime passional, pois conforme havia sido apurado junto ao gerente do hotel, as vítimas se encontravam frequentemente ali, como se fosse às escondidas. Já era sabido que a mulher era casada e estaria tendo um caso extraconjugal com o homem. É possível que o marido traído os tenha seguido e os flagrados em pleno ato libidinoso.
A cena do crime era esta: o casal estava nu em cima da cama. Garrafas de bebidas e duas taças de vinho ainda pela metade em cima de uma mesa. Não havia sinal de arrombamento, nem sinais de luta. Era como se o casal tivesse sido surpreendido e não podido sequer ter tido tempo de saber o que os teria atingido. Ambos estavam semi degolados com as gargantas rasgadas como por garras afiadas. O que mais impressionou os paramédicos e os peritos forenses, foi a total ausência de sangue nos corpos, como se tivessem sido totalmente drenados.
O velho esquálido de tez amarelada fez sinal ao garçom e pediu mais uma cerveja. O frenesi causado pela notícia do crime do hotel já havia se acalmado e as pessoas já voltavam a outros assuntos. Finalmente o garçom voltou com a cerveja.
- O senhor vai querer comer alguma coisa, senhor? – perguntou o rapaz se dirigindo ao velho querníctero.
- Não obrigado, meu rapaz, estou farto. Esta noite tive um manjar dos deuses e ainda estou satisfeito.
Quem o estivesse observando desde a hora em que ele entrou naquele bar, teria a nítida impressão de que ele parecia bem mais jovem e saudável do que aparentava ser.