O PULO DO GATO

 

Nossa vizinha era uma senhora nascida na Grécia, que imigrara para o Brasil ainda jovem. Tinha um nome grego que, depois de tantos anos, minha memória não reteve. Outras pessoas a chamavam simplesmente de "a grega". Possuía um gato muito adulado e, como vivia em uma casa com quintal e jardim, o felino circulava livremente por todo o terreno. Às vezes, transitava por sobre o muro que separava nossas propriedades e pulava para nosso lado. Também, passeava por toda a vizinhança.

 

Mamãe e papai tinham viajado para Porto Alegre e, em casa, ficamos meu irmão César que cursava a Universidade e eu, que já trabalhava. Ambos nos ausentávamos por grande parte do dia. Nossos pais iam a Porto Alegre com frequência para cuidar de vovó Bernardina, minha avó materna, que havia sofrido um AVC e estava hospitalizada. Seu caso era grave pois perdera muitos movimentos e dependia grandemente dos filhos e filhas, que se revezavam para cuidar dela no hospital.

 

César e eu voltávamos para casa à noite. Os outros irmãos não moravam em Curitiba. Nessa ocasião, desci do ônibus no fim da rua e fui andando pelas duas quadras até o nosso endereço. Assim que cheguei mais perto, notei uma pequena aglomeração frente à nossa casa. Assustei-me ao ver uma viatura dos bombeiros estacionada bem em frente ao portão. César ainda não retornara e a moradia estava às escuras. Não é incêndio, pensei. O que será?

 

Ao aproximar-me vi que a grega estava agitada, na rua, olhando e apontando para o alto da araucária que ficava em nosso jardim, ao lado da casa. Disse-me que seu gato havia escalado a árvore e não podia descer. Ela, então, havia chamado os bombeiros.

 

Entrei em casa e acendi as luzes do jardim para facilitar o trabalho dos militares. Um dos homens havia colocado uma escada encostada à árvore e subia segurando-se nos galhos até onde estava o gato, que miava assustado. O bombeiro estendeu a mão com uma grossa luva de algodão para apanhar o bichano, mas este sentindo-se ameaçado, pulou do alto da araucária para a rua e se escafedeu.

 

Tanto a grega quanto os bombeiros ficaram frustrados. A mulher foi para casa em silêncio e os bombeiros voltaram para o quartel. A pequena plateia que se formara, dispersou-se.

 

Voltei para dentro, rindo, aliviada por não ter acontecido nada de grave. Pensei: Essa grega é maluca. Montou um circo por nada e ainda envolveu os bombeiros que têm mais o que fazer do que salvar gato em árvore.

 

Durante muitos anos, na minha infância, tivemos um bichano de estimação em casa. Conheço muito bem os hábitos desses animais. Subir e descer de árvores, de muros, cercas e telhados é rotina para eles. Nunca os vi encontrarem dificuldade nisso. Este, da história, não desceu porquê estava muito atemorizado com a presença de tantas pessoas falando e gesticulando. Se o tivessem deixado em paz, teria descido, calmamente. Não teve alternativa, a não ser pular de grande altura.    

 

 

 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 28/03/2023
Reeditado em 29/03/2023
Código do texto: T7751075
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.