QUARTA FEIRA DE CINZAS
Foi tudo tão de repente. Carlos que nunca gostou de carnaval caminhava tranquilamente no calçadão naquela manhã de sábado ensolarado. A rua estava movimentada. Foliões fantasiados convergiam para o local de concentração do bloco que desfilaria em pouco tempo.
Ouvia-se ao longe os clarins e os tambores provavelmente aquecendo-se para o desfile.
Enquanto caminhava Carlos pensava na vida e ouvia músicas no fone de ouvido. Vivia só no Rio de Janeiro e a saudade dos familiares incomodava, sobretudo em época de feriado prolongado em que bem poderia ter viajado para ficar com a família, mais impossibilitado pelo trabalho não pôde fazê-lo.
O desfile do bloco começou e Carlos não deu muita importância, continuando a caminhada. Logo foi alcançado por aquela horda de foliões que dançava e cantava músicas de carnaval. Em pouco tempo toda a rua foi tomada pelo povo que acompanhava o bloco e inevitavelmente teve que interromper e esperar que o bloco passasse.
Colocou-se estrategicamente encostado em um quiosque onde ficou a observar o desfile da agremiação esperando que passasse logo para que pudesse retomar a caminhada.
De onde estava como num passe de mágica no meio daquela multidão notou uma linda mulher que pulava e cantava olhando para ele sorrindo. Não pôde deixar de retribuir com um sorriso, tamanha era a insistência daquele olhar.
Ela saiu do meio do povo e foi na direção de Carlos pegando sua mão e o levando para brincar o carnaval com ela.
Meio deslocado entre aquelas pessoas não teve alternativa a não ser acompanhar aquela linda mulher sem a perder de vista enquanto ela sambava e rodopiava em sua volta.
Terminado o desfile foram tomar banho de mar e acabaram passando o dia juntos. Almoçaram e foram para o hotel onde ela estava hospedada e descansaram durante a tarde.
Ela era só felicidade e alegria. Aproveitava cada momento e procurava divertir-se sempre.
Carlos notou que a mulher tinha um sotaque de fora. Perguntou por curiosidade de onde ela era e a resposta foi:
- Apenas fiquemos juntos, sem perguntas e sem cobranças.
Carlos silenciou e aproveitou sua agradável companhia.
Assim foi durante todo o carnaval.
Aquela mulher o cativou de tal maneira que ao se despedir dela na quarta-feira de cinzas sentiu um vazio repentino como se estivesse perdendo um grande amor.
Foi com ela até a Rodoviária Novo Rio para seu embarque de retorno a São Paulo. A mulher que encantou Carlos entrou no ônibus e da janela mandou-lhe um beijo e disse:
- Adeus lindo arlequim.
Enquanto o ônibus se afastava da estação rodoviária o olhar de Carlos perdia-se no vazio envolto nas lembranças daquela colombina que o encantou naquele carnaval e partiu sem sequer falar seu nome.