ESTIMA QUE PREJUDICA
Dizem que quando a pessoa é muito sovina, apegada aos bens materiais, daquelas que fazem questão de tudo, quando morrem, ficam penando sem ter a consciência de que já não fazem mais parte desse mundo e que tudo aquilo que amealharam durante a vida não servem para mais nada.
Dizem também que com o passar dos anos essas pessoas vão definhando aos poucos, sofrendo muito, ou então morrem de desastre e por conta de não se conformarem com a morte, as almas ficam penando no meio dos vivos.
Os mais antigos, no dia da mudança, pediam ao padre da paróquia para dar a bênção e muitos pediam que além da água benta ele levasse o turíbulo para incensar todos os cômodos da casa nova, a fim de desalojar qualquer mal-assombrado.
Dona Angélica, amiga da família de longas datas, contava que numa das vezes que ela se mudou, era uma quinta-feira, mas o padre só podia vir dar a bênção no dia seguinte.
Mudança feita, casa arrumada, jantaram as sobras do almoço, que tinha sido comprado num bar que ficava na esquina da rua, e foram logo para a cama. Afinal todos estavam moídos de cansaço pelo esforço de carregar móveis e montar tudo nos devidos lugares.
Dona Angélica por ter ficado lavando a louça foi a última a tomar banho. Todos já estavam dormindo, inclusive seu Batista, marido dela e, quando ela entrou no quarto, estava sentada na banqueta da penteadeira uma mulher ainda jovem, vestida com roupas de festa, cabelos penteados para cima da cabeça, com um colar vistoso de pedras coloridas no pescoço. Levantou-se e falando diretamente para ela disse:
- Não quero gente estranha na minha casa. Pode pegar suas coisas e vá embora hoje mesmo.
O detalhe interessante é que não havia imagem refletida no espelho da penteadeira.
Quando dona Angélica ela fez o sinal da cruz, a mulher desapareceu e ela, apesar do cansaço, passou o resto da noite rezando o terço.
No dia seguinte, conversando com a vizinha que tinha vindo dar as boas-vindas, dona Angélica contou o caso. A vizinha foi em casa e trouxe um santinho desses que se distribuíam nas missas de sétimo dia com a fotografia da tal mulher.
Ela tinha morrido num desastre de automóvel quando estava voltando de uma festa, morava só, era sovina ao extremo e desagradável com todos.
Depois da bênção na casa e da missa celebrada em intensão da antiga moradora, a visagem nunca mais apareceu...