O "ARTISTA"

O "ARTISTA"

"A necessidade é a mãe

de todas as invenções".

(provérbio antigo)

A vidinha pacata e sem graça do officeboy Zenóbio era um tédio só, no escritório nada acontecia o ano todo, vivia êle num "oceano" de mesmice... menos naquela tarde. Merda de tarde aquela, precisava enfrentar a fila do Banco -- grande coisa, isso fazia êle por "profissão" ! -- para pagar a conta de luz, agora de sua casa ou corriam o risco de ficarem no escuro. Claro que seu patrão não o liberaria para isso, não mesmo... "êle que se virasse na hora do almoço", replicaria o ogro, caso fosse consultado.

Não sacrificou o almoço, a fome era maior que outras urgências e, às 2 da tarde, seu cérebro "maquinava" uma forma de sair da firma e ir a um Banco mais próximo. (Não, leitor metido a esperto, ainda não havia Lotéricas ou, pelo menos, estas não aceitavam contas.) A casa do patrõ estivera em obras, perto dali, e o "faz tudo" virou "pedreiro" por breves momentos.

-- "ZÉ, vá na garagem lá de casa, pegue o carrinho de mão e se livre daqueles pedaços de pau que estão por lá" !

-- "E onde eu jogo isso" ?!, sondou, ressabiado.

-- "PROBLEMA SEUS, jogue em qualquer lugar" !, recebeu "de troco" pela pergunta imbecil.

Partiu conformado, era a chance de quitar sua conta... se demorasse o resto da tarde teria por desculpa ter sido impedido de jogar aqui ou ali. E lá foi o nosso herói, já planejando seus passos. Felizmente havia um Banco perto da mansão "patronal" e a rede bancária fechava às 15 foras, tinha pouco tempo, pouquíssimo, aliás. Encostou o carrinho na parede externa do Banco, um dos madeirames do "entulho" era enorme estrado trançado com ripas de variados matizes, manchado que fôra por tintas diversas. Devido ao tamanho, o troço atravancava a calçada, impedindo a passagem aos clientes do Banco, daí o Zé o colocou em pé, encostado à parede. O restante, estranhamente, eram pequenos retângulos ou quadrados de chamativo aspecto, expostos à curiosidade dos pedestres e clientes da Agência bancária. Alguns até paravam para "admirar a Exposição" involuntária, olhando com pena o artista desesperado.

-- "BELO TRABALHO, hein, moleque... quanto custa este aqui" ?!

Zé arregalou os olhos, franziu a testa, sem acreditar que a madame falava com êle ! Afinal, o uniforme da empresa, com casaquinho de botões dourados e "boné-canoa" lembrava mais um porteiro de hotel do que reles officeboy mal pago, sua situação no momento.

-- "Como é, garoto, não são para VENDER esses... quadros" ?!

-- "Cla-cla-claaaro, senhora... os menores é trinta e esse maiorzão aqui é cem cruzeiros novos, mas não levo em casa, o frete é por sua conta" !, reagiu o cérebro malandro em segundos, que oportunidade igual só uma em cem anos. O Banco fechou com o rapazote ainda comerciando, "faturou horrores", o salário de 1 mês.

Nem voltou para a firma, foi a pé pra casa, no subúrbio, chegando lá "a altas horas", a mãe preocupada. No dia seguinte pediu demissão... "quase fôra preso POR JOGAR LIXO na rua, mas lhe levaram o carrinho" ! Nasceu ali "OIBONEZ", novo artista plástico.

"NATO" AZEVEDO (em 26/jan. 2023, 5hs)

OBS: mais um SONHO que vira conto, este tendo um "JÔ SOARES" como "marchand" de miniGaleria bem ao lado do tal Banco.